Os piratas coloca-ram no chão as enxadas e fuzis e se deitaram à sombra das árvores. De repente, no meio da mata, uma voz fina, agudo e trêmulo, entoou um estribilho que os bandidos conheciam muito bem. Todos empalideceram.
-
Com os diabos, é Flint! - exclamou Merry.
A voz ressoou novamente, mas não como um canto e sim como um grito longínquo e frouxo, que o eco repetia fraca-mente. Os piratas tornaram a mostrar-se assustados. Apenas Silver conseguiu manter-se calmo e, tranqüilizando seus homens, deu outra vez o sinal de partida.
E a voz? Seria capaz de jurar que era de Ben Gunn.
Atingimos finalmente a orla do mata onde o tesouro se achava escondido.
- Avante, companheiros! - gritou Merry,- e alguns deles logo se puseram a correr.
De súbito, vimo-los; parar dez metros adiante. Um grito surdo ressoou. Silver apressou o passo, batendo a muleta no chão como doido: daí a pouco, ele e eu paramos de repente. Diante de nós se abria um grande buraco, que não devia ser recente, a julgar pelas paredes já endurecidas e pela erva que crescia no fundo.
Viam-se por ali um cabo quebrado de uma enxada e peda-
ços de caixotes espalhados. Não havia dúvida: o esconde-26
rijo fora violado e as setecentas mil libras esterlinas de ouro tinham desaparecido.
Os seis homens ficaram como que paralisados de assombro. Mas Silver reagiu prontamente: entregou-me uma pistola e levou-me para o outro lado do buraco, de modo que este ficou entre nós e os outros cinco marinheiros. Quando se viu do lado oposto do grande fosso, Tom Morgan levan-tou o braço com a clara intenção de disparar. Mas justa-mente nesse momento, três tiros de espingarda partiram da mato: Merry girou sobre si mesmo e caiu morto no fundo do buraco; os seus companheiros trataram logo de fugir e desapareceram num instante.
Logo em seguida, o médico, Gray e Ben Gunn apareceram com as espingardas fumegantes e se aproximaram de nós.
Estávamos salvos!
0 Dr. Livesey contou-nos então, resumidamente, o que tinha acontecido: soubera que Ben Gunn havia descoberto sozinho o tesouro e o desenterrara e transportara paro a gruta que lhe servia de refúgio. 0 médico, durante aquela tarde após o ataque dos piratas, fora ter com Ben Gunn e conseguira que este lhe revelasse o seu segredo. Na ma-nhã seguinte, tendo notado que a goleta desaparecera, pro-curara Silver e lhe entregara o mapa, já agora sem valor.
Conversando, chegamos à praia e entramos na gruta de Ben Gunn. Smollett descansava diante de uma fogueira e lá no fundo, frouxamente iluminadas pelo fogo, luziam enormes pilhas de moedas e filas de barras de ouro. Era o tesouro do capitão Flint!
No dia seguinte bem cedo nos pusemos a trabalhar, pois o transporte de tão grande quantidade de ouro num percur-so de cerca de uma milha por terra e de três por mar até à 27
Espanhola constituía, para o nosso reduzido grupo, uma tarefa extenuante. 0 trabalho foi executado normalmente.
Gray e Ben Gunn faziam o transporte no barco e os res-tantes, durante a sua ausência, amontoavam o ouro no praia.
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