Não é mesmo? Comportada. Trabalhadeira. Amassa seu pão, costura os vestidos, e mesmo assim, quando falo nela, é como se me dessem uma pedrada na testa.
NOIVO — Bobagem.
MÃE — Bobagem, mesmo. E que eu vou ficar só. Agora já não tenho mais ninguém, só você, e me dói que vá embora.
NOIVO — Mas você vem conosco.
MÃE — Não. Não posso deixar seu pai e seu irmão aqui, sozinhos. Tenho que ir lá todas as manhãs, e se eu for embora pode ser que morra um dos Félix, um da família dos assassinos, e seja enterrado junto deles. E isso nunca! Não! Isso nunca! Porque eu o desenterro com as minhas próprias unhas, sozinha, e esmago na parede.
NOIVO (forte) — Já começou de novo.
MÃE — Desculpe. (Pausa.) Faz quanto tempo, esse namoro?
NOIVO — Três anos. Já consegui comprar a vinha.
MÃE — Três anos. Ela teve um noivo antes, não teve?
NOIVO — Não sei. Acho que não. As moças têm que saber com quem se casam, olhar bem. MÃE — É. Eu não olhei para ninguém. Olhei para seu pai, e quando o mataram olhei para a parede em frente. Cada mulher com seu homem, e pronto.
NOIVO — Você sabe que minha noiva é séria.
MÃE — Não duvido. Mesmo assim, sinto não saber como foi a mãe dela.
NOIVO — Para quê?
MÃE (olhando-o) — Filho.
NOIVO — Que é?
MÃE — É verdade, sim! Você tem razão! Quando quer que eu vá pedir a moça?
NOIVO (alegre) — Domingo, está bem?
MÃE — Vou dar a ela os meus brincos de cobre, que são antigos, e você compra...
NOIVO — Você entende mais disso..
MÃE — Compre umas meias rendadas para ela, e para você dois ternos. . . Três! Eu só tenho você mesmo!
NOIVO — Já vou indo. Amanhã passo lá para vê-la.
MÃE — Isso, isso, e tomara que você me alegre com uns seis netos, ou mais, se tiver gana, que seu pai não teve tempo de me fazer outros filhos.
NOIVO — O primeiro é para você.
MÃE — Bom, mas que haja meninas. Pois eu quero bordar e fazer renda e ficar tranquila.
NOIVO — Tenho certeza de que vai gostar da minha noiva.
MÃE — Vou gostar, sim. (Vai beijá-lo e reage.) Vá, você já está muito grande para beijos. Guarde os beijos para a sua mulher. (Pausa. A parte) Quando já for sua.
NOIVO — Vou indo.
MÃE — E cavem bem aquela parte junto do moinho, que anda meio descuidada..
NOIVO — Pode deixar.
MÃE — Vá com Deus. (O Noivo sai. A Mãe fica sentada de costas para a porta. Aparece na porta uma Vizinha vestida de escuro, com lenço na cabeça.) Entre.
VIZINHA — Como vai?
MÃE — Assim.
VIZINHA — Fui até o armazém e passei para ver você.
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