Esaú e Jacó

Esaú e Jacó
machado de assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, nos arredores do centro do Rio de Janeiro. Seu pai, Francisco José de Assis, era “pardo” e neto de escravos; sua mãe, Maria Leopoldina Machado, era açoriana. Ainda criança, perdeu a mãe e uma irmã, e, mais tarde, o pai. Foi criado pela madrasta e cedo mostrou inclinação para as letras.
Publicou a sua primeira poesia pouco antes de completar quinze anos, no Periódico dos Pobres. Em 1855 passou a colaborar na Marmota Fluminense, editada pelo livreiro Francisco de Paula Brito, para quem Machado trabalhou como revisor e caixeiro. Em 1856 entrou para a Imprensa Nacional, como aprendiz de tipógrafo, onde conheceu o romancista Manuel Antônio de Almeida, que se tornou seu protetor. Passou então a colaborar em diversos jornais e revistas.
Lançou seu primeiro livro de poesias, Crisálidas, em 1864. Contos fluminenses, sua primeira coletânea de histórias curtas, saiu em 1870. Dois anos depois, veio a lume o primeiro romance, Ressurreição. Ao longo da década de 1870, publicaria mais três: A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia. Seu primeiro grande romance, no entanto, foi Memórias póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, marco da maturidade do escritor. Depois disso, publicou ainda outros quatro: Quincas Borba, em 1891; Dom Casmurro, em 1899; Esaú e Jacó, em 1904; e Memorial de Aires, em 1908. Papéis avulsos, de 1882, foi sua primeira coletânea de contos dessa nova fase.
Em dezembro de 1881, com “Teoria do medalhão”, começou a colaborar na Gazeta de Notícias. Ao longo de dezesseis anos, até 1897, escreveria para esse jornal mais de quatrocentas crônicas. Além disso, escreveu ainda peças de teatro e páginas de crítica.
Em 1897, foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, instituição que ajudara a fundar no ano anterior. Em 1904, tornou-se membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
Morreu em 29 de setembro de 1908, aos 69 anos de idade.
É considerado o maior escritor da literatura brasileira.
hélio de seixas guimarães é professor de literatura brasileira na usp e pesquisador do cnpq. Autor de Os leitores de Machado de Assis: O romance machadiano e o público de literatura no século
19 (Nankin/Edusp) e coautor de A olhos vistos: Uma iconografia de Machado de Assis (Instituto Moreira Salles) e Machado de Assis, fotógrafo do invisível (Moderna), entre outros. Coeditor de Machado de Assis em Linha — Revista Eletrônica de Estudos Machadianos (http://www.machadodeassis.net/revista/index.asp). É colaborador de diversas revistas acadêmicas, entre as quais Estudos Avançados, Revista USP, Novos Estudos Cebrap e Luso-Brazilian Review.
Sumário
Nota sobre esta edição
Introdução — Hélio Guimarães
ESAÚ E JACÓ
Cronologia
Outras leituras
Nota sobre esta edição
Para a presente edição, tomamos como base a chamada segunda edição, de 1904 (na realidade uma reimpressão), a última publicada durante a vida do autor.
Para o estabelecimento do texto, cotejamos com o fac-símile dos manuscritos, publicados pela Academia Brasileira de Letras em 2008, e levamos em conta as lições da edição crítica realizada pela Comissão Machado de Assis e da edição organizada por Adriano da Gama Kury para a Editora Garnier, de Belo Horizonte.
A ortografia foi atualizada, salvo nos casos seguintes:
As palavras club, coupé, leader, lords e restaurant, que não tinham formas consagradas em português à época da redação do romance, foram mantidas com essa grafia e em itálico, conforme a edição tomada como base. O mesmo procedimento foi adotado com as expressões latinas ab ovo e habeas corpus, e também com a expressão italiana Or, bene.
As palavras “dous”, “cousa” e “cousas” foram grafadas como “dois”, “coisa” e “coisas”, formas hoje mais correntes. Atualizamos também as grafias de nomes próprios.
A variante “regímen” para “regime” foi mantida conforme o texto de base.
Em relação à pontuação, ela segue exatamente a da edição de 1904, com exceção das vírgulas antes e dentro dos travessões, muito utilizadas na época de Machado de Assis, mas hoje em desuso.
Introdução
Um romance em abismo
HÉLIO GUIMARÃES
Esaú e Jacó, o oitavo romance de Machado de Assis, publicado em 1904, era para ter se chamado Último. Esse é o título que consta do primeiro contrato que o escritor assinou com seu editor e também em carta na qual se referiu ao livro. Ao percorrer em ordem cronológica o conjunto dos escritos machadianos do início do século xx, vemos que essa sugestão de romance derradeiro, contida no título original, se manteve até às vésperas da publicação. De repente, sem explicações, o escritor resolveu mudar. O que teria ocorrido, para justificar essa mudança de Último para Esaú e Jacó?
Uma resposta plausível é que a certa altura Machado apostou que teria vida e fôlego para escrever mais um romance, o que de fato ocorreu. O Memorial de Aires, que como Esaú e Jacó tem sua origem nos manuscritos deixados pelo conselheiro Aires, personagem comum às duas obras, seria o livro que de fato fecharia a série de nove romances. O Memorial começou a circular no Rio de Janeiro no fim de julho de 1908, quando o escritor, já abatido pela doença, manifestava aos amigos a consciência de que este sim era o último romance, antecipando o desfecho, que se daria em 29 de setembro de 1908, com a morte do autor aos 69 anos.
Entretanto, apesar de modificado o título, mantiveram-se em Esaú e Jacó as marcas do romance de desfecho e liquidação que o título original sugeria. Nele, o escritor levou a um nível extremo de complexidade sua produção ficcional, na qual a problematização do enredo e das convenções narrativas muitas vezes assume o primeiro plano da narração, sobrepondo-se ao que está sendo contado. Se existe uma teoria da composição ficcional de Machado de Assis, formulada no próprio fazer da ficção, ela encontra sua melhor síntese em Esaú e Jacó.
Desde Ressurreição, o romance de estreia, publicado em 1872, Machado apostava num tipo de narrativa em que importa menos o que acontece do que o modo como a narração se processa. Para além de contarem uma história, seus romances problematizam o modo como a história é contada, o que muitas vezes se faz pelos comentários dos narradores. A partir de Brás Cubas, a tendência se intensifica, a ponto de o leitor quase perder de vista o fio narrativo, arrebatado por narradores salientes, que chamam a atenção para si e para os seus modos muito peculiares de encarar e interpretar aquilo que contam.
Em Esaú e Jacó, esse esgarçamento do enredo se radicaliza.
1 comment