Tinham ideias próprias de americanos; isso, porém, era muito sutil; e a nossos olhos — se cuidássemos em olhar — podiam ser descendentes de ingleses, ou mesmo de outros europeus. Era como se lhes conviesse passar despercebidos; sua conversação era expressiva. Não muito animada, antes um tanto sombria e monótona. Se estavam interessados nos cavaleiros, nos cavalos, nos transeuntes, na grande exibição de riqueza, saúde, luxo e lazer, isso era porque tudo aquilo se referia a outras impressões, pois tinham solução para tudo o que necessitasse resposta — porque, em suma, podiam fazer comparações. Não tinham chegado, mas apenas voltado; e o conhecimento que tinham de tudo aquilo, mais que a surpresa, estava expresso em sua contemplação serena. Pode-se dizer muito bem, desde já, que Dexter Freer e a esposa pertenciam à classe de americanos que vivem, constantemente, "passando" por Londres. Possuidores de uma fortuna cujos limites eram perfeitamente visíveis de qualquer ponto de vista, não puderam ser senhores do mais alto dos prêmios: uma casa de moradia em seu próprio país. Acharam muito mais viável economizar em Dresden ou Florença, do que em Buffalo ou Minneapolis. A economia era grande, como também a inspiração. De Dresden e de Florença, além disso, faziam constantes excursões que não teriam sido possíveis nas outras duas cidades; e é de recear que seus métodos de economizar fossem um tanto rigorosos. Iam a Londres para comprar suas valises, escovas de dentes, e até papel para cartas; vez por outra, chegavam a atravessar o Atlântico para certificar-se de que os preços no outro continente ainda eram os mesmos. Constituíam, evidentemente, um par social; seus interesses eram principalmente pessoais. Com seu ponto de vista sempre tão nitidamente humano, passavam por grandes apreciadores de mexericos; e sem dúvida conheciam muita coisa sobre questões relacionadas a outras pessoas. Tinham amigos em todos os países, em todas as cidades; e não tinham culpa se as pessoas lhes contavam seus segredos. Dexter Freer era homem alto e magro, de olhar curioso e nariz mais aquilino que adunco, porém ainda assim saliente. Tinha cabelos estriados de branco, escovados e caídos sobre as orelhas, com aqueles cachos que se veem nos retratos de cavalheiros de barba raspada que floresceram há cinquenta anos; usava um cachecol antiquado e polainas. A esposa, de pequena estatura, rechonchuda, dotada de um frescor superficial, o rosto branco e os cabelos ainda inteiramente pretos, tinha imobilizado nos lábios um sorriso, embora nunca mais houvesse sorrido desde a morte de um filho que perdera dez anos depois de casada. Por outro lado, o marido, que em geral se mostrava com feições graves, entregava-se, nas grandes ocasiões, a ressonantes gargalhadas. As pessoas confiavam menos nela do que nele; isso, porém, pouco importava, porque ela confiava bastante em si própria. Seu vestido, sempre preto ou cinza-escuro, era tão harmoniosamente simples que se podia ver que gostava muito dele; era elegante, mas não por acaso. Cheia de intenções, não deixava de ser judiciosa; e, embora estivesse frequentemente viajando pelo mundo, seu ar era de quem estava sempre parada. Era conhecida pela presteza com que arranjava sua sala de estar numa hospedaria, onde talvez passasse apenas uma noite ou duas, fazendo com que o apartamento parecesse há muito tempo habitado. Com livros, flores, fotografias, cortinas, rapidamente distribuídos — na maior parte das vezes conseguia, até, arranjar um piano —, a morada provisória quase parecia ter-lhe sido legada. O casal acabara de voltar dos Estados Unidos, onde havia passado três meses, e podia, agora, encarar o mundo com a satisfação que sentem as pessoas que viram confirmadas suas previsões. Tinham achado seu país detestável.

— Lá está ele novamente — declarou o Sr. Freer, seguindo com os olhos um jovem que, lentamente, passava pela avenida cavalgando. — Está com um belo animal de raça!

A Sra. Freer fazia perguntas ociosas quando desejava tempo para pensar. Naquele momento, precisava simplesmente olhar e ver a quem se referia o marido.

— O cavalo é muito grande — observou, passado um momento.

— Você quer dizer que o cavaleiro é muito pequeno — replicou o marido. — Ele está montado nos próprios milhões.

— São mesmo milhões?

— Sete ou oito, é o que dizem.

— Que coisa desagradável! — Era dessa maneira, em geral, que a Sra.