Podem ver.

(Torna a atravessar o fundo a criada, que não olha para os noivos.)

NOIVO — E daí? Já é sagrado.

NOIVA — Sim, mas me deixe... Depois.

NOIVO — Que é que você tem? Parece assustada!

NOIVA — Não tenho nada. Não vá embora.

(Entra a mulher de Leonardo.)

MULHER — Não quero interromper...

NOIVO — Diga.

MULHER — Meu marido passou por aqui?

NOIVO — Não.

MULHER — É que não o encontro, e o cavalo também não está na cocheira.

NOIVO (alegre) — Deve ter ido galopar por aí.

(A mulher sai, inquieta. Entra a criada.)

CRIADA — Não estão contentes com tantos cumprimentos?

NOIVO — Estou é querendo que isto acabe logo. A noiva está um pouco cansada.

CRIADA — Que é isto, menina?

NOIVA — É como se tivesse levado uma pancada na testa!

CRIADA — Uma noiva destes montes tem que ser forte. (Ao Noivo) Você é o único que pode curá-la, porque agora ela é sua. (Sai correndo.)

NOIVO (abraçando-a) — Vamos dançar um instante. (Beija-a.)

NOIVA (angustiada) — Não. Queria me deitar um pouco na cama.

NOIVO — Fico lá com você.

NOIVA — Nunca! Com essa gente toda aqui? Que é que iriam dizer? Me deixe descansar um momento.

NOIVO — Como quiser. Mas não fique assim de noite!

NOIVA (da porta) — De noite estarei melhor.

NOIVO — É isso que eu quero!

(Aparece a mãe.)

MÃE — Filho.

NOIVO — Por onde você andava?

MÃE — Nessa barulheira toda. Está contente?

NOIVO — Estou.

MÃE — E sua mulher?

NOIVO — Descansando um pouco. Mau dia para as noivas!

MÃE — Mau dia? O único bom. Para mim foi como uma herança. (Entra a Criada e vai para o quarto da Noiva.) É a roçada nas terras virgens, a plantação de árvores novas.

NOIVO — Você vai embora?

MÃE — Vou. Tenho que ficar na minha casa.

NOIVO — Sozinha.

MÃE — Sozinha, não. Minha cabeça está cheia de coisas e de homens e de lutas.

NOIVO — Mas lutas que já não são lutas.

(A criada entra rapidamente; desaparece correndo pelo fundo)

MÃE — Enquanto se vive, se luta.

NOIVO — Como sempre, eu lhe obedeço.

MÃE — Com sua mulher, procure ser carinhoso, e se notar que está ficando vaidosa ou arisca, faça-lhe uma carícia que machuque um pouco, um abraço forte, uma mordida e depois um beijo suave. Que ela não fique magoada, mas sinta que você é o macho, o patrão, aquele que manda. Foi assim que aprendi com seu pai. Mas ele se foi, e então sou eu que tenho de ensinar essas valentias.

NOIVO — Farei sempre o que você mandar.

PAI (saindo) — E minha filha?

NOIVO — Está lá dentro.

PRIMEIRA MOÇA — Que venham os noivos, para dançarmos a quadrilha!

PRIMEIRO MOÇO (ao Noivo) — Você é que vai marcar.

PAI (entrando) — Aqui não está!

NOIVO — Como não?

PAI — Deve ter subido para a varanda.

NOIVO — Eu vou ver! (Sai.)

(Ouvem-se guitarras e algazarra.)

PRIMEIRA MOÇA — Já começaram! (Sai.)

NOIVO (entrando) — Lá não está.

MÃE (inquieta) — Não?

PAI — E aonde será que foi?

CRIADA (entrando) — E a menina, onde está?

MÃE (séria) — Ninguém sabe.

(Sai o noivo. entram três convidados.)

PAI (dramático) — Mas não está no baile?

CRIADA — No baile, não.

PAI (num repente) — Há muita gente lá! Vá ver!

CRIADA — Mas já vi!

PAI (trágico) — Então, onde está?

NOIVO (entrando) — Nada. Em lugar nenhum.

MÃE (ao Pai) — Mas o que é isso? Onde está sua filha?

(Entra a mulher de Leonardo.)

MULHER — Fugiram! Fugiram! Ela e Leonardo. No cavalo. Iam abraçados, como um relâmpago.

PAI — Não é verdade! Minha filha, não!

MÃE — Sua filha, sim! Fruto de mãe devassa, e ele, ele também, ele. Mas já é a mulher do meu filho!

NOIVO (saindo) — Vamos atrás deles! Quem tem um cavalo?

MÃE — Quem tem um cavalo, já, depressa, quem tem um cavalo? Que eu dou tudo o que tenho, meus olhos e até minha língua...

VOZ — Aqui tem um.

MÃE (ao Filho) — Ande. Atrás deles! (Sai o Filho com dois moços.) Não. Não vá. Essa gente mata depressa, e bem... Mas vá, sim, corra, e eu atrás!

PAI — Não pode ser ela. Deve ter se atirado no poço.

MÃE — Na água se atiram as honradas, as limpas; essa, não! Mas já é mulher do meu filho. Dois bandos.