Como seu quarto é confortável!

– Poderia ser, se ficasse em ordem, mas as empregadas são preguiçosas e não sei como fazer para que cuidem direito; mas me incomoda.

– Arrumo em dois minutos, é só varrer o pó da lareira, assim, e arrumar as coisas em cima da lareira, assim, e pôr os livros aqui, as garrafas ali, virar o sofá para a luz e afofar um pouco as almofadas. Pronto, está tudo arrumado.

E estava mesmo, pois, enquanto falava e ria, Jo ia pondo as coisas no lugar e deu um ar bem diferente ao quarto. Laurie olhou para ela num silêncio respeitoso e, quando ela lhe apontou o sofá, ele se sentou com um suspiro de satisfação, dizendo agradecido:

– Como você é gentil! Sim, era o que precisava. Agora, por favor, sente-se na poltrona e deixe-me fazer algo para entreter minha visita.

– Não, eu é que vim para entretê-lo. Posso ler em voz alta? – e Jo olhou cobiçosa para uns livros convidativos ali ao lado.

– Obrigado! Mas já li todos eles; se não se importar, prefiro conversar – respondeu Laurie.

– Não me importo nem um pouco. Falo o dia inteiro, se me deixar. Beth diz que nunca sei quando parar.

– Beth é a de faces rosadas, que fica muito em casa e às vezes sai com uma cestinha? – perguntou Laurie com interesse.

– Sim, esta é Beth. É minha menina, e muito boa, também.

– A bonita é Meg, e a de cabelos cacheados é Amy, eu acho?

– Como descobriu?

Laurie corou, mas respondeu com sinceridade:

– Bom, sempre escuto vocês se chamando, quando estou sozinho aqui em cima, e não posso deixar de olhar sua casa e vocês sempre parecem se divertir muito. Peço desculpas se estou sendo rude, mas é que às vezes vocês se esquecem de fechar as cortinas da janela que tem flores. E quando os lampiões estão acesos é como olhar um quadro e ver a lareira e todas vocês ao redor da mesa com sua mãe. O rosto dela fica bem em frente e parece tão meigo atrás das flores que não consigo deixar de olhar. Não tive mãe, sabe – e Laurie atiçou o fogo para disfarçar um leve tremor que não conseguia controlar.

Seu olhar solitário e carente tocou fundo o coração afetuoso de Jo. Ela fora criada de modo tão simples que nunca pensava bobagens e aos quinze anos era pura e inocente como uma criança. Laurie estava doente e solitário, e ela procurava dividir alegremente com ele a sensação de ser rica em lar e felicidade. Havia grande simpatia em seu rosto e uma rara gentileza em sua voz aguda quando disse:

– Bom, então nunca mais fecharemos as cortinas e eu lhe dou licença de olhar o quanto quiser. Mas só espero que, em vez de espiar, você venha nos visitar. Mamãe é maravilhosa, ela lhe faria muito bem, e Beth cantaria se pedíssemos, e Amy dançaria. Meg e eu encenaríamos nossas peças para você rir e se divertir. Será que seu avô deixa?

– Creio que sim, se sua mãe pedir. Ele é muito bondoso, embora não pareça, e me deixa fazer quase tudo o que quero, só tem medo que eu incomode os outros – começou Laurie, animando-se cada vez mais.

– Não somos estranhos, somos vizinhos, e não pense que seria um incômodo. Queremos conhecê-lo e há tempos venho tentando. Estamos aqui não faz muito tempo, sabe, e já fizemos amizade com todos os vizinhos, menos vocês.

– Bom, meu avô vive entre seus livros e não se importa muito com o que acontece lá fora. O sr. Brooke, meu preceptor, não mora aqui, e não tenho quem me leve para passear, então fico em casa e tento me virar como posso.

– Isso é ruim. Deveria fazer um esforço e ir visitar todos os que convidam, e aí teria muitos amigos e locais agradáveis para ir. Não se preocupe com a timidez. Ela passa se você se empenhar.

Laurie corou de novo, mas não ficou ofendido por ter sido chamado de tímido, pois havia tanta boa vontade em Jo que era impossível não gostar de suas palavras bruscas, mas gentis.

– Você gosta de sua escola? – perguntou o rapaz, mudando de assunto após uma pequena pausa enquanto olhava o fogo e Jo olhava ao redor, contente.

– Não frequento a escola, sou um profissional, isto é, uma profissional. Cuido de minha tia-avó, uma velha alma querida e rabugenta como ela só – respondeu Jo.

Laurie abriu a boca para fazer outra pergunta, mas, lembrando-se a tempo de que não era educado ficar especulando demais sobre a vida dos outros, fechou-a, novamente constrangido.

Jo gostou de sua cortesia e, como não se importava em rir da tia March, fez-lhe uma vívida descrição da senhora impaciente, do poodle gorducho, do papagaio que falava espanhol e da biblioteca na qual se esbaldava.

Laurie gostou imensamente da descrição e, quando Jo contou sobre o velho senhor empertigado que fora certa vez cortejar a tia March e que no meio de um belo discurso Poll lhe arrancou a peruca para seu grande desespero, o rapaz se recostou e riu até correrem lágrimas pelo rosto e a criada enfiou a cabeça pela porta para ver qual era o problema.

– Oh! Isso me faz muito bem. Vá em frente, por favor – disse ele levantando o rosto da almofada do sofá, corado e brilhando de alegria.

Muito animada com seu sucesso, Jo “foi em frente”, falou de seus planos e brincadeiras, de suas esperanças e temores pelo pai, e dos acontecimentos mais interessantes do mundinho no qual as irmãs viviam. Então passaram a falar de livros, e Jo descobriu, para sua alegria, que Laurie também gostava muito e até havia lido mais do que ela própria.

– Se você gosta tanto de livros, venha ver os nossos.