Ninguém me notou. Desembarcando, deixei os homens de Silver e corri em frente até não poder mais.
Satisfeito de ter escapado das mãos de Long John, comecei a explorar a Ilha do Tesouro. De repente, alguns patos selvagens levantaram vôo o que me fez compreender que ali perto havia gente. Amedrontado, escondi-me numas moitas e aí fiquei deitado à escuta. Não tardei o ouvir duas vozes. Uma, a mais forte e a mais firme, era de Silver. 0
cozinheiro-mor falava rudemente a um velho marinheiro de nome Tomás, que não queria acompanhá-lo na sua trai-14
ção.
Tomás suplicava-lhe que o deixasse em paz, que não o obrigasse a roubar e a matar, mas Long Silver, cinicamen-te, procurava vencer-lhe os escrúpulos. Por fim, vendo que as suas palavras eram inúteis, o malvado John matou-o a golpes de muleta.
Pouco adiante, quase no mesmo instante, os seus - homens davam o mesmo fim a outro marinheiro fiei, chamado Alan.
Depois de mandar atirar no mar os cadáveres de Tomás e de Alan, John Silver tirou do bolso um. apito e deu alguns silvos, que soaram frouxos no ar cálido. Compreendi que o velho pirata estava chamando seus companheiros e isso como que me deu asas: desatei de novo a correr.
Minutos mais tarde, quando dei por mim, chegava junto de um morro, no alto do qual se viam carvalhos e pinheiros.
Parei para tomar fôlego.
Já pensava estar outra vez livre de perigo, quando notei que um vulto corria agilmente por entre as árvores. Vi-me dentro dois fogos. Logo em seguida, o mesmo vulto .tornou a surgir e pareceu querer dar uma longa volta para atacar-me. Sentindo-me perdido, tirei a pistola do bolso e avancei com grandes passos para o desconhecido. Ele estava escondido atrás de uma árvore e, mal me viu aproximar, atirou-se de joelhos no chão e estendeu para mim as mãos suplicantes.
Perguntei-lhe quem era. Respondeu-me, com voz rouca., que ora Ben Gunn. Vi que se tratava de um homem manco queimado pelo sol, vestido com pedaços de pano de tecido impermeável, unidos entre si por um curioso sistema de 15
cordões.
Ganhando coragem, contou-me que fora abandonado na-quela ilha havia três anos e que, durante esse tempo, e alimentara de cabras. e mariscos. Falou-me da sua aventurosa vida de pirata e da sua regeneração. Finalmente, depois de me ter dado a saber que era muito rico e poderia fazer muita coisa por mim, perguntou-me se o meu navio não era porventura o do capitão Flint. Respondi-lhe que não, mas acrescentei que a bordo havia muitos homens desse capitão.
Ben Gunn começou então a fazer-me perguntas.
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