Não fazia muito tempo que tinham vindo de Nova York em companhia dele, e o jovem, decerto, fora muito amável a bordo. Após um instante à frente do casal, de pé, o jovem percebeu que vagara uma cadeira ao lado da Sra. Freer, e apoderou-se dela. Uma vez sentado, disse-lhes o que pensava do parque e de como apreciava Londres. Como a Sra. Freer conhecia toda gente, muitas pessoas da família dele, nos Estados Unidos, não lhe eram desconhecidas; e, enquanto o ouvia, lembrava-se de quanto contribuíra a família do moço para a virtude e a cultura de Cincinnati. O horizonte social da Sra. Freer ia até essa cidade; ela mantivera relações quase íntimas com várias famílias de Ohio, e conhecia a posição dos Feeder lá, família muito numerosa e entrelaçada com grande parentela. Achava-se agora completamente fora de tal ambiente, mas podia dizer com quem o bisavô do Dr. Feeder se casara. Toda gente, na verdade, tinha ouvido falar das boas ações dos descendentes desse homem digno, quase todos excelentes médicos, cujos nomes, por assim dizer, estavam ligados a seus inúmeros atos de caridade. Sidney Feeder, que tinha vários primos com esse nome, exercendo, em Cincinnati, a mesma profissão, transferira-se juntamente com sua ambição para Nova York, onde sua clínica, ao cabo de três anos, começara a crescer. Estudara em Viena e impregnara-se da ciência alemã; na realidade, se usasse óculos, passaria perfeitamente por um jovem e distinto alemão ali sentado, observando os cavaleiros a passearem pela Rotten Row como em brilhante exibição. Viera a Londres a fim de participar de um congresso médico, que naquele ano se reunia na capital britânica, pois seu interesse pela arte de curar não se limitava, de forma alguma, à cura dos pacientes; abrangia toda forma de experiências. A expressão de seus olhos sinceros teria feito com que concordássemos com a vivissecção. Era a primeira vez que ia ao Hyde Park; dispunha de pouco tempo para contatos sociais. Mas, ao saber que se tratava, por assim dizer, de um espetáculo típico da vida inglesa, reservara conscienciosamente uma tarde para presenciá-lo; para isso, vestira-se a capricho.

— É um brilhante espetáculo — observou à Sra. Freer.

— Faz-me desejar ter um cavalo. — Embora rivalizasse pouco com Lorde Canterville, era bom cavaleiro.

— Espere até Jackson Lemon passar novamente. Você poderá detê-lo e pedir-lhe que o deixe dar uma volta. — Esta era a sugestão jocosa de Dexter Freer.

— Como? Ele está aqui? Tenho andado à procura dele; gostaria de vê-lo.

— Ele não vai comparecer a seu congresso médico?indagou a Sra. Freer.

— Bem, comparece, mas não o faz regularmente. Suponho que tenha muitos outros compromissos.

— Creio que tem uma belíssima razão, uma razão encantadora — disse o Sr. Freer, inclinando-se para a frente, em direção ao começo da avenida. — Uma adorável razão, não tenha dúvida!

O Dr. Feeder acompanhou a direção de seu olhar e, após um momento, compreendeu a alusão. O pequeno Jackson Lemon, montado em seu grande cavalo, passava novamente pela avenida, ao lado de uma das moças que, antes, tinham vindo por aquele caminho, em companhia de Lorde Canterville. Este vinha ao lado da outra, a filha mais moça, com quem conversava. Ao avançarem, Jackson Lemon voltou os olhos para a multidão à sombra das árvores e, por acaso, seu olhar encontrou o de Dexter Freer. Sorriu e ergueu o chapéu com a maior cordialidade possível; seus três acompanhantes viraram-se, para ver a quem ele cumprimentara tão cordialmente.