Quindim? Não havia ali ninguém com semelhante nome.
— Quindim — explicou Emília — é o nome que resolvi botar no rinoceronte.
— Mas que relação há entre o nome Quindim, tão mimoso, e um paquiderme cascudo destes? — perguntou o menino, ainda surpreso.
— A mesma que há entre a sua pessoa, Pedrinho, e a palavra Pedro — isto é, nenhuma. Nome é nome; não precisa ter relação com o
"nomado". Eu sou Emília, como podia ser Teodora, Inácia, Hilda ou Cunegundes. Quindim!. . . Como sempre fui a botadeira de nomes lá do sítio, resolvo batizar o rinoceronte assim — e pronto! Vamos, Quindim, explique-nos que cidades são aquelas.
O rinoceronte olhou, olhou e disse:
— São as cidades do País da Gramática. A que está mais perto chama-se Portugália, e é onde moram as palavras da língua portuguesa. Aquela bem lá adiante é Anglópolis, a cidade das palavras inglesas.
— Que grande que é! — exclamou Narizinho.
— Anglópolis é a maior de todas — disse Quindim. — Moram lá
mais de quinhentas mil palavras.
— E Portugália, que população de palavras tem?
— Menos de metade — aí umas duzentas e tantas mil, contando tudo.
— E aquela, à esquerda?
— Galópolis, a cidade das palavras francesas. A outra é
Castelópolis, a cidade das palavras espanholas. A outra é Italópolis, onde todas as palavras são italianas.
— E aquela, bem, bem, bem lá no fundo, toda escangalhada, com jeito de cemitério?
— São os escombros duma cidade que já foi muito importante
— a cidade das palavras latinas; mas o mundo foi mudando e as palavras latinas emigraram dessa cidade velha para outras cidades novas que foram surgindo. Hoje, a cidade das palavras latinas está
completamente morta. Não passa dum montão de velharias. Perto dela ficam as ruínas de outra cidade célebre do tempo antigo — a cidade das velhas palavras gregas. Também não passa agora dum montão de cacos veneráveis.
Puseram-se a caminho; à medida que se aproximavam da primeira cidade viram que os sons já não zumbiam soltos no ar, como antes, mas sim ligados entre si.
— Que mudança foi essa? — perguntou a menina.
— Os sons estão começando a juntar-se em SÍLABAS, depois as Sílabas descem e vão ocupar um bairro da cidade.
— E que quer dizer Sílaba? — perguntou a boneca.
— Quer dizer um grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um grupinho de amigos que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A, por exemplo, gostam de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas palavras.
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