As tuas penas acabaram. Esta casa foi feita para que os meninos sejam felizes e aprendam a ser homens de bem. Aqui tocarás todas as músicas que te apeteça, mas primeiro que tudo tens de te curar. Vamos ter com a ama. Ela dar-te-á banho e depois irás para a cama. Amanhã estudaremos o novo plano de vida. Não te preocupes.

Nat beijou a mão da sua protetora e deixou que o levassem para uma outra dependência grande, na qual se encontrava uma alemã corpulenta, de cara cheia e com touca branca na cabeça.

– Esta senhora é a ama Hummel. Vais ver como ela te dá um rico banho, te corta o cabelo e te deixa "como novo", como diz Rob. Gostas do quarto de banho? Aos sábados lavamos os mais pequeninos primeiro e deitamo-los logo; antes que venham os mais velhos fazer zaragata. Rob fica a teu lado.

Enquanto falava, a Sra. Bhaer despiu Rob e mergulhou-o numa das duas banheiras grandes que, juntamente com bacias, chuveiros, bidés, etc. ocupavam o balneário. Nat tomou o banho e, enquanto se limpava, viu duas mulheres lavarem, vestirem roupa limpa e deitarem quatro ou cinco petizes, que riam e gritavam alegremente.

Seguidamente, Nat, sentado numa fofa almofada junto ao fogo, deixou que lhe cortassem o cabelo, vendo chegar outro bando de crianças que, ao banharem-se, faziam grande barulho e esparrinhavam na água como se fossem cachalotes.

– Agora Nat dormirá melhor e, se tossir, dê-lhe o xarope para a tosse – disse à ama a Sra. Bhaer, que ia e vinha como uma galinha rodeada pelos pintainhos.

Depois de um silêncio nos exercícios aquáticos começaram a sulcar o ar em todas as direções as almofadas que, dos leitos, eram lançadas por diabinhos brancos. A batalha era encarniçada nalguns dormitórios e chegava mesmo a atingir o quarto da ama quando este ou aquele guerreiro escorraçado ali buscava seguro refúgio. Ninguém se admirava daquela luta, nem ninguém lhe punha cobro. Hummel pendurava as toalhas e a Sra. Bhaer preparava roupa limpa, como se nada se passasse e tudo estivesse em sossego. Mas eis que a mamã Bhaer deita a correr atrás de um garoto e lhe atira com a almofada que o audaz rapazito havia arremessado contra ela.

– E não se magoam? – perguntou Nat, rindo a mais não poder.

– Nunca. Aos sábados à noite permitimos esta batalha de almofadas. Assim fazem reação depois do banho – respondeu a Sra. Bhaer, pondo em ordem doze pares de sapatos.

– Que linda escola esta! – exclamou Nat, admirado.

– É muito original – replicou, sorridente, a senhora. – Hás de ver que não maçamos os meninos com estudos excessivos nem com preceitos rigorosos. No princípio proibi as batalhas de almofadas, mas quando me convenci de que seria difícil obedecerem-me, fizemos uma combinação. Permiti-lhes batalhas durante quinze minutos todos os sábados desde que nos demais dias se deitassem tranquilamente. Se faltam ao combinado, não há batalha ao sábado, mas, se cumprem, ponho os espelhos ao contrário, tiro as lâmpadas e deixo-os brincar à vontade.

– É formidável! – murmurou Nat pensando em tomar parte na refrega, mas não se atrevendo a intervir por ser um recém-chegado.

2. Os garotos de Plumfield 

Franz era um rapaz alemão, alto, forte, louro, aplicado, de carácter simples, amando a música e muito apegado à casa. Tinha dezassete anos. O tio julgava-o com aptidões para o ensino e a tia antevia nele um excelente marido, comentando a sua compreensão e o seu afeto pelo lar. Amava em extremo a Sra. Bhaer e era um colaborador sério, afetuoso e paciente.

Emil, vivo, inquieto e empreendedor, sonhava vir a ser marinheiro.