Lady Barbarina

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Lady Barbarina

Henry James

Título original: Lady Barberina, depois revisto para Lady Barbarina

1884

Tradução de Leônidas de Carvalho

Rio de Janeiro, 1980

O Autor

HENRY JAMES nasceu em Nova York em 15 de abril de 1843, e morreu em Londres em 28 de fevereiro de 1916. Irmão do psicólogo e filósofo pragmatista William James, partiu para a Europa com a família quando tinha apenas doze anos. Ali frequentou, alternadamente, escolas europeias e americanas. Aos dezessete anos, voltou aos Estados Unidos para fazer o curso de direito. Mas as conferências do escritor James Russel Lowell sobre literatura fizeram-no esquecer as leis. Desta forma, em 1863, escreveu o primeiro conto: Uma tragédia do erro. Depois de nova viagem à Europa, passando por Inglaterra, França, Suíça e Itália, voltou aos Estados Unidos para ser crítico de arte na revista Atlantic, onde publicaria, em 1871, sua primeira novela, Observar e vigiar. Em 1872, passou a viver na Itália, escrevendo artigos sobre viagens e contos ali ambientados. Só voltou aos Estados Unidos para publicar o romance Roderick Hudson, o livro de contos Um peregrino apaixonado e a coletânea de viagens Cenas de Transatlântico. Em 1874 chegou a Paris como correspondente do jornal Tribune, escrevendo então o romance O americano e tomando contato com a literatura de Turgueniev, Flaubert, Zola, Maupassant e Édmond Goncourt.

O americano é considerado seu primeiro romance importante. Em 1878, Henry James recebeu verdadeira consagração ao publicar os ensaios literários Poetas e romancistas franceses, o romance Os europeus e mais de trinta contos. Dois anos depois, já radicado em Londres, publicou mais dois livros: A herdeira e Retrato de uma dama, sua obra mais extensa e popular, com a qual se encerrou a primeira fase de sua produção.

Na década de 1880, Henry James escreveu vários contos, a novela O refletor e três romances considerados naturalistas: Os bostonianos, Princesa Casamassina e Musa trágica. Nesses livros, o determinismo psicológico é uma característica evidente. São ainda dessa década os contos Lady Barbarina, Vida londrina, O autor de Beltraffic e Lição do mestre. A partir de 1890, consagrado pela crítica, James passou a se dedicar a um gênero então muito mais rendoso: o teatro. Escreveu para o palco, entre outras, as peças O americano, Daisy Miller, Livre, O réprobo e Calma de verão.

Desse período foram também suas experiências com o relato fantástico, onde se destaca A Volta do Parafuso (no Brasil, A outra volta do parafuso). Entre 1900 e 1904, escreveu seus três maiores romances: Os embaixadores, As asas da pomba e A taça dourada. Publicou mais três livros de contos e, nas horas de folga, dedicou-se à preparação de A Arte do Romance, valioso trabalho para a discussão desse gênero literário. Quando começou a Primeira Guerra Mundial, James cessou toda a atividade literária, lamentando "o horror de ter vivido para testemunhar tudo isso". Morreu em 1915, em consequência de um derrame, depois de ter adotado a cidadania britânica.

 

Lady Barbarina

I

Sabe-se muito bem que há poucas paisagens, no mundo, mais fascinantes que as avenidas de Hyde Park numa bela tarde de junho. E essa era exatamente a opinião de duas pessoas que, num lindo dia do começo daquele mês, há quatro anos, achavam-se instaladas à sombra das grandes árvores, em duas cadeiras de ferro (das grandes, de braços, pelas quais, se não me engano, se pagam dois pence). Tinham atrás de si o lento desfile pelo caminho do parque, os rostos voltados para a agitação mais vívida da avenida. Estavam perdidas na multidão de observadores e pertenciam, pelo menos aparentemente, à classe de pessoas que, onde quer que se encontrem, fazem parte mais dos espectadores que do espetáculo. Eram figuras tranquilas, simples, idosas e de aspecto algo neutro; o leitor muito as teria apreciado, embora dificilmente as houvesse observado. E no entanto, em toda aquela brilhante multidão, é a elas, gente obscura, que devemos dispensar atenção. Pedimos ao leitor que tenha confiança; não lhe solicitamos que faça desnecessárias concessões. Havia no rosto de nossos amigos a indicação de que estavam envelhecendo juntos e de que (se isso era uma condição) apreciavam a companhia um do outro o suficiente para não julgá-la desagradável. O leitor terá adivinhado que se tratava de marido e mulher; e, já que compreendeu isso, talvez tenha percebido que eram da nacionalidade que, no auge da estação, Hyde Park oferece de mais representativo. Eram desconhecidos, mas eram sempre vistos, por assim dizer; e pessoas ao mesmo tempo tão bem instaladas e tão desligadas das demais só poderiam ser americanas. Essa reflexão, na verdade, só se poderia fazer após certa demora, pois é preciso confessar que traziam, na superfície, poucos sinais patrióticos.