Mamãe disse que ele é muito simpático, apesar de nunca falar conosco, nós, meninas.

– Uma vez nosso gato fugiu e ele trouxe de volta; conversamos por cima da cerca e estávamos indo muito bem, falando de críquete e coisa e tal, quando ele viu Meg chegando e foi embora. Quero conhecê-lo algum dia, pois ele precisa se distrair, tenho certeza disso – falou Jo decidida.

– Gosto dos modos dele e parece um pequeno cavalheiro, então não faço objeção que você o conheça, se surgir uma ocasião adequada. Ele trouxe as flores pessoalmente, e eu o convidaria para entrar se tivesse certeza do que se passava lá em cima. Ele parecia muito tristonho quando foi embora, ouvindo toda aquela animação e certamente não tendo nenhuma em casa.

– Ainda bem que não o convidou, mãe! – riu Jo, olhando suas botas. – Mas alguma hora teremos outra peça a que ele possa assistir. Talvez ajude a encenar; não seria ótimo?

– Nunca ganhei um buquê antes; como é bonito! – e Meg examinou suas flores com grande interesse.

São lindas, mas as rosas de Beth são mais doces para mim – disse a sra. March, cheirando o ramalhete meio murcho que trazia no cinto.

Beth se aninhou nela e sussurrou suavemente:

– Gostaria de poder mandar meu buquê para papai. Receio que o Natal dele não esteja sendo feliz como o nosso.

1 Oh, meu Deus! (N.T.)

2 Que gostoso! Que anjinhas! (N.T.)

Capítulo 3

O jovem Laurence

– Jo! Jo! Onde você está? – gritou Meg ao pé da escada do sótão.

– Aqui! – respondeu uma voz rouca lá do alto; e, correndo escada acima, Meg encontrou sua irmã comendo maçãs e chorando sobre O herdeiro de Redcliffe, enrolada num cachecol sobre o sofá velho de três pernas, sob a janela ensolarada. Era o retiro favorito de Jo; adorava se recolher ali com meia dúzia de maçãs e um bom livro, para aproveitar o silêncio e a companhia de um ratinho de estimação que morava por lá e não se incomodava minimamente com a presença dela. Quando Meg apareceu, Rabisco chispou para sua toca. Jo enxugou as lágrimas do rosto e aguardou para ouvir as novidades.

– Que beleza, veja só! Um convite formal da sra. Gardiner para amanhã à noite! – exclamou Meg, acenando o precioso papel e começando a lê-lo com uma alegria infantil. – “A sra. Gardiner teria prazer em receber a srta. March e a srta. Josephine num pequeno baile na Véspera do Ano Novo.” Mamãe está disposta a nos deixar ir, mas que roupa usaremos?

– De que adianta perguntar, se você bem sabe que usaremos nossos vestidos de tafetá, pois não temos outra coisa? – respondeu Jo com a boca cheia.

– Se eu tivesse um de seda! – suspirou Meg. – Mamãe diz que eu talvez ganhe um quando fizer dezoito anos; mas esperar dois anos é uma eternidade.

– Tenho certeza de que nossos vestidos de tafetá parecem de seda e estão bons para nós. O seu parece novo, mas esqueci que o meu tem um rasgão e uma queimadura; o que será que faço? O queimado se vê muito, e não há como remover.

– Fique sentada o mais imóvel possível, sem mostrar as costas; a parte da frente está boa. Preciso de uma fita nova para o cabelo, e mamãe vai me emprestar o pequeno alfinete de pérola dela, meus sapatinhos novos são lindos e minhas luvas vão bem, embora não tão bonitas quanto eu gostaria.

– As minhas estão sujas de limonada e não tenho como conseguir outras, então vou ter de ir sem – disse Jo, que nunca se incomodava muito com roupas.

– Você precisa ir de luvas, senão não vou – exclamou Meg decidida. – Luvas são mais importantes do que todo o resto; não pode dançar sem elas, e se você não dançar ficarei tão mortificada...

– Então vou ficar parada. Não ligo muito para valsas e quadrilhas. Não tem graça ficar dando voltas. Gosto é de saltar e pular.

– Você não pode pedir luvas novas para mamãe, são muito caras e você é muito descuidada. Ela disse, quando você estragou as outras, que não ia lhe dar novas neste inverno. Você não consegue dar um jeito nelas?

– Posso ficar segurando na mão, e assim ninguém vai ver que estão manchadas. É o que dá para fazer. Espere! Tenho uma ideia do que podemos fazer: cada uma usa uma boa e fica segurando a estragada. O que você acha?

– Suas mãos são maiores do que as minhas, e você vai alargar muito a minha – começou Meg, para quem as luvas eram uma questão muito delicada.

– Então vou sem. Não me importa o que dirão! – exclamou Jo, pegando o livro outra vez.

– Está bem, está bem, deixo você usar! Só não manche e se comporte direito; não ponha as mãos para trás, nem fique encarando ninguém, nem diga “Cristóvão Colombo!”, está bem?

– Não se preocupe. Vou ficar o mais formal possível e não vou criar nenhuma encrenca, se conseguir evitar.