Pelo panfleto que escreveu sobre o assunto, recebeu o título de Cavalheiro, do rei Eduardo VII, tornando-se Sir Arthur Conan Doyle. A partir daí, tentou eleger-se duas vezes ao Parlamento britânico, mas não obteve êxito. Além disso, o escritor também promoveu uma campanha pela independência do Congo, país da África, sob o domínio da Bélgica, em que estava ocorrendo um verdadeiro genocídio das populações negras locais.

Na campanha do Congo, uniu-se aos jornalistas E. D. Morel e Bertram Robinson e ao diplomata Roger Caseman. Porém, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o trio assumiu posições pacifistas e Doyle rompeu com eles. Mesmo assim, o escritor promoveu uma campanha para livrar Caseman da pena de morte, quando este foi acusado de traição, pouco depois.

A morte da primeira esposa e de um dos filhos abalaram o escritor e o levaram ao espiritismo, do qual se tornou um grande defensor, tendo escrito diversos livros sobre o tema, um dos quais tem o professor Challenger, que era um cético, como protagonista. Também se tornou membro do célebre The Ghost Club (o Clube do Fantasma) de Londres, que se dedicava a pesquisas de experiências paranormais e do qual já havia sido membro outro grande escritor britânico, Charles Dickens. O The Ghost Club ainda existe (http://www.ghostclub.org.uk/).

Finalmente, resta dizer que Conan Doyle também bancou o detetive, em dois casos criminais que aconteceram na Inglaterra do seu tempo e cuja investigação oficial lhe pareceu errada. Investigando por conta própria e bancando bons advogados para os réus, ele conseguiu provar sua inocência. Dessa vida rica de experiências pessoais, literárias e públicas, contudo, Conan Doyle despediu-se abruptamente, fulminado por um infarto do miocárdio, aos 71 anos, em 7 de julho de 1930. Dele, pode-se dizer, como fez o ensaísta inglês Theodore Dalrymple, “não há dúvida que esse bom e grande homem acrescentou muito ao prazer e à instrução da raça humana. De quantos de nós se poderá dizer isso?”


Sobre o livro

 

A verdadeira história do Marie Celeste

Única foto existente do verdadeiro Marie Celeste

 

O conto de Conan Doyle que abre este volume se baseia em fatos reais. Em 30 de outubro de 1872, o navio mercante Marie Celeste deixou o porto de Nova York, com destino a Gênova, na Itália. O bergantim[1] estava carregado de álcool produzido nos Estados Unidos e o transportava para a Europa. Seu capitão se chamava Benjamin Briggs e embarcou com sua mulher, Sarah, e uma filha de dois anos, Sophia. O casal tinha também um menino que, em idade escolar, permaneceu na América, na casa de parentes.

A tripulação era formada por sete marinheiros, todos brancos. O primeiro imediato era norte-americano, assim como o camareiro. O segundo imediato era dinamarquês e os quatro marinheiros restantes alemães. Não havia passageiros a bordo. Desse modo, vê-se, desde o começo, que o escritor, tomando como base a realidade, moldou-a livremente de acordo com a sua imaginação, de modo a poder criar o caráter aventuresco e misterioso de seu conto.

Em 4 de dezembro de 1872, o Marie Celeste foi encontrado à deriva, na proximidade das ilhas Açores, no Atlântico Nordeste, descoberto pelo bergantim canadense Dei Gratia, comandado pelo capitão David Morehead. Os tripulantes dos Dei Gratia tentaram se comunicar com a outra embarcação, mas, como não houve resposta, decidiram abordá-lo. Foram a bordo do Marie Celeste os imediatos Oliver Deveau e John Wright, ficando ambos espantados com o que viram.

O bergantim estava deserto, porém não havia nenhum indício de que alguma coisa tivesse acontecido para provocar o desaparecimento da tripulação, pois tudo no interior do navio estava na mais perfeita ordem. Não havia avarias que indicassem ter sido o barco submetido a uma tormenta, não havia indícios de briga, que poderiam representar um motim. Enfim, somente uma coisa dava a entender que os tripulantes pudessem ter tomado a decisão de abandonar o barco: o bote salva-vidas também tinha desaparecido.

O capitão do Dei Gratia resolveu rebocar o Marie Celeste até Gibraltar, um território britânico no sul da península Ibérica e lá expor o caso às autoridades. As leis navais permitiam que aqueles que resgatassem um navio perdido, ficassem com sua carga, bem como vendê-la e dividir o dinheiro obtido entre si. Em Gibraltar, o caso foi levado à corte do Vice-Almirantado britânico, em 17 de dezembro, para ser julgado por Sir James Cochrane, o responsável pela administração da justiça no território. O julgamento arrastou-se por meses e foram discutidas as mais variadas hipóteses, uma das quais afirmava que os tripulantes do Marie Celeste haviam se embriagado com o álcool transportado no barco, mataram o capitão e sua família, e fugiram no bote salva vidas.

A hipótese não tinha o mínimo fundamento, porque o álcool transportado não era potável. Uma nova hipótese foi levantada: a de que o capitão do Marie Celeste e do Dei Gratia haviam feito um conluio para fraudar a companhia de seguro. Como nada ficou provado, o Marie Celeste foi reclamado por seus donos norte-americanos, que recuperaram sua propriedade e recompensaram os homens do Dei Gratia.

De qualquer modo, o caso atraiu a atenção do público e da imprensa e diversas teorias foram levantadas para tentar explicar o desaparecimento da tripulação.