— Dinheiro é Concreto, porque dinheiro existe — contestou Quindim.

— Para mim e para Tia Nastácia é abstratíssimo. Ouço falar em Dinheiro, como ouço falar em Justiça, Lealdade, Amor; mas ver, pegar, cheirar e botar no bolso dinheiro, isso nunca.

— E aquele tostão novo que dei a você no dia do circo? —

lembrou o menino.

— Tostão não é dinheiro; é cuspo de dinheiro — retorquiu Emília.

Depois daquela asneirinha, o rinoceronte continuou:

— Há os Nomes Simples, como a maior parte dos que circulam por aqui, e há os Nomes Compostos, como aqueles que ali vão. Estes Nomes Compostos formam-se de dois Nomes Simples, encangados que nem bois.

Ia passando o Nome Guarda-Chuva, de braço dado com o Nome Couve-Flor.

— Parecem bananas incões — observou Emília.

— E há ainda os Nomes COLETIVOS — continuou Quindim. —

São os que indicam uma coleção, ou uma porção de coisas — como aquele, acolá! Emília chamou-o.

— Venha cá, Senhor Coletivo! Explique-se. Diga quem é.

— Sou o Nome Cafezal e indico uma porção de pés de café. Deseja mais alguma coisa, senhorita?

— Quero saber se não está com a broca.

— Broca só dá nos arbustos que eu batizo quando são muitos.

— E quando são poucos?

— Só os batizo quando são muitos. Se se trata apenas de dois, três ou uma dúzia, não dou confiança. Ficam sendo dois, três ou uma dúzia de pés de café, mas nunca um Cafezal. Está satisfeita?

— Estaria — respondeu Emília, despedindo-o espevitadamente

— se em vez de tantos pés de café você me desse uma xícara de café

com bolinhos. . .

IV

Em pleno mar dos Substantivos

Havia muita coisa a ver no bairro dos Substantivos, e por essa razão todos protestaram quando Emília falou em visitar as INTERJEIÇÕES.

— Espere, bonequinha aflita! — disse Quindim. — Inda há

muito pano para manga aqui. Vocês ainda não observaram que estes Senhores Nomes estão divididos em dois gêneros, o MASCULINO e o FEMININO, conforme o sexo das coisas ou seres que eles batizam. Paulo é

masculino porque todos os Paulos pertencem ao sexo masculino.

— Mas Panela? — advertiu Emília. — Por que razão Panela é

Nome feminino e Garfo, por exemplo, é masculino? Panela ou Garfo têm sexo?

— Isso é uma das maluquices desta cidade — respondeu o rinoceronte. — Já em Anglópolis não é assim.