Falou demoradamente. Contou, pela centésima vez, as aventuras do terrível capitão Flint, seu antigo comandante, comunicou aos marinheiros que eles em breve seriam bem recompensados, lamentou-se de haver dissipado em pouco tempo um grande patrimônio e continuou seu tenebro-so discurso com palavras de lisonja a todos os marinheiros da “Espanhola”. Depois, em voz baixa, expôs o seu plano.

Ele, John Silver, deixaria o cavaleiro e o capitão atingirem a ilha e descobrirem o tesouro, e os ajudaria a embarcá-lo.

Mas, na viagem de regresso, o navio e o tesouro passari-am, pela força, às suas meios e às dos marinheiros seus amigos. E o capitão e o cavaleiro nunca mais reveriam Bristol.

Os marinheiros que o rodeavam, e que eu não podia ver, 12

fizeram-lhe ainda algumas perguntas, depois do que, exultantes, concordaram com a sinistra proposta. Por fim, apanharam algumas garrafas de uísque numa barrico e brin-daram à boa sorte do empreendimento. Nesse momento, o gajeiro gritou: “Terra à vista!”

Num instante, todos os homens subiram à coberta. 0 capitão perguntou a Silver, que já estivera na ilha noutro navio, qual era o lugar mais apropriado para deitar âncora, e o velho John indicou-lhe a parte sul, no lado posterior da ilhota.

Terminada a manobra de ancoragem, o capitão reuniu os seus homens no tombadilho e dirigiu-Ihes algumas palavras, convidando-os por fim a beberem à saúde do cavaleiro e à boa sorte da empresa. Logo depois, o Dr. Livesey, atendendo a um aviso meu, mandou. chamar-me ao camarote do capitão. Contei-lhe minuciosa e rapidamente a conversação de Silver com os marinheiros.

Diante disso, o capitão começou preparar, de acordo com o cavaleiro e o médico, um plano de ação. Assim ficou estabelecido que todos fingiriam ignorar a trama urdida por John Silver e iniciariam a busca do tesouro conforme estava combinado. Fez-se conta dos marinheiros em que se podia confiar: eram sete, e entre ele s eu, contra dezenove robustos homens’ do mar.

Na manhã seguinte, os marinheiro desceram ao mar com os escaleres para rebocar o navio, enquanto Long John empunhava a barra do leme. Ancoramos num fundo de areia fina.. A queda do âncora no mar fez com que bandos de pássaros levantassem vôo e, piando, partissem em direção às matas. Logo em seguida, tudo voltou ao silêncio.

Deixando os escaleres no mar e voltando arquejantes e 13

suados para bordo, os marinheiros começaram logo a querer amotinar-se. Permaneciam no coberto a confabular entre si, e a menor ordem era mal acolhida e mal executada.

Preocupado com esta situação ameaçadora, o capitão dirigiu-se ao camarote do cavaleiro e convenceu-o de que o melhor era deixar os marinheiros darem um passeio em terra: se todos ele s se achassem no ilha, - concluiu - a corveta ficaria em nosso poder e tudo terminaria bem.

Assentado isso, o capitão deu logo ordens naquele sentido e todos os marinheiros, ao ouvi-lo, soltaram vários vivas que ecoaram longe.

Num instante a expedição. ficou pronta: seis homens permaneceram a bordo e os outros treze, incluído Silver, embarcaram nos escaleres. Entrementes, Hunter, Joyce e Redruth, os únicos marinheiros que tinham permanecido fiéis ao cavaleiro, foram inteirados dos planos combinados entre nós.

Quando a expedição de Silver estava para deixar o navio, resolvi apanhá-la: rapidamente saltei num bote, agachei-me num conto e ele partiu sem novidade.