sempre são negócios com a justiça... o compadre é seu oficial, e ela há de punir pelos seus.

As ameaças da Maria não passavam de bravatas que lhe arrancava o despeito, e portanto com mais quatro razões do compadre cedeu, e foi restituída a paz em casa. Houve então larga conferência entre os dois, no fim da qual o compadre saiu dizendo:

– Ele há de voltar... aquilo é gênio... há de passar... e se não... o dito está dito; fico com o pequeno.

A Maria mostrou-se satisfeita. Tinha ela suas resoluções tomadas, ou anteriormente ou naquela ocasião, e por isso na conferência que referimos tratara de engordar o compadre e arrancar-lhe a promessa de que no caso de algum desarranjo tomaria a si e cuidaria do filho. Esse desarranjo ela figurara e o compadre acreditara que só partiria de Leonardo; porém o leitor vai ver que o pobre homem era condescendente, e que a Maria tinha razão quando falara ironicamente em honra de meirinho.

Toda esta cena que acabamos de descrever passou-se de manhã. À tardinha o Leonardo entrou pela loja do compadre, aflito e triste. O pequeno estremeceu no banco em que se achava sentado, lembrando-se do passeio aéreo que o pontapé de seu pai lhe fizera dar de manhã. O compadre adiantou-se e disse-lhe com um sorriso conciliador:

– O passado passado; vamos... ela está arrependida... doidices de rapariga... mas não há de fazer outra...

O Leonardo não respondeu; pôs-se a passear pela loja com as mãos cruzadas para trás e por baixo das abas da casaca; porém pelo seu semblante via-se que ele estimara as palavras do compadre, e que seria o primeiro a pronunciá-las se ele não o precedesse.

– Vamos até lá, disse o compadre, e acabe-se tudo! Coitada!... ela ficou muito chorosa.

– Vamos, disse o Leonardo...

Chegando à porta de casa fez uma pequena parada como quem tinha tomado a resolução de não entrar; mas o que ele queria eram algumas súplicas do compadre, que pudessem ser ouvidas pela Maria; a fim de fazê-la acreditar que se ele voltava era arrastado, e não por sua vontade. O compadre percebeu isto, e satisfez o pensamento de Leonardo dizendo:

– Entre, homem... basta de criançadas... o passado passado.

Entraram. A sala estava vazia; o Leonardo sentou-se junto de uma mesa, descansou o rosto numa das mãos, conservando sempre o chapéu armado atravessado na cabeça, o que lhe dava um aspecto entre cômico e melancólico.

– Comadre, disse em voz alta o agente da conciliação, tudo está acabado; venha cá...

Ninguém respondeu.

– Há de estar aí a chorar metida em algum canto, tornou o compadre.

E começou a procurar por toda a casa.

Não era esta mui grande; em pouco percorreu-a toda, e ficou tomado do mais cruel desapontamento por não encontrar a Maria. Voltou portanto à sala entre consternado e espantado.

O Leonardo, supondo que ele tinha achado a Maria, e que sem dúvida a trazia pela mão contrita e humilhada, quis fazer-se de bom: ergueu-se, meteu as mãos nos bolsos, e pôs-se de costas para o lugar donde vinha o compadre.

– Ó compadre, disse este aproximando-se...

– Nada, atalhou o Leonardo sem voltar-se... o dito por não dito... mudei de resolução!...

– Olhe, homem...

– Nada, nada... está tudo acabado...

O Leonardo, dizendo isto, ia dando sempre as costas ao compadre, quando se lhe queria pôr de frente.

– Homem... escute... olhe que a comadre...

– Não quero saber dela... está tudo acabado; e já disse...

– Foi-se embora... homem... foi-se embora, gritou o compadre impacientado.

O Leonardo foi fulminado por estas palavras; voltou-se então todo trêmulo. Não vendo a Maria desatou a chorar.

– Pois bem, disse entre soluços, está tudo acabado...