Iracema: Texto Integral com comentários

Iracema

José de Alencar
Texto integral

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DIRETOR EDITORIAL: Raul Maia

EDITOR: Marco Saliba

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ORGANIZAÇÃO E COMENTÁRIOS: Laura Bacellar

REVISORES DA COLEÇÃO: Eder Fábio Odorize Veiga

Elmo Batista Odorize Veiga

GERENTE DE ARTE E CAPA: Clayton Barros Torres

COORDENADORA DE ARTE: Vera Ribeiro Ricardo

ILUSTRAÇÃO DA CAPA: João Lin

DIAGRAMAÇÃO: José Marcos Rigamont

Lucian Ferreira

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SUMÁRIO

Capa

Frontispício

Creditos

Apresentação

Introdução

I

II

III

IV

V

VI

VII

VIII

IX

X

XI

XII

XIII

XIV

XV

XVI

XVII

XVIII

XIX

XX

XXI

XXII

XXIII

XXIV

XXV

XXVI

XXVII

XXVIII

XXIX

XXX

XXXI

XXXII

XXXIII

Notas do autor

Carta ao Dr. Jaguaribe

 

APRESENTAÇÃO

O primeiro romance histórico

Biografia

 

José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, Ceará, 1829. Seu pai, o senador José Martiniano Pereira de Alencar, ex-padre e grande político liberal, foi um dos idealizadores do Clube da Maioridade, que levou dom Pedro ao trono em 1840.

Ainda menino, José de Alencar se mudou com a família para a Corte. Em São Paulo e, em parte, em Olinda, cursou direito (1845-1850). Formado, começou a advogar no Rio de Janeiro, mas foi logo absorvido pela literatura, primeiro como cronista do Correio Mercantil, depois como redator do Diário do Rio de Janeiro. No mesmo jornal saem em folhetim seus dois primeiros romances ambientados no Rio, Cinco Minutos (1856) e A viuvinha (1857), e o romance que o tornaria famoso, O Guarani (1857).

Com o falecimento do pai, em 1860, Alencar entra para a vida política elegendo--se seguidas vezes deputado provincial pelo Ceará e também conquistando a pasta da Justiça no ministério conservador de 1868-1870. Como romancista, Alencar escreveu uma variedade de obras em diferentes gêneros, entre elas, romances indianistas, históricos, regionalistas e urbanos.

Seus romances indianistas apresentam o indígena em três fases: civilizado e dominado pelos portugueses na luta pela conquista da terra (O guarani, 1857); nos primeiros contatos com o branco na constituição do Ceará (Iracema, 1865); selvagem, ainda sem a interferência do branco (Ubirajara, 1874).

Os romances históricos pintam o passado brasileiro, como no caso de As minas de prata (1864-1865), considerado o primeiro romance histórico da nossa literatura; A guerras dos mascates (1873), narra a revolução pernambucana de 1710. O garatuja, O ermitão da Glória e Alma de Lázaro, em seu conjunto, formam os Alfarrábios (1873), baseados em tradições cariocas.

Os romances regionalistas focalizam paisagens e tipos humanos de norte a sul do país, em obras como O sertanejo (1870) e O gaúcho (1875). O tronco do Ipê e Til (1872) são romances de fazendeiro, que descrevem um rural já marcado pela influência urbana.

Os romances urbanos caracterizam a Corte e a burguesia carioca do Segundo Reinado, baseados na mentalidade romântica da época, como A pata da gazela (1870), Sonhos d’Ouro (1872) e Senhora (1875). Entre eles, o autor também mergulha na intimidade feminina, como em Lucíola – perfil de mulher (1862) e Diva – perfil de mulher (1864). Alencar também escreveu folhetos de natureza política: Ao imperador – cartas políticas de Erasmo, Ao imperador – novas cartas políticas de Erasmo (1865) e Ao povo – cartas políticas de Erasmo (1866); O juízo de Deus: visão de Jó (1867) e O sistema representativo (1868).

Postumamente foram publicados o romance Encarnação (1877) e a autobiografia Como e por que sou romancista (1893). Em 1877, o escritor fez uma viagem à Europa para se tratar da tuberculose, doença que já o acometera na juventude. Regressando, no entanto, falece no mesmo ano no Rio de Janeiro, desiludido com a política e com a literatura.

 

Polêmicas

 

Jornalista, romancista, poeta, jurista e político, a carreira profissional de Alencar é tanto ampla quanto marcada por polêmicas. Bateu-se com a censura imperial, que suspendeu a representação de As asas de um anjo; com o conselheiro Lafayette, que chamou a heroína de Lucíola de “mostrengo moral”; com o escritor Frânklin Távora, que depreciou seu modo de conceber romances regionais; com Pinheiro Chagas, Antônio Henriques Leal e Antônio Feliciano de Castilho, críticos portugueses, nem sempre justos nem competentes, que o acusaram de “pouco vernáculo”, ou seja, de faltar com a correção no uso da língua portuguesa, de ter o vício de tornar o brasileiro uma língua diferente do velho português por meio de neologismos injustificáveis e de insubordinações gramaticais... críticas todas que Alencar respondeu elaborando uma teoria da língua brasileira. No entanto, a polêmica inaugural se deu com os defensores da poesia indianista de Gonçalves Magalhães.

Em 1856, Gonçalves Magalhães regressa da Europa com o poema Confederação dos Tamoios, editado por conta de dom Pedro II. Alencar inicia uma crítica sistemática da obra, evidenciando suas fraquezas, imperfeições métricas e a incapacidade do autor em tratar o indígena de modo poético, uma vez que, para Alencar, Gonçalves Magalhães não havia conseguido se despir de um modo de ver e sentir do homem civilizado para poder compor os selvagens em poema.

Em resposta, em 1857, Alencar publica O guarani em folhetim, como peça de demonstração de como deveria ser feita a epopeia indianista do Brasil em romance, então livre dos defeitos da obra de Gonçalves Magalhães e capaz de conferir verossimilhança à expressão linguística das personagens indígenas. O guarani alcança imenso e imediato sucesso em todo o país. No entanto, Iracema é considerado o melhor romance indianista de Alencar e o exemplar mais perfeito da prosa poética na ficção romântica brasileira.

 

Iracema: a reinvenção da linguagem e do nacional

 

Um guerreiro português perdido na floresta se depara por acaso com uma índia tabajara, que reage por impulso, flechando-o. Martim não revida, e Iracema o socorre e leva como hóspede à casa de seu pai, o pajé Araquém. Iracema é uma virgem consagrada a Tupã, cuja função religiosa, que exige virgindade, consiste em ministrar aos guerreiros o vinho da jurema, uma droga alucinógena consumida pelos tabajara em situações rituais. Apesar do interdito da sua condição, Iracema se apaixona por Martim e o acompanha quando este deixa a aldeia tabajara. Seu povo investe contra o casal mestiço, que é então acolhido pelos pitiguaras, índios inimigos dos tabajaras e aliados dos portugueses. No combate entre as duas etnias, Iracema se coloca ao lado de Martim e dos pitiguaras, mas se deprime ao ver o povo tabajara derrotado e massacrado. Na terra dos pitiguaras, Iracema dá à luz Moacir enquanto Martim se encontra ausente em combates ao lado de Poti e outros guerreiros. Sentindo-se abandonada e triste, Iracema não consegue se alimentar durante a amamentação e morre logo após entregar o filho ao pai. Martim deixa o Ceará com Moacir, mas volta quatro anos depois para ali fundar uma cidade e, numa aliança com os índios, afirmar a posse portuguesa sobre o território brasileiro.

Os 33 breves capítulos que constituem o trecho ficcional do romance podem ser divididos em duas partes: o encontro de Martim e Iracema nas terras altas dominadas pelos tabajaras, na encosta da Serra da Ibiapaba; e a vida do casal em terras pitiguaras, ao nível do mar, até a morte de Iracema. A primeira parte traz uma pintura paradisíaca da chegada do colonizador português, a sedução da índia, sua fuga com Martim, e o combate entre os dois povos inimigos, fazendo ruir o quadro edênico inicial para criar um novo Brasil, com base na submissão da natureza (americana) à cultura (europeia). A segunda parte apresenta a breve felicidade conjugal com o anúncio da gravidez de Iracema, depois a crescente infelicidade da protagonista, que culmina no nascimento de Moacir, no retorno Martim e na morte da índia logo em seguida.

Além dos 33 breves capítulos de texto ficcional, Iracema é composto por uma longa carta e entremeado por 128 notas explicativas. A carta começa antes do texto ficcional, como um prólogo, e termina depois das notas explicativas, como um posfácio. A carta é uma dedicatória a um conterrâneo e amigo do escritor, o cearense Domingos Jaguaribe, onde Alencar expõe a origem do livro e o programa nele contido. Iracema: lenda do Ceará é a recriação literária de uma lenda ouvida na infância, no Ceará, que objetiva a construção mítica das origens da nação brasileira com base em uma situação real: a existência histórica do colonizador do Ceará, Martim Soares Moreno, sua amizade com Poti, a conversão e o enobrecimento deste chefe indígena e as lutas contra os franceses pela manutenção do domínio português no Brasil.