Agora vá responder ao convite e me deixe terminar essa magnífica história.
Meg saiu para “aceitar agradecida”, examinar o vestido e cantar alegremente enquanto ajeitava seu único babado de renda de verdade, enquanto Jo terminava seu romance e suas quatro maçãs e brincava de correr atrás do Rabisco.
Na Véspera do Ano Novo a sala de visitas estava deserta, pois as duas irmãs mais novas brincavam de camareiras e as duas mais velhas estavam concentradas na importantíssima tarefa de “se aprontar para a festa”. Por simples que fosse a toalete, era uma correria de um lado e outro, com risos e conversas, e de repente um cheiro forte de cabelo queimado se espalhou pela casa. Meg queria uns cachos em volta do rosto e Jo se encarregou de comprimir as madeixas enroladas em papelotes com um par de pinças quentes.
– Deveriam soltar fumaça assim? – perguntou Beth sentada na cama.
– É a umidade secando – respondeu Jo.
– Que cheiro estranho! Parece pena queimada – observou Amy, alisando seus belos cachinhos com ar superior.
– Pronto, agora vou tirar os papelotes e você verá uma nuvem de pequenos caracóis – disse Jo, pousando as pinças.
Realmente tirou os papelotes, mas não apareceu nenhuma nuvem de caracóis, pois os cabelos saíram junto com os papelotes e a cabeleireira horrorizada estendeu uma fila de embrulhinhos esturricados na cômoda diante da vítima.
– Oh, oh, oh! O que você fez? Que estrago! Não posso ir! Meu cabelo, oh, meu cabelo! – gemia Meg, olhando desesperada o frisado torto na testa.
– Que azar o meu! Você não devia ter pedido a mim; sempre estrago tudo. Peço milhões de desculpas, mas as pinças estavam quentes demais e fiz essa trapalhada – murmurava a pobre Jo, olhando as chapinhas torradas com lágrimas de dor.
– Não estragou; agora só frise e amarre a fita com as pontas avançando um pouco para a testa, e vai ficar parecendo a última moda. Tenho visto muitas garotas fazendo isso – disse Amy, em tom de consolo.
– Bem feito para mim, por tentar ficar elegante. Quem dera eu tivesse deixado meu cabelo em paz – exclamou Meg, petulante.
– Também acho, ele era tão liso e macio. Mas logo vai crescer outra vez – disse Beth, vindo dar um beijo e consolar a ovelha tosquiada.
Depois de vários percalços menores, Meg finalmente ficou pronta e, com a união dos esforços de toda a família, o cabelo de Jo foi penteado para o alto e o vestido foi devidamente trajado. Ficaram muito bem em suas roupas simples, Meg com seu tafetá de lã prata, uma fita de veludo azul, babados de renda e o alfinete de pérola; Jo de marrom, com um colarinho masculino de linho rígido e um ou dois crisântemos brancos como único enfeite. Cada qual vestiu uma bela luva clara, segurando a manchada na mão, e todas declararam o resultado “muito leve e bonito”. Os sapatos de salto alto de Meg eram horrivelmente apertados e machucavam, embora ela não o admitisse, e Jo sentia os dezenove grampos no cabelo como se estivessem cravados direto dentro da cabeça, o que não era propriamente muito confortável; mas, ora, é ser elegante ou morrer.
– Divirtam-se, queridas – disse a sra. March, enquanto as irmãs desciam faceiras pela trilha. – Não comam demais e estejam de volta às onze, quando eu mandar Hannah buscá-las.
Quando o portão bateu atrás delas, uma voz gritou pela janela:
– Meninas, meninas! Você duas estão levando uns lencinhos bonitos?
– Estamos, estamos, e bem bonitos, e Meg perfumou o dela com água de colônia – gritou Jo, acrescentando numa risada enquanto seguiam: – Creio que a mamãe perguntaria a mesma coisa se estivéssemos fugindo de um terremoto.
– É um de seus gostos aristocráticos, e muito apropriado, pois uma verdadeira dama sempre se reconhece pelos sapatos, luvas e lenços impecáveis – replicou Meg, que também tinha muitos pequenos “gostos aristocráticos”.
– Bom, não se esqueça de deixar o rasgão escondido, Jo. Minha faixa está direita? E meu cabelo parece feio demais? – perguntou Meg, ao se afastar do espelho no vestiário da sra. Gardiner após longas arrumações.
– Sei que vou esquecer. Se você me vir fazendo algo errado, só me lembre com uma piscadela, combinado? – replicou Jo, dando uma torcida no colarinho e uma rápida escovada no cabelo.
– Não, piscadela não é coisa de dama. Erguerei as sobrancelhas se houver algo errado e inclinarei a cabeça se estiver tudo bem. Agora, endireite os ombros e dê passinhos miúdos, não troque apertos de mão quando for apresentada a alguém, pois isso não se faz.
– Como você aprende toda essa etiqueta? Eu nunca consigo. Essa música não é alegre?
Desceram sentindo-se um pouquinho tímidas, pois raramente iam a festas e, por informal que fosse essa pequena reunião, para elas era um acontecimento. A sra. Gardiner, uma imponente dama de idade, cumprimentou-as carinhosamente e deixou-as a cargo da primogênita entre suas seis filhas. Meg conhecia Sallie e logo ficou à vontade; mas Jo, que não se interessava muito por meninas ou mexericos de meninas, ficou ali de pé, com as costas cuidadosamente apoiadas na parede, sentindo-se tão deslocada quanto um potro num canteiro de flores. Meia dúzia de rapazes joviais conversavam sobre patinação num outro canto da sala e ela ficou com vontade de se juntar a eles, pois patinar era das grandes alegrias de sua vida. Telegrafou sua ideia para Meg, mas as sobrancelhas delas se ergueram tão alarmadas que Jo não ousou se mexer. Ninguém veio conversar com ela e o grupo ali perto foi se dispersando aos poucos, até que ela ficou sozinha. Não podia vaguear e se entreter, pois a queimadura do vestido apareceria, e assim ela ficou olhando as pessoas um tanto desamparada, até se iniciarem as danças. Meg logo foi tirada para dançar, e os sapatos apertados voavam com tanta vivacidade que ninguém adivinharia a dor que provocavam em sua usuária tão sorridente. Jo viu um rapagão ruivo se aproximando de seu canto e, temendo que ele quisesse tirá-la para dançar, esgueirou-se para um nicho atrás da cortina, na intenção de espiar e se entreter em paz. Infelizmente, outro ser tímido escolhera o mesmo refúgio, pois, quando a cortina se fechou atrás dela, encontrou-se diante do “jovem Laurence”.
– Oh céus, eu não sabia que havia alguém aqui! – gaguejou Jo, preparando-se para sair com a mesma rapidez com que se abrigara ali.
Mas o rapaz riu e disse em tom simpático, embora parecendo um pouco espantado:
– Não se importe comigo; fique, se quiser.
– Não vou incomodá-lo?
– Nem um pouco; só vim aqui porque não conheço muita gente e me senti meio estranho de início, você sabe.
– Eu também. Não vá embora, por favor, a menos que queira.
O rapaz se sentou outra vez e ficou olhando suas botas, até que Jo disse, tentando ser polida e simpática:
– Creio que já tive o prazer de vê-lo antes; mora perto de nós, não?
– Na casa ao lado – e ergueu os olhos e desatou a rir, pois os modos cerimoniosos de Jo ficavam bastante engraçados ao se lembrar da conversa que tiveram sobre críquete quando ele foi levar o gato.
Com isso, Jo ficou à vontade e riu também, ao dizer com toda a sinceridade:
– Tivemos uma ótima noite graças a seu belo presente de Natal.
– Foi vovô quem mandou.
– Mas foi você que o convenceu, não foi?
– Como vai seu gato, srta. March? – perguntou o rapaz, tentando parecer sério, embora seus olhos negros faiscassem divertidos.
– Muito bem, obrigada, sr.
1 comment