Onde pensa que estive?”
“Num mesmo lugar também.”

“Cá está o Solar Baskerville, no meio.”
[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]
“Pelo contrário. Estive em Devonshire.”
“Em espírito?”
“Exatamente. Meu corpo permaneceu aqui nesta poltrona; e, lamento observar, consumiu na minha ausência dois grandes bules de café e uma incrível quantidade de tabaco. Depois que você saiu, mandei buscar no Stamford’s o mapa Ordnance dessa porção da charneca, e meu espírito pairou sobre ela o dia todo. Posso me orgulhar de ter conseguido localizar o que queria.”
“Um mapa de grande escala, presumo?”
“Muito grande.” Ele desenrolou uma seção e segurou-a sobre o joelho. “Aqui tem o distrito particular que nos interessa. Cá está o Solar Baskerville, no meio.”
“Com uma floresta à sua volta?”
“Exatamente. Imagino que a Aleia de Teixos, embora não marcada sob esse nome, deva se estender ao longo desta linha, com a charneca, como pode notar, à sua direita. Este pequeno aglomerado de construções aqui é a aldeola de Grimpen, onde nosso amigo dr. Mortimer tem seu quartel-general. Num raio de oito quilômetros, como vê, há somente algumas moradas dispersas. Aqui está o Solar Lafter, que foi mencionado na narrativa. Há uma casa indicada aqui que pode ser a residência do naturalista — se bem me lembro, seu nome é Stapleton. Aqui estão duas casas de fazenda na charneca, High Tor e Foulmire. Depois, a vinte e dois quilômetros de distância, a grande penitenciária de Princetown. Entre estes pontos espalhados e em torno deles estende-se a charneca desolada e triste. Este, portanto, é o palco em que a tragédia foi encenada, e no qual podemos ajudar a reencená-la.”
“Deve ser um lugar selvagem.”
“Sim, o cenário é condizente. Se o demônio desejasse se meter nos negócios dos homens…”
“Então você mesmo está tendendo para a explicação sobrenatural.”
“Os agentes do demônio podem ser de carne e osso, não podem? Há duas perguntas esperando por nós de saída. A primeira é se, afinal, algum crime foi cometido; a segunda é: que crime foi esse e como foi cometido? É claro que, se a suposição do dr. Mortimer for correta, e estivermos lidando com forças que escapam às leis comuns da natureza, nossa investigação está encerrada. Mas temos obrigação de esgotar todas as outras hipóteses antes de recorrer a essa. Penso que vamos fechar aquela janela de novo, se você não se importa. É uma coisa singular, mas constato que uma atmosfera concentrada ajuda a concentração do pensamento. Ainda não cheguei ao ponto de me enfiar numa caixa para pensar, mas esse é o resultado lógico de minhas convicções. Refletiu sobre o caso?”
“Sim, pensei muito sobre ele ao longo do dia.”
“Que acha dele?”
“É bem desnorteante.”
“É certamente peculiar. Apresenta pontos singulares. A mudança nas pegadas, por exemplo. Que deduz disso?”
“Mortimer disse que o homem havia andado na ponta dos pés naquele trecho da aleia.”
“Ele apenas repetiu o que algum tolo disse no inquérito. Por que um homem haveria de andar na ponta dos pés por uma aleia?”
“O que foi então?”
“Ele estava correndo, Watson — correndo desesperadamente, correndo para salvar a própria pele, correndo até estourar seu coração e cair de bruços, morto.”
“Correndo do quê?”
“Aí está o nosso problema. Há indicações de que o homem ficou enlouquecido de medo antes mesmo de começar a correr.”
“Como pode dizer isso?”
“Estou presumindo que a causa de seus medos lhe chegou pela charneca.
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