Era uma casinha minúscula, com um pequeno jardim nas traseiras e um relvado à frente que era pouco maior do que um lenço de assoar. Aqui Meg queria ter uma fonte, arbustos e uma grande quantidade de lindas flores, embora por enquanto a fonte estivesse representada por um vaso envelhecido pelo tempo que mais parecia uma taça delapidada, os arbustos fossem vários larícios pequenos que pareciam indecisos entre viver ou morrer e a grande quantidade de flores estivesse reduzida a regimentos de paus, para mostrar os lugares onde as sementes haviam sido deitadas à terra. Porém, o interior era encantador, e a feliz noiva não encontrava nenhum defeito desde as águas-furtadas até à cave. É certo que a entrada era tão estreita que era uma sorte não terem um piano, pois nunca caberia ali. A sala de jantar era tão pequena que não cabiam lá mais de seis pessoas, e os degraus da cozinha pareciam feitos com o propósito expresso de precipitar criados e porcelanas para o depósito de carvão. Ultrapassadas estas pequenas imperfeições, nada podia ser mais completo do que aquela casinha, pois o bom senso e o bom gosto tinham presidido à decoração e o resultado era extremamente satisfatório. Não havia mesas com tampo de mármore, espelhos compridos nem cortinas de renda na pequena sala de visitas, mas sim mobiliário simples, muitos livros, um ou dois bons quadros, um suporte com flores na janela saliente e, espalhados por toda a parte, os bonitos presentes oferecidos por mãos amigas, que eram ainda mais preciosos pelas carinhosas mensagens que traziam. 

Não creio que a escultura de Psiqué em mármore de Paros que Laurie lhes ofereceu perdesse alguma da sua beleza por Brooke ter feito o suporte onde ela estava pousada, nem que qualquer estofador conseguisse preguear os simples cortinados de musselina com maior graciosidade do que a artística mão de Amy, ou que qualquer despensa estivesse mais cheia de desejos de boa sorte, palavras alegres e esperanças felizes do que aquela em que Jo e a mãe guardaram as poucas caixas, barricas e trouxas da noiva. E dou-vos a minha palavra de honra que a nova cozinha de palmo nunca poderia ficar tão acolhedora e organizada se Hannah não tivesse arrumado cada tacho e panela uma dúzia de vezes e preparado o lume para ser aceso pela «senhora Brooke» assim que entrasse em casa. Também duvido que alguma jovem senhora começasse a vida de casada com uma coleção tão grande de panos do pó, pegas e sacos de pano — pois Beth fez uma quantidade suficiente para durar até às bodas de prata e inventou três tipos diferentes de panos da loiça especialmente para as porcelanas do casal. 

As pessoas que mandam fazer todas estas coisas nunca sabem o que perdem; as tarefas mais singelas tornam-se mais belas quando são feitas por mãos amorosas, e Meg teve muitas provas disto, pois tudo no seu pequeno ninho, desde o rolo da massa até à jarra de prata na mesa da sala de visitas, eram eloquentes testemunhos do amor à casa e de terna providência. 

Como se divertiram a planear juntos, a fazer solenes excursões de compras, que erros tão divertidos que cometeram e quantas gargalhadas deram com as ridículas pechinchas de Laurie! De tanto gostar de partidas, este jovem cavalheiro que estava quase a terminar a universidade era tão infantil como sempre. O seu último capricho era trazer todas as semanas um objeto novo, útil e engenhoso para a jovem dona de casa. Um dia, um saco de alfinetes fora do vulgar; depois, um lindo ralador de noz-moscada que se desfez em mil pedaços da primeira vez que foi usado; um produto para limpar facas que estragou todas as que ela tinha; ou uma máquina para varrer que arrancava os pelos do tapete e deixava a sujidade; um sabão que poupava trabalho mas arrancava a pele das mãos; colas infalíveis que não colavam nada a não ser os dedos do iludido comprador; e todos os tipos de artigos de latão, desde um mealheiro para moedas soltas até um maravilhoso escaldador de lavandaria que lavava as coisas ao vapor e parecia que ia explodir durante a operação. 

Meg pedia-lhe para parar, mas era inútil. John ria-se dele e Jo chamava-lhe «Sr. Toodles». Ele estava possuído por uma mania de proteger o engenho ianque e determinado a que a casa dos amigos ficasse adequadamente equipada. Assim, todas as semanas trazia um novo disparate. 

Por fim, tudo ficou pronto, até ao pormenor de Amy arranjar sabonetes de tons diferentes para condizer com as diversas cores das divisões e de Beth pôr a mesa para a primeira refeição. 

— Estás satisfeita? Parece-te um lar e sentes que vais ser feliz aqui? — perguntou a Sr.ª March, enquanto percorria o novo reino de braço dado com a filha e pareciam mais unidas do que nunca. 

— Sim, mãe, completamente satisfeita, graças a todas vós, e tão feliz que nem consigo falar — respondeu Meg, com um olhar que valeu mais que mil palavras. 

— Seria bom se ela tivesse uma ou duas criadas — disse Amy, saindo da sala de visitas onde estivera a tentar decidir se o Mercúrio de bronze ficava melhor na estante ou na prateleira da lareira. 

— Eu e a mãe falámos sobre isso e decidi experimentar primeiro o que ela me aconselhou. Vai haver tão pouco trabalho, que, com a Lotty para me fazer os recados e para me ajudar em algumas coisas, só farei o suficiente para não me tornar preguiçosa e não ter saudades de casa — respondeu Meg, tranquilamente. 

— A Sallie Moffat tem quatro — começou Amy. 

— Se a Meg tivesse quatro criadas, não caberiam em casa e o senhor e a senhora teriam de acampar no jardim — interrompeu Jo, que, vestida com uma grande bata azul, acabava de polir os puxadores das portas. 

— A Sallie não é casada com um homem pobre e muitas criadas estão de acordo com a sua grande casa. A Meg e o John começam numa posição humilde, mas tenho a impressão de que haverá tanta felicidade nesta casinha como na casa grande. É um grande erro raparigas jovens como a Meg não fazerem outra coisa a não ser vestir-se, dar ordens e coscuvilhar. Quando era recém-casada, costumava desejar que as roupas novas se gastassem, ou se rasgassem, para ter o prazer de remendá-las; fartei-me de bordar e dobrar o meu lenço de bolso. 

— Então porque é que não ia para a cozinha fazer umas trapalhadas, como a Sallie diz que faz, para se divertir, embora nunca saiam bem e as criadas se riam dela? — perguntou Meg. 

— Passado algum tempo, comecei a ir; não para fazer «trapalhadas» mas para aprender com a Hannah como as coisas se faziam, para que as minhas criadas não tivessem de se rir de mim. Na altura, foi por diversão, mas chegou o dia em que fiquei verdadeiramente agradecida por ter não apenas a vontade, mas a capacidade de
cozinhar comida nutritiva para as minhas filhas pequenas e saber fazer as coisas quando deixei de poder pagar a quem me ajudasse. Tu começas no extremo oposto, minha querida Meg; mas as lições que aprenderes agora haverão de te ser úteis no futuro, quando o John for um homem mais rico, pois a senhora de uma casa, por mais esplêndida que seja, tem de saber como o trabalho
deve ser feito, se quiser ser servida com qualidade e honestidade. 

— Sim, mãe, tenho a certeza disso — disse Meg, escutando com grande respeito aquele pequeno sermão; pois as melhores mulheres dissertam longamente sobre o muito interessante tema das prendas domésticas. — Sabem que esta é a divisão que prefiro em toda a minha casa de bonecas? — acrescentou passado um minuto, quando chegaram ao primeiro andar e ela olhou para o bem aprovisionado armário da roupa de casa. 

Beth estava lá, dispondo as pilhas brancas como a neve muito bem organizadas nas prateleiras e exultante com a bela coleção. Riram-se as três quando Meg falou, porque aquele armário de roupas de casa era uma anedota. É que, depois de declarar que se Meg se casasse com aquele «Brooke» não veria um tostão do seu dinheiro, a tia March ficara numa situação difícil quando o tempo se encarregou de apaziguar a sua raiva e de a fazer arrepender-se da promessa. Como nunca voltava atrás nas suas decisões, começou a pensar muito numa forma de contornar a situação, e por fim engendrou um plano com o qual ficou satisfeita. Pediu à Sr.ª Carrol, a mãe de Florence, para comprar, mandar fazer e bordar um generoso fornecimento de roupa de casa e mesa e oferecê-lo como seu presente. Tudo foi feito, mas o segredo soube-se e a família divertia-se muito porque a tia March tentava fazer-se de desentendida e insistia que não lhe daria nada a não ser as antiquadas pérolas que prometera há muito tempo à primeira que se casasse. 

— É um gosto de dona de casa que me agrada ver. Tive uma jovem amiga que começou a vida de casada com seis lençóis, mas tinha taças para lavar as mãos quando recebia visitas e isso satisfazia-a — disse a Sr.ª March, tocando nos guardanapos de damasco e apreciando a sua beleza com verdadeira satisfação feminina. 

— Eu não tenho uma única taça para lavar as mãos, mas a Hannah diz que isto é um «carregamento» que vai durar até ao fim da minha vida. — Meg parecia muito contente, como não podia deixar de ser. 

— O Toodles vem aí — gritou Jo do andar de baixo, e todas desceram para receber Laurie, cuja visita semanal era um importante acontecimento nas suas vidas pacatas. 

Um jovem alto, de ombros largos, com o cabelo cortado à escovinha, um chapéu de feltro que parecia uma bacia e um casaco largo percorreu a rua a grande velocidade, passou por cima da vedação sem parar para abrir o portão e dirigiu-se à Sr.ª March com as mãos estendidas e um caloroso: 

— Aqui estou, mãe! Sim, está tudo bem. 

As últimas palavras foram em resposta ao olhar que a senhora mais velha lhe lançou; um olhar bondoso e inquieto que os lindos olhos enfrentaram com tanta franqueza que a pequena cerimónia terminou, como sempre, com um beijo maternal. 

— Para a Sr.ª John Brooke, com as felicitações e cumprimentos do fabricante. Que Deus te abençoe, Beth! Que espetáculo refrescante que és, Jo! Amy, estás a ficar linda demais para uma donzela solteira. 

Enquanto falava, Laurie entregou um embrulho de papel castanho a Meg, puxou a fita de cabelo de Beth, olhou para a grande bata de Jo, caiu numa atitude de falso arrebatamento diante de Amy, depois apertou a mão a todas e começaram a conversar. 

— Onde está o John? — perguntou Meg, ansiosa. 

— Foi buscar a licença para amanhã, minha senhora. 

— Que equipa é que ganhou o último jogo, Teddy? — perguntou Jo, que insistia em interessar-se por desportos masculinos, apesar de ter 19 anos. 

— A nossa, é claro.