Viajei por toda a Europa com as minhas. Basta abrigá-las em roupas quentes e botá-las no cercadinho. Helen riu disso. Mrs. Dalloway exclamou, olhando para Ridley:
– Isso é bem coisa de pai! O meu marido é a mesma coisa. E depois se fala de igualdade de sexos!
– Fala-se? – disse Mr. Pepper.
– Ah,algumas pessoas falam – gritou Clarissa.– Meu marido teve de agüentar uma senhora furiosa em todas as últimassessões da tarde que não falava de outra coisa, imagino.– Ela sentava-se diante da casa; foi muito desagradável –disse Dalloway. – Finalmente criei coragem e lhe disse:“Minha boa mulher, você está apenas atrapalhando. Está meatrapalhando. E não está fazendo nenhum bem a si mesma”.
– E então ela o agarrou pelo casaco e podia ter arrancado seus olhos – interrompeu Mrs. Dalloway.
– Isso é exagero – disse Richard. – Não, tenho pena delas, eu confesso. O desconforto de sentar-se naquelas escadas deve ser terrível.
– Bem feito para elas – disse Willoughby laconicamente.
– Ah,concordo inteiramente com você – disse Dalloway.
– Ninguém pode condenar mais a total futilidade e tolicedesse comportamento do que eu; e quanto a toda essa agitação, bem, espero estar na sepultura antes de uma mulherter direito de votar na Inglaterra! É só o que digo.A solenidade da afirmação do marido deixou Clarissa séria.
– É impensável – disse ela. – Não me diga que é um sufragista? – virou-se para Ridley.
– Não me interesso nem por um lado nem por outro
– disse Ambrose. – Se qualquer criatura é tão iludida a ponto de pensar que votar lhe faz bem, seja homem ou mulher, pois que vote. Em breve vai aprender.
Vejo que não é político – ela sorriu.
Não, pelo amor de Deus – disse Ridley.
– Receio que seu marido não me aprove – disse Dalloway à parte para Mrs. Ambrose. De repente ela recordou que ele estivera no Parlamento.
– Não acha isso muito monótono? – perguntou ela, sem saber exatamente o que dizer.Richard espalmou as mãos a sua frente como se houvesse inscrições nelas.
– Se me perguntar se eu acho monótono – disse ele –,devo dizer sim; por outro lado, se me perguntar que carreira considero a mais agradável para um homem, analisando tudo, o bom e o ruim, e a mais invejável, sem falar do seu lado mais sério, devo dizer que de todas elas a melhor é a de político.
– Advocacia ou política, concordo – disse Willoughby.
Ganha-se mais dinheiro.
Todas as nossas faculdades são empregadas – disse Richard. – Posso estar entrando em terreno perigoso, mas o que sinto acerca de poetas e artistas em geral é isso: não se pode ser vencido na própria especialidade, é certo; mas fora disso... é preciso dar um desconto. Eu não gostaria de pensar que alguém tivesse de dar descontos para mim.
– Não concordo, Richard – disse Mrs. Dalloway. – Pense em Shelley. Sinto que em Adonais há quase tudo que se possa desejar.
– Leia Adonais sem falta – concedeu Richard. – Mas sempre que ouço falar em Shelley repito as palavras de Matthew Arnold: “Que conjunto! Que conjunto!”Isso chamou a atenção de Ridley.
– Matthew Arnold? Um pedante detestável! – disse ele asperamente.
– Um pedante,sim – disse Richard –,mas um homem do mundo. É aí que vem o que eu acho. Nós, políticos, semdúvida parecemos a vocês (ele entendeu de alguma formaque Helen representava as artes ali) um conjunto de pessoasgrosseiras e vulgares. Mas nós vemos os dois lados; podemosser rudes, mas fazemos o melhor que podemos para compreender as coisas. Mas os seus artistas acham coisas desordenadas, dão de ombros, viram-se para as suas visões... quepodem ser muito bonitas, devo concordar...
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