Freer falava das grandes fortunas da época.

— Desejaria que ele nos visse — acrescentou.

— Ele vê, mas não gosta de olhar para nós. Não gosta de aparecer muito. Não é acessível.

— Por causa de seu grande cavalo?

— Sim, e de sua grande fortuna; tem até um pouco de vergonha dela.

— Este, então, é um lugar esquisito para ele vir — comentou a Sra. Freer.

— Não tenho certeza disso. Encontrará aqui pessoas mais ricas que ele, e outros grandes cavalos em abundância, e isso o animará. Talvez esteja procurando também aquela moça.

— Aquela de quem ouvimos falar? Ele não pode ser tão tolo assim.

— Não é tolo — disse Dexter Freer. — Se está pensando nela, tem lá suas razões.

— Fico imaginando o que diria Mary Lemon.

— Diria que estaria certo se se casasse com ela. Na opinião de Mary Lemon, ele não comete erros. Ademais estima-a muito.

— Não estou muito certa disso, caso leve para casa uma esposa que a deteste.

— Por que haveria a moça de detestá-la? É uma mulher muito agradável.

— A moça jamais saberia disso. E, mesmo que soubesse, isso não faria diferença; ela despreza tudo.

— Não creio, querida; deve gostar de muitas coisas. Todos serão muito delicados com ela.

— Ainda assim, desprezará a todos. Mas estamos falando como se tudo estivesse resolvido. Não acredito em nada disso — declarou a Sra. Freer.

— Bem, alguma coisa, de qualquer forma, há de acontecer, mais cedo ou mais tarde — respondeu o marido, virando-se para a parte do delta que se formava, próximo à entrada do parque, pela separação dos dois grandes espetáculos que ofereciam o caminho e a avenida.

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Nossos amigos davam as costas, como dissemos, para a solene revolução de rodas e a massa muito congestionada do público que havia escolhido aquela parte do espetáculo. Os espectadores foram todos agitados por um impulso: o recuo de cadeiras, o arrastar de pés, o farfalhar de vestidos e o murmúrio abafado de vozes o exprimiam suficientemente. Sua Alteza aproximava-se; Sua Alteza estava passando; Sua Alteza havia passado. Freer virou a cabeça e escutou um pouco; mas não alterou demasiadamente sua posição. A esposa não prestou atenção àquele pequeno tumulto. Ambos haviam visto figuras da realeza em toda a Europa, e sabiam que passavam muito depressa. Às vezes voltavam; outras, não; em mais de uma ocasião, tinham-nas visto passar pela última vez. Eram turistas veteranos e sabiam, perfeitamente, quando deviam levantar-se e quando deviam permanecer sentados. O Sr. Freer continuou com sua ideia: — Algum jovem certamente vai aparecer, e uma das moças certamente aceitará o risco. Aqui, elas têm cada vez mais de aceitar riscos.

— Tenho certeza de que as moças terão muito prazer nisso; têm tido pouquíssimas chances, até agora. Mas não quero que Jackson seja o primeiro a casar-se com uma inglesa.

— Sabe que me agradaria pensar que ele era o primeiro? Seria muito divertido — comentou Dexter Freer.

— Talvez para nós; mas não para ele. Ficará arrependido e sentir-se-á infeliz; não merece isso.

— Infeliz? Nunca! Não tem capacidade para ser infeliz, e é essa a razão por que pode arcar com o risco.

— Terá de fazer grandes concessões — observou a Sra. Freer.

— Não fará uma só.

— Eu gostaria de ver isso.

— Então admite que seria divertido, e, afinal, é o que estou alegando. Mas, como você disse, estamos falando como se tudo tivesse sido resolvido, enquanto provavelmente nada há de concreto. As melhores histórias quase sempre são falsas. Eu lamentaria muito se, nesta questão, fosse esse o caso.

Voltaram a ficar em silêncio, enquanto as pessoas passavam e continuavam a passar diante deles, contínua, sucessiva e mecanicamente, com estranha sequência de rostos.