Estávamos no convés, agradavelmente instalados em cadeiras de balanço. A tempestade da véspera havia limpado o céu. O momento era delicioso.
– Nada sei de preciso, senhorita – respondi –, mas não poderíamos nós mesmos conduzir uma investigação, tão bem como o faria o velho Ganimard, o inimigo pessoal de Arsène Lupin?
– Ah! O senhor é muito atrevido!
– Por quê? O problema é tão complicado?
– Muito complicado.
– Está esquecendo os elementos que temos para resolvê-lo.
– Que elementos?
– Primeiro, Lupin se faz chamar sr. R...
– Indicação um tanto vaga.
– Segundo, ele viaja sozinho.
– Essa particularidade será suficiente?
– Terceiro, é louro.
– E então?
– Então só precisamos consultar a lista dos passageiros e proceder por eliminação.
Eu tinha essa lista no bolso. Peguei-a e a percorri.
– Noto, em primeiro lugar, que há somente treze pessoas cuja inicial chama nossa atenção.
– Somente treze?
– Sim, na primeira classe. Desses treze srs. R..., como pode verificar, nove estão acompanhados de mulher, filhos ou empregados. Restam quatro personagens isolados: o marquês de Raverdan...
– Secretário de embaixada – interrompeu Miss Nelly –, eu o conheço.
– O major Rawson...
– É meu tio – disse alguém.
– O sr. Rivolta...
– Presente! – exclamou alguém do grupo, um italiano cujo rosto desaparecia sob uma bela barba escura.
Miss Nelly deu uma risada.
– O senhor não é precisamente louro.
– Então – retomei –, somos obrigados a concluir que o culpado é o último da lista.
– Ou seja?
– Ou seja, o sr. Rozaine. Alguém conhece o sr. Rozaine?
Ninguém falou. Mas Miss Nelly, interpelando o jovem taciturno cuja assiduidade junto dela me atormentava, lhe disse:
– E então, sr. Rozaine, não responde?
Todos os olhos se viraram para ele. Era louro.
Confesso que senti um pequeno choque no fundo de mim. E o silêncio constrangido que pesou sobre nós me indicou que os outros ao redor também sentiam essa espécie de sufoco. Aliás, era absurdo, pois nada no comportamento desse homem permitia suspeitarem dele.
– Por que não respondo? – disse o jovem. – Ora, é que tendo em vista meu nome, minha qualidade de viajante isolado e a cor dos meus cabelos, já procedi a um inquérito análogo e cheguei ao mesmo resultado. Portanto, sou da opinião de que devem me prender.
Ele tinha um ar estranho ao pronunciar essas palavras. Seus lábios finos, como dois traços inflexíveis, se estreitaram ainda mais e empalideceram. Estrias de sangue apareceram em seus olhos.
Sem dúvida ele gracejava. Mas sua fisionomia e sua atitude nos impressionaram. Ingenuamente, Miss Nelly perguntou:
– Mas não tem ferimento, tem?
– É verdade – ele disse –, falta o ferimento.
Com um gesto nervoso, levantou a manga da camisa e descobriu o braço. Mas logo uma ideia me atingiu. Meus olhos cruzaram os de Miss Nelly: ele havia mostrado o braço esquerdo.
E eu já ia fazer esse comentário quando um incidente desviou nossa atenção. Lady Jerland, a amiga de Miss Nelly, chegou correndo.
Estava agitada. Todos se comprimiram a seu redor e só depois de algum esforço ela conseguiu balbuciar:
– Minhas joias, minhas pérolas! Roubaram tudo!
Não, não haviam roubado tudo, como soubemos depois; era bem mais curioso: haviam escolhido!
Do broche de diamantes, do medalhão engastado de rubis, dos colares e dos braceletes, haviam retirado não as pedras maiores, mas as mais finas, mais preciosas, aquelas, digamos, que tinham mais valor ocupando o menor espaço. Os suportes jaziam ali, em cima da mesa. Eu os vi, todos nós os vimos, despojados de suas joias como flores das quais teriam arrancado as belas pétalas cintilantes e coloridas.
E, para executar esse trabalho, durante a hora em que Lady Jerland tomava chá, fora preciso, em pleno dia, e num corredor frequentado, arrombar a porta da cabine, encontrar um pequeno saco propositalmente dissimulado no fundo de uma caixa de chapéus, abri-lo e escolher!
Houve um só grito entre nós. Houve uma só opinião entre todos os passageiros, quando se soube do roubo: foi Arsène Lupin! E, de fato, era realmente seu estilo complicado, misterioso, inconcebível...
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