Acho que foi no terceiro dia em que estava comigo, antes que houvesse necessidade de ter o seu trabalho verificado, e estando eu com muita pressa para terminar um pequeno negócio sob meu encargo, que chamei Bartleby abruptamente. Na pressa e expectativa natural de uma resposta imediata, sentei-me com a cabeça inclinada sobre o original na minha mesa, a minha mão direita de lado, e, um pouco nervoso, estendi a cópia para que Bartleby pudesse pegá-la e começasse a trabalhar sem demora, assim que saísse do seu retiro.

Estava sentado nessa posição quando o chamei, dizendo depressa o que eu queria que fizesse, isto é, conferir um pequeno documento. Imagine a minha surpresa, ou melhor, a minha consternação, quando, sem sair do seu retiro, Bartleby respondeu com uma voz singularmente amena e firme, “Acho melhor não”.

Fiquei sentado por algum tempo em silêncio, atônito, procurando me recompor. Então achei que os meus ouvidos tinham me enganado, ou que Bartleby não havia entendido as minhas palavras. Repeti o pedido com a maior clareza que consegui. Mas a resposta anterior veio ainda mais clara, “Acho melhor não”.

“Melhor não”, repeti como um eco, levantando-me nervoso e atravessando a sala a grandes passos. “O que quer dizer? Ensandeceu? Quero que me ajude a conferir esta página aqui, pegue-a!”, e atirei-lhe o documento.

“Acho melhor não”, disse ele.

Olhei-o com firmeza. O seu rosto estava controlado, os seus olhos cinza obscuramente calmos. Não havia sequer uma ruga de preocupação perturbando-o. Se houvesse alguma inquietude, raiva, impaciência ou impertinência nos seus modos, em outras palavras, se houvesse algo de humano em Bartleby, sem dúvida, eu o teria demitido bruscamente do meu escritório. Mas sob tais circunstâncias eu teria antes pensado em jogar fora o meu pálido busto em gesso de Cícero. Fiquei olhando-o, enquanto ele continuava a escrever, e voltei a sentar-me à mesa. É muito estranho, pensei. O que fazer? Mas o trabalho urgia. Decidi esquecer o assunto por um tempo, deixando-o para o futuro, para quando tivesse tempo. Chamei Nippers na outra sala e o documento foi rapidamente conferido.

Alguns dias mais tarde, Bartleby terminou quatro documentos longos, quatro cópias de depoimentos prestados diante de mim, durante uma semana, na Suprema Corte. Era necessário conferi-los. Era uma tarefa importante, que exigia precisão. Depois de arrumar tudo, chamei Turkey, Nippers e Ginger Nut da sala ao lado, pensando em dar as quatro cópias aos meus quatro funcionários, enquanto eu leria o original. Assim, Turkey, Nippers e Ginger Nut sentaram-se em fila, todos com o seu documento na mão, quando então chamei Bartleby para se juntar a esse curioso grupo.

“Bartleby, depressa! Estou esperando.”

Ouvi um lento arrastar da cadeira no chão sem tapete, e logo ele apareceu, parando na entrada do seu eremitério.

“O que deseja?”, perguntou, dócil.

“As cópias, as cópias! Nós vamos conferi-las. Tome aqui!”, eu disse apressado, estendendo-lhe a quarta cópia.

“Acho melhor não”, ele disse, desaparecendo silenciosamente atrás do biombo.

Por um instante, fiquei como uma estátua de sal à frente da fileira de funcionários sentados. Recompondo-me, dei uns passos na direção do biombo e exigi uma explicação para comportamento tão estranho.

“Por que se recusa?”

“Acho melhor não.”

Com qualquer outro homem, eu teria tido imediatamente um acesso de raiva e o teria expulsado, desprezando quaisquer explicações. Mas havia algo em Bartleby que não apenas me desarmou, como também me comoveu e desconcertou, de maneira assombrosa. Pus-me a raciocinar com ele.

“Estas são as suas próprias cópias que vamos conferir. Vai lhe poupar trabalho, porque basta uma averiguação para os seus quatro documentos. Isso é de praxe. Todo copista tem a obrigação de conferir a sua cópia. Não é? Não vai falar nada? Responda!”

“Acho melhor não”, respondeu num tom agudo.

Parecia que, enquanto eu falava com ele, Bartleby analisava com cuidado cada palavra que eu proferia, compreendia o que eu queria dizer, não conseguia se opor à conclusão irresistível, mas, ao mesmo tempo, uma razão superior o levava a responder daquela forma.

“Então, está decidido a não atender o meu pedido – um pedido feito segundo o costume e o bom senso?”

Ele me deu a entender laconicamente que o meu raciocínio era razoável. Mas que a sua decisão era irreversível.

Não é raro que um homem, a quem se intimida de um modo sem precedentes, completamente insólito e irracional, comece a duvidar das suas crenças mais banais. Por mais estranho que isso possa parecer, ele começa a desconfiar que a justiça e a razão estejam do outro lado.