E agora,meus filhos, silêncio e sossego.
Todos os pequenos observaram com curiosidade o seu novo companheiro. Depois acomodaram-se nas cadeiras e, embora inutilmente, tentaram estar quietos.
O casal Bhaer procurava, e geralmente conseguia, que os pequenos se mantivessem com a devida compostura durante as refeições. Mandavam pouco e faziam-se obedecer. Mas,como também é preciso que as crianças se expandam à sua vontade, aos sábados à noite concediam-lhes uns momentos de completa à-vontade.
– Coitadinhos! É necessário deixar-lhes, pelo menos,um dia livre para que gritem, saltem e brinquem à vontade, sem entraves nem restrições. Sem liberdade completa não há festa que satisfaça – costumava dizer a Sra. Bhaer quando via que algumas pessoas se admiravam que permitisse aos garotos escarrancharem-se nos corrimãos, atirar almofadas à cabeça uns dos outros e cometer outros excessos semelhantes.
Às vezes parecia que a casa ia abaixo,mas nunca acontecia nada de grave. Bastava uma palavra do Sr. Bhaer para que a ordem e o sossego ficassem restabelecidos. As crianças sabiam perfeitamente que não deviam abusar dessa liberdade. E assim, apesar dos timoratos e dos pessimistas, a escola florescia e os pequenos educavam-se e instruíam-se quase sem se dar por isso.
Nat sentiu-se muito bem entre Tommy e a mamã Bhaer, que se encarregou de o servir.
Aproveitando um momento de risota geral, Nat perguntou ao seu vizinho:
– Quem é aquele que está no fim da mesa ao pé duma menina?
– É "Meio-Brooke", um sobrinho dos donos da casa.
– "Meio-Brooke"?... Que nome tão esquisito!
– Não é esse o seu nome. Chama-se John Brooke,mas como o pai também se chama John, para se não confundir o pequeno com o grande chamamos-lhe "Meio-Brooke".
– É muito sabedor,não é verdade?...
– Sim. Lê corretamente e conhece todos os jogos.
– Quem é aquele gordo que está a seu lado?
– É "Traga-Bolos"! O nome dele é Jorge, mas chamamos-lhe "Traga-Bolos" porque é o mais glutão da casa. Olha, o que está ao lado do papá Bhaer é o seu filho Rob e aquele mais além, grandalhão é Franz, o sobrinho do papá. Franz dá lições e é assim como que o nosso superior.
– Toca flauta?...
Tommy assentiu com a cabeça. Não podia falar naquele momento por ter metido na boca uma maçã inteira. Engoliu-a com rapidez espantosa e acrescentou:
– Oh! O que nós nos divertimos. Dançamos, fazemos fantoches e tocamos boa música. Gosto muito de tambor e quero estudar para ser mestre tamborileiro.
– Pois eu gosto muito mais de violino e sei tocar – disse Nat, confidencialmente.
– Tocas violino? – exclamou, surpreendido, Tommy. – O papá Bhaer tem um violino velho e empresta-to.
– Sim?... Oh,que bom! Eu ganhava a vida andando pelas ruas a tocar violino, com o meu pai e outro homem... O meu pai morreu. .
– Estás a falar a sério? – perguntou Tommy, muito impressionado.
– Sim,era horrível! Passava muito frio no Inverno e muito calor no Verão. Comia quase sempre pouco e, às vezes,quando me cansava, batiam-me... – Nat calou-se para trincar uma bolacha, como se quisesse certificar-se de que os maus tempos haviam passado já. A seguir, acrescentou tristemente: – Gostava tanto do meu violino e sinto tanto a sua falta! Nicolau tirou-mo quando meu pai morreu, foi-se embora e deixou-me só ao ver-me doente.
– Bom, pois se tu quiseres pertencerás à nossa orquestra.
– Tendes uma orquestra?
– Uma orquestra magnífica. Todos os músicos são meninos, mas os concertos têm muito que se lhe diga... Vais ver amanhã à noite.
E, assim dizendo, Tommy apressou-se a despachar o seu quinhão, deixando Nat entregue a agradáveis reflexões.
A Sra. Bhaer não tinha perdido uma única palavra do diálogo, embora parecesse entretida a servir os rapazes e a cuidar de Teddy. Este adormecera, chegando a meter a colher num olho, cabeceou como se dormisse sobre um galho, e, finalmente, pôs-se a ressonar com a carita deitada sobre a toalha.
A Sra. Bhaer sentara Nat próximo de Tommy porque este irrequieto rapazinho era expansivo, alegre, franco e capaz de inspirar confiança às pessoas tímidas. Com o diálogo que ouviu durante a refeição ficou desde logo suficientemente inteirada para formar uma ideia clara do carácter do novo hóspede.
– Pobrezinho! Poderá tocar violino quantas vezes quiser – murmurou a Sra.
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