Ao repor o chapéu na cabeça, deparou com o jovem de Cincinnati, que, a princípio, não percebera; sorriu ainda mais alegremente, e acenou vivamente, com a mão, para Sidney Feeder, freando por um instante o cavalo, como se esperasse que o médico fosse falar com ele. Vendo-o, porém, com estranhos, Sidney Feeder conteve-se e apenas os acompanhou com o olhar quando se afastaram.

É possível supor que, naquele momento, a jovem dama, ao lado da qual Jackson Lemon cavalgava, tenha perguntado com bastante familiaridade: — Quem são as pessoas a quem você cumprimentou?

— Velhos amigos meus. americanos — Jackson Lemon respondeu.

— É claro que são americanos; hoje em dia, não se veem senão americanos.

— É verdade, está chegando a nossa vez — gracejou o jovem.

— Isso, porém, não diz o que são — prosseguiu sua companheira. — É tão difícil saber de que classe são os americanos — acrescentou, antes que o moço tivesse tempo de responder.

— Dexter Freer e a esposa. Nada há de difícil nisso. Toda gente os conhece.

— Nunca ouvi falar neles — declarou a jovem inglesa.

— Ah! Por culpa sua! Garanto-lhe que toda gente os conhece.

— E toda gente conhece aquele homenzinho de rosto gordo a quem você enviou um beijo com a mão?

— Não beijei minha mão; mas teria beijado, se tivesse pensado nisso. É um grande camarada meu, um colega de universidade que tive em Viena.

— E como se chama?

— Dr. Feeder.

A companheira de Jackson Lemon guardou silêncio por um momento.

— Todos os seus amigos são médicos? — perguntou depois.

— Não, alguns exercem outras profissões.

— Todos exercem alguma profissão?

— A maioria, salvo dois ou três; Dexter Freer, por exemplo.

— Dexter Freer? Pensei que você tivesse falado Dr. Freer.

O jovem riu um pouco.

— Você ouviu mal. Está só pensando em médicos, Lady Barb.

— Dou graças a Deus de só pensar neles — disse Lady Barb, folgando as rédeas do cavalo, que partiu a galope.

— Ela é realmente muito bonita! — observou o Dr. Feeder, sentado à sombra das árvores.

— Ele vai casar-se com ela? — inquiriu a Sra. Freer.

— Casar-se com ela? Espero que não.

— Por que espera que não?

— Porque nada sei a seu respeito. Preciso conhecer algo sobre a mulher com quem aquele homem venha a casar-se.

— Suponho que você gostaria de que ele se casasse em Cincinnati — observou rapidamente a Sra. Freer.

— Bem, não sou exigente quanto ao lugar em que isso ocorra; mas desejo, primeiro, conhecê-la. — O Dr. Feeder mostrava-se firme nesse ponto.

— Julgávamos que estivesse a par de tudo isso — declarou o Sr. Freer.

— Não, não estava, porque não sei o que ele anda fazendo por aí.

— Ouvimos, de dezenas de pessoas, que neste último mês tem estado sempre em companhia dela; e, na Inglaterra, essa espécie de atividade, ao que se supõe, significa alguma coisa. Ele não se referiu à jovem quando esteve com você?

— Não, falou apenas a respeito do novo tratamento da meningite. Está muito interessado nessa moléstia.

— Duvido que fale sobre isso com Lady Barb — comentou a Sra. Freer.

— Mas, afinal, quem é ela? — perguntou o jovem doutor.

— Lady Barbarina Clement.

— E quem é Lady Barbarina Clement?

— Uma das filhas de Lorde Canterville.

— E Lorde Canterville, quem é?

— É Dexter quem deve responder sobre isso — disse a Sra. Freer.

Dexter contou-lhe, então, que o Marquês de Canterville fora, em seu tempo, grande desportista, e uma joia da sociedade inglesa, tendo ocupado, mais de uma vez, alta posição na casa real. Dexter Freer estava a par de muita coisa: como o lorde se casara com a filha de Lorde Treherne, mulher muito bonita, inteligente e recatada, que o redimira das extravagâncias cometidas na mocidade e o presenteara, em rápida sucessão, com uma dúzia de filhos para os berços de Pasterns, nome, como também sabia o Sr. Freer, da residência principal dos Canterville. O marquês era tory1, mas muito liberal para um verdadeiro tory, e muito popular na sociedade em geral; de boa índole, sabia ser cordial e, mesmo assim, conservar-se como grand seigneur; bastante hábil para fazer, de vez em quando, um discurso, estava muito ligado a vários problemas interessantes da Inglaterra, bem como a muitas das novas melhorias: moralização do turfe, abertura dos museus aos domingos, propagação de cafés-estalagens, últimas ideias relacionadas à reforma sanitária. Era contrário à concessão do direito de voto às mulheres; pensava de modo positivo na drenagem de terrenos. Dissera-se dele, pelo menos uma vez (penso que na imprensa), que era o homem indicado para inculcar no espírito popular a impressão de que a aristocracia britânica ainda constituía uma força viva. Não era muito rico (coisa lamentável para um homem que devia dar exemplo quanto àquelas verdades), e tinha doze filhos, entre os quais sete mulheres. Lady Barbarina, a amiga de Jackson Lemon, era a segunda; a mais velha casara-se com Lorde Beauchemin. O Sr. Freer não colhera bem a pronúncia exata desse nome: chamava-o de Bitumen.