As viagens de Gulliver (Clássicos Ilustrados)
CLÁSSICOS ILUSTRADOS
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Jonathan Swift
Adaptação:
Luiz Antonio Aguiar
Ilustrações:
Roberto Caldas
Sumário
Um olhar diferente sobre a Europa
A guerra dos muito pequenos
O reino dos grandes demais
A ilha voadora
Feiticeiros, fantasmas e imortais
Os houyhnhnms
Anos depois...
Sobre o autor
Créditos
Um olhar diferente sobre a Europa
Durante séculos, a Irlanda sofreu inúmeras invasões. Finalmente, em 1171, foi submetida ao domínio inglês. Em 1541, Henrique VII, soberano britânico, adotou o título de rei da Irlanda e tentou impor reformas contrárias às tradições do país. Com isso, motivou uma série de violentas insurreições populares que tentavam reconquistar a independência.
Jonathan Swift nasceu em Dublin, Irlanda, em 1667. Morreu na mesma cidade em 1745. Foi diplomata, eclesiástico e político, e um defensor de sua pátria. Traduzindo o espírito do seu povo, portanto, não podia deixar de ter um olhar crítico em relação à Europa, que sempre destratou a Irlanda.
Originalmente, seu livro mais famoso intitulava-se Viagens em diversos países do mundo em quatro partes por Lemuel Gulliver, a princípio cirurgião e, depois, capitão de vários navios. De fato, trata-se do relato das viagens aos reinos de Lilipute, Brobdingnag, Labuta e ao país dos houyhnhnms. Alguns desses reinos poderiam ser considerados paródias de nações europeias. Lilipute e Blefescu, eternamente em disputa, representariam, respectivamente, a Inglaterra e a França. A Alemanha estaria retratada no reino de Brobdingnag e a Itália, talvez, no de Labuta. Com isso, Swift desferiria críticas a costumes e características de cada uma dessas nações...
Mas talvez haja um sentido mais profundo em As Viagens de Gulliver. Cada um dos reinos descritos tinha a si como o centro do mundo, a ponto de não acreditar que algo tão diferente dele, como Gulliver demonstrava ser, pudesse existir. Então, em um lugar Gulliver era um gigante, noutro uma miniatura, quase um brinquedo. E mais os hábitos tão diversos, as fantasias e as crenças de cada povo...
Talvez Swift estivesse enviando uma mensagem por meio do seu livro, lançando um apelo à compreensão de que todo povo tem sua cultura própria, que não é superior ou inferior a nenhuma outra, enquanto cada povo se der ao trabalho de conhecer as demais e respeitá-las. Do contrário, o povo fechado em si mesmo, justamente aquele que se julga único e absoluto, esse, sim, por ignorância da complexidade do mundo, cai no ridículo.
A guerra dos muito pequenos
Meu pai possuía uma pequena propriedade no Norte da Inglaterra, mas não era um homem rico. Aos catorze anos, portanto, interrompi meus estudos e tornei-me aprendiz de um famoso cirurgião de Londres, Sr. James Bates. Nas horas vagas, eu estudava navegação e matemática, pois sempre quis sair pelo mundo, vivendo aventuras.
Depois de alguns anos, fui convidado para ser cirurgião a bordo do Antílope, que zarpou com destino aos mares do Sul em 4 de maio de 1699. A princípio, tudo correu bem. Perto das Índias Orientais, entretanto, fomos surpreendidos por uma violenta tempestade. Nosso navio espatifou-se de encontro a rochedos e, até onde sei, fui o único sobrevivente do naufrágio.
Fiquei à deriva por quase uma semana, agarrado a destroços. Finalmente, para minha sorte, enxerguei terra e nadei para lá. Cheguei à praia à noite e desmaiei, exausto. Acho que nunca dormi tão profundamente.
Quando finalmente despertei e tentei me levantar – que surpresa! –, percebi que meus braços, minhas pernas, meu tronco e até meus cabelos estavam presos por uma infinidade de fios, atados a estacas fincadas no solo, que me imobilizavam. Logo senti também que coisas pequenas andavam sobre mim. Pensei que fossem formigas, mas me dei conta de que escutava ruídos, quase um zumbido, que, pelo som, só podiam ser vozes.
Finalmente, e com grande esforço, voltei a cabeça, forcei meus olhos e pude vê-los... Eram tão pequenos que seriam necessários três deles para dar a altura de um dedo meu. Tirando isso, pareciam seres humanos. Vestiam roupas um tanto diferentes das que eu estava acostumado, e não podia compreender a língua que falavam, mas percebi que estavam tão espantados comigo quanto eu com eles.
Havia soltado a mão esquerda e causado uma enorme confusão entre eles...
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