O encontro entre Pessoa e Crowley ocorreu com algum sensacionalismo, dado o Poeta Inglês ter simulado o seu suicídio na Boca do Inferno, o que atraiu várias polícias e a atenção da mídia da época. Pessoa estaria dentro da encenação, tendo combinado com Crowley a notificação dos jornais e a redação de um “romance policial” cujos direitos reverteriam a favor dos dois poetas. Apesar de ter escrito várias dezenas de páginas, essa obra de ficção nunca foi concretizada...

 

Sinais usados na transcrição do texto

 

Pessoa publicou pouquíssimos livros em vida e, conforme quase toda a sua vasta obra se encontra em cadernos escritos a mão, por vazes há dúvidas na transcrição do texto.

 

(...) espaço em branco no original, ou texto em esboço

[?] leitura duvidosa

[...] texto ilegível (ou omitido)

[abc] texto conjeturado ou acrescentado

 

1. Não há sono no mundo

 

 

 

 

 

Onde se pretende expor alguns dos mais profundos poemas místicos de Pessoa, o poeta que foi muitos...

 

 

[Iniciação]

 

Não dormes sob os ciprestes,

Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes

Que encobrem teu ser profundo.

 

Vem a noite, que é a morte,

E a sombra acabou sem ser.

Vais na noite só recorte,

Igual a ti sem querer.

 

Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os Anjos a capa.

Segues sem capa no ombro,

Com o pouco que te tapa.

 

Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu.

Não tens vestes, não tens nada:

Tens só teu corpo, que és tu.

 

Por fim, na funda caverna,

Os Deuses despem-te mais:

Teu corpo cessa, alma externa,

Mas vês que são teus iguais.

 

A sombra das tuas vestes

Ficou entre nós na Sorte.

Não estás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.

 

 

[Mar português]

 

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

 

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

 

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

 

 

[Autopsicografia]

 

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

 

 

[Isto]

 

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escrevo. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.

 

Tudo o que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

 

Por isso escrevo em meio

Do que não está ao pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

 

 

[Rio sem fim]

 

Entre o sono e o sonho,

Entre mim e o que em mim

É o quem eu me suponho,

Corre um rio sem fim.

 

Passou por outras margens,

Diversas mais além,

Naquelas várias viagens

Que todo o rio tem.

 

Chegou onde hoje habito

A casa que hoje sou.

Passa, se eu me medito;

Se desperto, passou.

 

E quem me sinto e morre

No que me liga a mim

Dorme onde o rio corre —

Esse rio sem fim.

 

 

[A Presença Real]

 

Nesta vida, em que sou meu sono,

Não sou meu dono,

Quem sou é quem me ignoro e vive

Através desta névoa que sou eu

Todas as vidas que eu outrora tive,

Numa só vida.

Mar sou; baixo marulho ao alto rujo,

Mas minha cor vem do meu alto céu,

E só me encontro quando de mim fujo.

 

Quem quando eu era infante me guiava

Senão a vera alma que em mim estava?

Atada pelos braços corporais,

Não podia ser mais.

Mas, certo, um gesto, olhar ou esquecimento

Também, aos olhos de quem bem olhou,

A Presença Real sob o disfarce

Da minha alma presente sem intento.

 

 

[Tudo o que sou]

 

Pousa um momento,

Um só momento em mim,

Não só o olhar, também o pensamento.

Que a vida tenha fim

Nesse momento!

 

No olhar a alma também

Olhando-me, e eu a ver

Tudo quanto de ti teu olhar tem.

A ver até esquecer

Que tu és tu também.

 

Só tua alma sem tu

Só o teu pensamento

E eu onde, alma sem eu. Tudo o que sou

Ficou com o momento

E o momento parou.

 

 

[Meu passo está no Limiar]

 

Senhor, meu passo está no Limiar

        Da Tua Porta.

Faz-me humilde ante o que vou legar...

        Meu mero ser que importa?

Sombra de Ti aos meus pés tens, desenho

        De Ti em mim,

Faz que eu seja o claro e humilde engenho

        Que revela o teu Fim.

Depois, ou morte ou sombra o que aconteça

        Que fique, aqui,

Esta obra que é tua e em mim começa

        E acaba em Ti.

Sinto que leva ao mar Teu Rio fundo

        – Verdade e Lei –

O resto sou só eu e o ermo mundo...

        E o que revelarei.

A névoa sobe do alto da montanha

        E ergue-se à luz;

O claro cimo que a Tua luz banha

        Sereno e claro e a flux.

Eu quero ser a névoa que se ergue

        Para te ver;

A humanidade sofredora é cega

        O resto é apenas ser...

 

 

[12 signos]

 

Doze signos do céu o Sol percorre,

E, renovando o curso, nasce e morre

Nos horizontes do que contemplamos.

Tudo em nós é o ponto de onde estamos.

 

Ficções da nossa mesma consciência,

Jazemos o instinto e a ciência.

E o sol parado nunca percorreu

Os doze signos que não há no céu.

 

 

[Eros e Psique]

 

Conta a lenda que dormia 

Uma Princesa encantada 

A quem só despertaria 

Um Infante, que viria 

De além do muro da estrada. 

 

Ele tinha que, tentado, 

Vencer o mal e o bem, 

Antes que, já libertado, 

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem. 

 

A Princesa Adormecida, 

Se espera, dormindo espera, 

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida, 

Verde, uma grinalda de hera. 

 

Longe o Infante, esforçado, 

Sem saber que intuito tem, 

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado, 

Ela para ele é ninguém. 

 

Mas cada um cumpre o Destino 

Ela dormindo encantada, 

Ele buscando-a sem tino 

Pelo processo divino 

Que faz existir a estrada. 

 

E, se bem que seja obscuro 

Tudo pela estrada fora, 

E falso, ele vem seguro, 

E vencendo estrada e muro, 

Chega onde em sono ela mora, 

 

E, inda tonto do que houvera, 

À cabeça, em maresia 

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era 

A Princesa que dormia., 

 

 

[A rosa e a cruz]

 

Porque choras de que existe

A terra e o que a terra tem?

Tudo nosso – mal ou bem –

É fictício e só persiste

Porque a alma aqui é ninguém

 

Não chores!

Tudo é o nada

Onde os astros luzes são.

Tudo é lei e confusão.

Toma este mundo por estrada

E vai como os santos vão.

 

Levantado de onde lavra

O inferno em que somos réus

Sob o silêncio dos céus,

Encontrarás a Palavra,

O Nome interno de Deus.

 

E, além da dupla unidade

Do que em dois sexos mistura

A ventura e a desventura,

O sonho e a realidade,

Serás quem já não procura.

 

Porque, limpo do Universo,

Em Christo nosso Senhor,

Por sua verdade e amor,

Reunirás o disperso

E a Cruz abrirá em Flor.

 

Comentário

As ordens ou fraternidades Rosa Cruz são organizações místicas e esotéricas que se pretendem herdeiras de diversas tradições espiritualistas antigas. Elas defendem a fraternidade entre todos os homens e mulheres. Para isso, é necessário que cada um altere os seus hábitos, atitudes e pensamentos e desenvolva as suas potencialidades, segundo sua “verdadeira vontade”.

A Ordem Rosa Cruz tem como símbolo uma ou mais rosas decorando uma cruz. As variações (uma cruz envolvida por uma coroa de rosas; uma cruz com uma rosa ao centro; junto ao símbolo um duplo triângulo ou uma estrela, etc.) permitem distinguir as diversas fraternidades.

De acordo com algumas teorias, a Cruz é um signo masculino, que representa a divina energia criadora e fecundante; e a Rosa é um signo feminino, que contém o ovo cósmico (o que será fecundado).

Fernando Pessoa (em “A Procura da Verdade Oculta – Textos filosóficos e esotéricos”) fala sobre o significado da Cruz e da Rosa: “A dupla essência, masculina e feminina, de Deus – a Cruz. O mundo gerado, a Rosa, crucificada em Deus”.

E mais adiante: “Todo o homem, que tenha [de] talhar para si um caminho para o Alto, encontrará obstáculos incompreensíveis e constantes. [...] Este processo de vitória, figuram-no os emblemadores no símbolo da crucificação da Rosa – ou seja, no sacrifício da emoção do mundo (a Rosa, que é o círculo em flor) nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emoção fundamental, que formam o substrato do Mundo, não como Realidade (que isso é o círculo), mas como produto do Espírito (que isso é a cruz)”.

 

 

[No Túmulo de Christian Rosenkreutz]

 

I.

Quando, despertos deste sono, a vida,

Soubermos o que somos, e o que foi

Essa queda até Corpo, essa descida

Até à noite que nos a Alma obstrui,

 

Conheceremos pois toda a escondida

Verdade do que é tudo que há ou flui?

Não: nem na Alma livre é conhecida…

Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui.

 

Deus é o Homem de outro Deus maior:

Adam Supremo, também teve Queda;

Também, como foi nosso Criador,

 

Foi criado, e a Verdade lhe morreu…

De além o Abismo, Spirito Seu, Lha veda;

Aquém não a há no Mundo, Corpo Seu.

 

II.

Mas antes era o Verbo, aqui perdido

Quando a Infinita Luz, já apagada,

Do Caos, chão do Ser, foi levantada

Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

 

Mas se a Alma sente a sua forma errada,

Em si, que é Sombra, vê enfim luzido

O Verbo deste mundo, humano e ungido,

Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

 

Então, senhores do limiar dos Céus,

Podemos ir buscar além de Deus

O Segredo do Mestre e o Bem profundo;

 

Mas só de aqui, mas já de nós, despertos,

No sangue atual de Cristo enfim, libertos

Do a Deus que morre a geração do Mundo.

 

III.

Ah, mas aqui, onde irreais erramos,

Dormimos o que somos, e a verdade,

Inda que enfim em sonhos a vejamos,

Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

 

Sombras buscando corpos, se os achamos

Como sentir a sua realidade?

Com mãos de sombra. Sombras, que tocamos?

Nosso toque é ausência e vacuidade.

 

Quem desta Alma fechada nos liberta?

Sem ver, ouvimos para além da sala

De ser: mas como, aqui, a porta aberta?

 

Calmo na falsa morte a nós exposto,

O Livro ocluso contra o peito posto,

Nosso Pai Rosaeacruz conhece e cala.

 

 

[Tenho tanto sentimento]

 

Tenho tanto sentimento 

Que é frequente persuadir-me 

De que sou sentimental, 

Mas reconheço, ao medir-me, 

Que tudo isso é pensamento, 

Que não senti afinal. 

 

Temos, todos que vivemos, 

Uma vida que é vivida 

E outra vida que é pensada, 

E a única vida que temos 

É essa que é dividida 

Entre a verdadeira e a errada. 

 

Qual porém é a verdadeira 

E qual errada, ninguém 

Nos saberá explicar; 

E vivemos de maneira 

Que a vida que a gente tem 

É a que tem que pensar.

 

 

[Grandes mistérios]

 

Grandes mistérios habitam 

O limiar do meu ser, 

O limiar onde hesitam 

Grandes pássaros que fitam 

Meu transpor tardo de os ver. 

 

São aves cheias de abismo, 

Como nos sonhos as há. 

Hesito se sondo e cismo, 

E à minha alma é cataclismo 

O limiar onde está. 

 

Então desperto do sonho 

E sou alegre da luz, 

Inda que em dia tristonho; 

Porque o limiar é medonho 

E todo passo é uma cruz.

 

 

[Viajar!]

 

Viajar! Perder países! 

Ser outro constantemente, 

Por a alma não ter raízes 

De viver de ver somente! 

 

Não pertencer nem a mim! 

Ir em frente, ir a seguir 

A ausência de ter um fim, 

E a ânsia de o conseguir! 

 

Viajar assim é viagem. 

Mas faço-o sem ter de meu 

Mais que o sonho da passagem. 

O resto é só terra e céu.

 

 

[A pálida luz da manhã]

 

A pálida luz da manhã de inverno, 

O cais e a razão 

Não dão mais 'sperança, nem menos 'sperança sequer, 

Ao meu coração. 

O que tem que ser 

Será, quer eu queira que seja ou que não. 

 

No rumor do cais, no bulício do rio 

Na rua a acordar 

Não há mais sossego, nem menos sossego sequer, 

Para o meu 'sperar. 

O que tem que não ser 

Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.

 

 

[Análise]

 

Tão abstrata é a ideia do teu ser 

Que me vem de te olhar, que, ao entreter 

Os meus olhos nos teus, perco-os de vista, 

E nada fica em meu olhar, e dista 

Teu corpo do meu ver tão longemente, 

E a ideia do teu ser fica tão rente 

Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me 

Sabendo que tu és, que, só por ter-me 

Consciente de ti, nem a mim sinto.

 

E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto 

A ilusão da sensação, e sonho, 

Não te vendo, nem vendo, nem sabendo 

Que te vejo, ou sequer que sou, risonho 

Do interior crepúsculo tristonho 

Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

 

 

[Ilhas afortunadas]

 

Que voz vem no som das ondas 

Que não é a voz do mar? 

É a voz de alguém que nos fala, 

Mas que, se escutarmos, cala, 

 

Por ter havido escutar. 

E só se, meio dormindo, 

Sem saber de ouvir ouvimos 

Que ela nos diz a esperança

 

A que, como uma criança 

Dormente, a dormir sorrimos. 

São ilhas afortunadas 

São terras sem ter lugar, 

 

Onde o Rei mora esperando. 

Mas, se vamos despertando 

Cala a voz.

E há só o mar.

 

 

[Ulisses]

 

O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo –

O corpo morto de Deus,

 

Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

 

Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.

Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

 

E a fecundá-la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.

 

 

[Tormenta]

 

Que jaz no abismo sob o mar que se ergue? 

Nós, Portugal, o poder ser. 

Que inquietação do fundo nos soergue? 

O desejar poder querer. 

 

Isto, e o mistério de que a noite é o fausto... 

Mas súbito, onde o vento ruge, 

O relâmpago, farol de Deus, um hausto 

Brilha e o mar 'scuro 'struge.

 

 

[Prece]

 

Senhor, a noite veio e a alma é vil. 

Tanta foi a tormenta e a vontade! 

Restaram-nos hoje, no silencio hostil, 

O mar universal e a saudade. 

 

Mas a chama, que a vida em nos creou

Se ainda há vida ainda não é finda. 

O frio morto em cinzas a ocultou: 

A mão do vento pode erguê-la ainda. 

 

Dá o sopro, a aragem, – ou desgraça ou ânsia –, 

Com que a chama do esforço se remoça, 

E outra vez conquistemos a Distância – 

Do mar ou outra, mas que seja nossa!

 

 

[Liberdade]

 

Ai que prazer 

Não cumprir um dever. 

Ter um livro para ler 

E não o fazer! 

Ler é maçada, 

Estudar é nada. 

O sol doira sem literatura. 

O rio corre bem ou mal, 

Sem edição original. 

E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal 

Como tem tempo, não tem pressa... 

 

Livros são papéis pintados com tinta. 

Estudar é uma coisa em que está indistinta 

A distinção entre nada e coisa nenhuma. 

 

Quanto melhor é quando há bruma. 

Esperar por D. Sebastião, 

Quer venha ou não! 

 

Grande é a poesia, a bondade e as danças... 

Mas o melhor do mundo são as crianças, 

Flores, música, o luar, e o sol que peca 

Só quando, em vez de criar, seca. 

 

E mais do que isto 

É Jesus Cristo, 

Que não sabia nada de finanças, 

Nem consta que tivesse biblioteca...

 

2. O universo não é meu: sou eu

 

 

 

 

 

Onde Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros em Lisboa, descreve (sem uma ordem cronológica estabelecida) o seu cotidiano na Rua dos Douradores. Isto são alguns trechos do monumental “Livro do Desassossego” (e ainda virão outros mais, noutro capítulo)...

 

 

[O livro dos viajantes]

 

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como ele, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal.