Acabará concordando mais depressa.

— É tão teimoso. muito, mesmo. É fácil perceber isso. E parece pensar que uma jovem da posição de nossa filha pode casar-se de um dia para outro com um anel e um vestido novo, como uma criada.

— Bem, naturalmente é o que parece acontecer por lá. Mas ele deve possuir, na realidade, extraordinária fortuna, e toda gente costuma dizer que as mulheres, lá, têm carte blanche.

Carte blanche não é o que Barb deseja. Deseja um dote. Deseja uma renda definida. Deseja ficar garantida.

Lorde Canterville fitou-a por um momento com os olhos arregalados.

— Ela lhe disse isso? Pensei que você tivesse dito. Interrompeu-se, falando depois: — Desculpe-me.

Lady Canterville não deu explicação alguma sobre sua contradição. Passou a observar que as fortunas americanas eram notoriamente inseguras. Não se ouvia outra coisa; desfaziam-se como fumaça. Era dever deles, para com a filha, exigir que se fixasse alguma coisa.

— Ele possui um milhão e meio de libras — disse Lorde Canterville. — Não posso adivinhar o que faz com tudo isso.

— Nossa filha deve ter algo apreciável — observou a esposa.

— Bem, querida, você tem de regular isso; cabe a você fazê-lo. Mande chamar Hilary. Trate apenas de não afastá-lo. Como sabe, talvez esta seja uma excelente oportunidade. Há muita coisa a ser feita naquelas paragens. Acredito nisso — prosseguiu Lorde Canterville, no tom de um pai consciencioso.

— Não há dúvida de que ele é médico. naqueles lugares — disse Lady Canterville pensativamente.

— Pode ser até mascate; pouco importa.

— Se partirem, creio que Agatha poderia ir com eles — continuou a esposa no mesmo tom, um pouco aereamente.

— Se quiser, poderá mandar todos embora. Até logo — disse Lorde Canterville, beijando-a depois.

Ela, porém, deteve-o por um momento, com a mão sobre seu braço.

— Não acha que ele está muito apaixonado?

— Sem dúvida! Está muito apaixonado, mas é um diabinho muito esperto!

— Ela gosta muito dele — anunciou Lady Canterville, um tanto formalmente, ao separarem-se.

IV

Jackson Lemon dissera a Sidney Feeder, no parque, que visitaria o casal Freer. Mas somente três semanas depois bateu à porta deles, em Jermyn Street. Tinha-os encontrado, nesse meio tempo, num jantar, e a Sra. Freer declarara-lhe esperar que achasse tempo para visitá-la. Não o censurou; e sua clemência, calculada e muito característica, afetou-o tanto (pois sentia-se em falta: ela era uma das mais antigas e melhores amigas de sua mãe), que tratou de atender ao pedido. Era um belo domingo, quase ao fim da tarde, e a região de Jermyn Street apresentava-se deserta e quieta; a monotonia natural daquele cenário aparecia em toda a sua pureza. A Sra. Freer, entretanto, encontrava-se em casa, descansando num sofá não muito confortável — cheio de ângulos e forrado de chintz desbotado —, antes de vestir-se para jantar. Deixou o jovem muito à vontade; disse que pensara nele com frequência, e que desejara ter a oportunidade de falar-lhe. Jackson Lemon percebeu, imediatamente, o que tinha ela em mente, lembrando-se depois de que Sidney Feeder lhe havia contado o que o Sr. e a Sra.