Por consequência, o intervalo foi passado em inação; com o ócio para refletir, sua dor só se aprofundou e se tornou mais amarga; e, com o tempo, ela se apoderou com tal força de sua mente que, no final de três meses, ele estava enfermo numa cama, incapaz de qualquer esforço.

A filha cuidava dele com grande ternura, mas via, com desespero, que os pequenos recursos decresciam rapidamente e que não havia outro prospecto de sustento. Caroline Beaufort, no entanto, possuía uma mente incomum, e sua coragem veio apoiá-la na adversidade. Ela procurou trabalhos simples; trançava palha; e por vários meios conseguiu juntar uma ninharia que mal sustentava a vida.

Vários meses se passaram dessa maneira. Seu pai piorou; o tempo da filha era ocupado inteiramente em cuidar dele; seus meios de subsistência diminuíram; e, no décimo mês, o pai morreu em seus braços, deixando-a como órfã e mendiga. Esse último golpe se apoderou dela, e, quando meu pai entrou no recinto, encontrou-a ajoelhada junto ao caixão de Beaufort, chorando amargamente. Ele veio como um espírito protetor para a pobre moça, que se entregou aos seus cuidados. Após o enterro do amigo, ele a levou para Genebra e a colocou sob a guarda de parentes. Dois anos depois, Caroline tornou-se sua esposa.

Havia uma diferença considerável de idade entre meus pais, mas essa circunstância parecia apenas uni-los mais nos laços do dedicado afeto. Havia uma noção de justiça na mente honrada de meu pai que demandava que ele aprovasse com louvor para amar com fervor. Talvez nos anos anteriores tivesse sofrido com a descoberta tardia do demérito de alguém que amara, o que o fizera conferir um valor maior à integridade comprovada. Havia uma amostra de gratidão e veneração em sua ligação com minha mãe que diferia totalmente da afeição adoradora da idade, pois era inspirada pela reverência às virtudes dela e um desejo de ser o meio através do qual, em alguma medida, ela fosse recompensada pelas tristezas que suportara, mas que dava uma graça indescritível do seu comportamento perante ela. Fazia tudo para atender a seus desejos e conveniência. Esforçava-se para protegê-la, como um jardineiro protege uma bela planta exótica de qualquer vento mais brusco, e para cercá-la com tudo o que poderia instigar emoções prazerosas na mente suave e benevolente da esposa. Sua saúde e mesmo a tranquilidade de seu espírito, até então estável, haviam sido sacudidas pelo que ela passara. Durante os dois anos que antecederam o casamento, meu pai se absteve gradualmente de todas as suas funções públicas; e logo após a união buscou o prazeroso clima da Itália, e a mudança de cenário e interesse resultou numa viagem por aquela terra de maravilhas, como um remédio para a constituição enfraquecida dela.

Da Itália eles visitaram a Alemanha e a França. Eu, seu filho mais velho, nasci em Nápoles, e como infante os acompanhei em seus passeios. Permaneci por vários anos como filho único. Por mais que fossem ligados um ao outro, eles pareciam ter o suprimento inesgotável de afeto de uma mina de amor para depositar sobre mim. As tenras carícias de minha mãe e o sorriso de benevolente prazer de meu pai ao me contemplar são minhas primeiras lembranças. Eu era seu enlevo, seu objeto de adoração e, mais do que isso, seu filho, a inocente e incapaz criatura concedida a eles pelos céus, a quem criar para o bem e cujo futuro eles conduziriam para a felicidade ou a desgraça, conforme desempenhassem seus deveres em relação a mim. Com a consciência profunda do senso de obrigação para com o ser a quem deram vida, acrescido do espírito ativo de ternura que animava a ambos, pode-se imaginar que, embora em todas as horas de minha vida infantil eu tenha recebido uma lição de paciência, caridade e autocontrole, era guiado como que por uma fita de seda tão suave que tudo parecia uma sequência de prazeres para mim.

Por um longo tempo, fui a única atenção deles. Minha mãe queria muito ter uma filha, mas continuei a ser sua única cria. Quando eu tinha cerca de cinco anos de idade, durante uma excursão além das fronteiras da Itália, eles passaram uma semana às margens do lago de Como.7 O caráter benevolente dos dois frequentemente os fazia entrar nas cabanas dos pobres. Para minha mãe, agir como o anjo da guarda dos aflitos era mais do que um dever; era uma necessidade, uma paixão – considerando o que havia sofrido e como fora salva. Em uma de suas caminhadas, uma pobre cabana nos recantos de um vale atraiu a atenção deles por sua desolação singular, com uma quantidade de crianças seminuas reunidas ao redor, transmitindo uma penúria em sua pior forma. Num dia em que meu pai foi sozinho a Milão, minha mãe, acompanhada por mim, visitou essa morada. Encontrou um camponês e sua esposa, trabalhando duro, curvados pelo cuidado com os filhos e a labuta, distribuindo uma refeição mirrada para cinco bebês famintos. Entre esses, havia um que atraiu minha mãe bem mais do que os outros. Parecia de uma linhagem diferente. Os quatro outros eram errantezinhos robustos de olhos escuros; essa criança era magra e muito bela.