O que agora afirmo é tão certo quanto o sol que brilha nos céus. A descoberta pode ter sido fruto de algum milagre, mas ainda assim seus estágios foram claros e lógicos. Após dias e noites de incrível labuta e fadiga, descobri a causa da geração da vida; mais do que isso, tornei-me capaz de animar matéria sem vida.

O espanto inicial logo deu lugar a deleite e êxtase. Após tanto tempo de dolorosa labuta, alcançar subitamente o ponto alto de meus desejos foi a consumação mais gratificante de meu esforço. Mas a descoberta foi tão grande e avassaladora que obliterou todos os passos que eu havia galgado até ali, e contemplei apenas o resultado. O que havia sido o estudo e o desejo dos mais sábios homens desde a criação do mundo estava agora ao meu alcance. Não que, como num passe de mágica, tudo tenha se revelado a mim de uma única vez: a informação que eu obtivera era de uma natureza mais a direcionar meus esforços, tão logo eu pudesse apontá-los ao objeto de minha busca, do que a exibir aquele objeto já conquistado. Eu era como o árabe que havia sido enterrado com o morto e encontra uma passagem para a vida, guiado apenas pela brilhante e aparentemente ineficaz luz.22

Vejo, pela avidez, o espanto e a esperança que seus olhos expressam, meu amigo, que você espera ser informado do segredo com o qual estou familiarizado; isso não será possível: escute-me paciente até o final da história, e vai facilmente perceber por que sou reservado quanto a esse assunto. Não vou conduzi-lo, indefeso e ardente como eu então estava, à sua destruição e infalível desgraça. Aprenda comigo – se não por meus preceitos, ao menos pelo meu exemplo – quão perigosa é a aquisição de conhecimento e quão mais feliz é o homem que crê que sua vila natal é o mundo, do que aquele que aspira tornar-se maior do que sua natureza permite.

Quando vi em minhas mãos poder tão espantoso, hesitei por um longo tempo em relação a como empregá-lo. Apesar de eu ser capaz de conceder vida, preparar um receptáculo para ela, com toda a sua confusão de fibras, músculos e veias, permanecia um trabalho de dificuldade e esforço inconcebíveis. Inicialmente, oscilei entre tentar criar um ser como eu mesmo ou um de organização mais simples; mas minha imaginação estava exaltada demais por meu primeiro sucesso para me permitir duvidar de minha habilidade em dar vida a um animal tão complexo e maravilhoso quanto o homem. Os materiais à minha disposição não pareciam adequados a uma tarefa tão árdua; mas eu não duvidava de que acabaria conseguindo. Preparei-me para uma infinidade de contrariedades; minhas operações poderiam ser incessantemente refreadas e minha obra final, imperfeita; ainda assim, quando considerava o progresso que cada dia acontecia na ciência e na mecânica, sentia-me encorajado a torcer para que minhas tentativas presentes pudessem ao menos criar as bases de um sucesso futuro. Não poderia considerar a magnitude e a complexidade de meu plano, nem qualquer argumento de sua impraticabilidade. Foi com esses sentimentos que dei início à criação de um ser humano. Como o tamanho reduzido das partes constituía um grande obstáculo à minha velocidade, decidi, contrário às minhas primeiras intenções, fazer um ser de estatura gigantesca: de cerca de dois metros e quarenta de altura e proporcionalmente largo. Assim determinado, e tendo passado alguns meses coletando e arranjando meus materiais com sucesso, comecei.

Ninguém pode conceber a variedade de sentimentos que me levaram em frente, como um furacão, no primeiro entusiasmo do sucesso. Vida e morte pareciam para mim limites ideais, e eu seria o primeiro a rompê-los, derramando uma torrente de luz em nosso mundo escuro. Uma nova espécie iria me abençoar como seu criador e origem; muitas naturezas felizes e excelentes deveriam sua existência a mim. Nenhum pai poderia clamar a gratidão de seu filho tão completamente quanto eu mereceria a delas. Seguindo nessas reflexões, pensei que, se fosse capaz de animar a matéria sem vida, eu poderia com o tempo (apesar de agora o achar impossível) renovar a vida onde a morte havia aparentemente condenado o corpo à decomposição.

Esses pensamentos sustentaram meu espírito, enquanto eu seguia na tarefa com perseverante ardor. Minha tez tornou-se pálida pelo estudo e minha constituição, emagrecida pelo confinamento. Às vezes, à beira da certeza, eu fracassava; ainda assim agarrava-me à esperança de que no dia ou na hora seguinte eu pudesse triunfar. Um segredo que só eu possuía era a esperança à qual havia me dedicado; e a lua espiava meus trabalhos da meia-noite, enquanto, com uma avidez ofegante e sem descanso, eu perseguia a natureza em seus esconderijos. Quem pode conceber os horrores de minha labuta secreta, enquanto eu chafurdava na terra profana dos túmulos ou torturava animais vivos para animar o barro sem vida? Meus membros agora tremem e meus olhos se afogam com as lembranças; mas, na ocasião, um impulso irresistível e quase frenético me incitava a seguir em frente; eu parecia ter perdido toda a alma e a sensação, a não ser pelo desejo de seguir com essa busca. Não era, de fato, senão um transe passageiro, que só me fez sentir com agudez renovada tão logo eu voltei aos meus velhos hábitos, quando o estímulo antinatural deixou de operar. Coletava ossos de mausoléus e perturbava, com dedos profanos, os segredos grandiosos da constituição humana. Numa câmara solitária, ou melhor, numa cela, no último andar da casa, separado de todos os outros aposentos por um corredor e uma escada, eu mantinha minha oficina de criação imunda; meus olhos saltavam das órbitas enquanto eu cuidava dos detalhes do empreendimento. A sala de dissecação e o matadouro forneciam muitos dos materiais; e frequentemente minha natureza humana voltava-se com repugnância contra aquela ocupação enquanto eu, incitado por uma sempre crescente avidez, conduzia o trabalho para uma conclusão.

Os meses de verão passaram vendo-me assim engajado, alma e coração em meu único objetivo.