Homenzinhos

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Louisa May Alcott


Homenzinhos




Círculo de Leitores

Portugal

 

HOMENZINHOS

Título original: Little Men (1871)

© Louisa May Alcott

Literatura infantojuvenil

Adaptação de António Marques Francisco

Capa de José Antunes

Ilustrações de João Pedro Cochofel 

CÍRCULO DE LEITORES - Portugal - 1985

(esta versão não possui ilustrações)





Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destina-se unicamente à leitura de pessoas portadoras de deficiência visual. Por força da lei de direitos de autor, este ficheiro não pode ser distribuído para outros fins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente.

Sumário

Capa

Rosto

Ficha

1. O lar da tia Jo

2. Os garotos de Plumfield

3. A iniciação de Nat

4. A cozinha de Daisy

5. Aventuras e desventuras de Dan

6. As travessuras de Nan

7. O regresso de Dan

8. O Museu Laurie

9. A estada de Bess em Plumfield

10. Estranho desaparecimento

11. O ninho do salgueiro

12. A morte de John Brooke

13. Dia de Ação de Graças

A Autora

1. O lar da tia Jo

– Quer fazer o favor de me dizer se estou em Plumfield? – perguntou um garoto pobremente vestido, dirigindo-se a um cavalheiro que abria a porta de uma casa diante da qual se detivera a diligência.

– Sim, meu filho. Quem procuras e quem te mandou cá?

– O Sr. Lawrence e trago uma carta para a Sra. Bhaer.

Uma chuva miudinha, primaveril, caía sobre a relva verde e sobre as árvores coalhadas de casulos, e, através dela, Nathaniel Blake, assim se chamava o pequeno, pôde ver um edifício de grandes proporções, quadrado, de aspecto acolhedor, pórtico antigo, escada ampla e grandes janelas iluminadas. Anoitecia a pouco e pouco e as luzes brilhavam, sem que houvesse a velá-las persianas ou cortinas. Nathaniel viu, por isso, pequenas sombras que dançavam pelas paredes e ouviu um rumor alegre de vozes infantis, pensando com tristeza que deveria ser difícil que quisessem acolher, naquela casa magnífica, um hóspede pobre, mal vestido e sem lar como ele.

– Pelo menos, hei de ver a senhora – disse, fazendo soar timidamente a aldrava.

Uma criada de cara cheia e corada veio abrir, sorridente, e pegou na carta que o rapazito lhe estendia em silêncio. Parecia acostumada a receber crianças estranhas e fez sentar o recém-chegado no vestíbulo, dizendo-lhe, ao afastar-se:

– Espera um momento.

Não tardou que o pequeno se distraísse a contemplar, do recanto onde se encontrava, próximo da porta, o espetáculo que se deparava aos seus olhos.

A casa estava, sem dúvida, cheia de garotos que, por estar a chover e ser quase noite, brincavam no interior. Viam-se por todos os lados, em cima e em baixo, no alto da escada e junto a ela, nos quartos e nos corredores. Em todas as portas havia grupos de crianças de várias idades que brincavam alegremente. À direita, duas grandes dependências serviam, certamente, de salas de aula, a julgar pelas carteiras, pelo quadro, pelos mapas e pelos livros.

No fogão de sala ardia um fogo vivo e em frente dele alguns pequenos atiravam ao ar as botas, discutindo uma partida de críquete.

Sem se importar com a algazarra, um garoto já crescidinho tocava flauta a um canto. Dois ou três rapazitos pulavam em cima das carteiras, rindo-se das caricaturas que um colega desenhava.

Numa dependência à esquerda viam-se sobre uma grande mesa copos de leite e bandejas repletas de pãezinhos, bolachas e biscoitos. Um cheirinho a maçãs cozidas e a torradas com manteiga enchia o ambiente. Aroma desesperante para um estômago com fome.

No cimo da escada jogavam às quilhas. No primeiro patamar e no segundo entretinham-se com outros jogos. Um pequeno lia sentado num degrau; noutro, uma pequenita cantava à sua boneca. Dois cães e um gatinho juntavam-se às crianças e, finalmente, sem medo dos trambolhões, nem dos rasgões, alguns diabretes escorregavam pelo corrimão.

Pouco a pouco, atraído por aquele barulho, Nathaniel saiu do recanto onde se encontrava e quando um rapaz, ao escorregar pelo corrimão, caiu com força suficiente para partir qualquer cabeça que não estivesse habituada a onze anos de trambolhões, correu instintivamente a prestar-lhe auxílio, julgando encontrá-lo meio morto.