Se foi assim, e isso parece extremamente provável, somente um homem que tivesse perdido o juízo teria corrido para longe da casa, em vez de correr em direção a ela. Se o depoimento do cigano pode ser tomado como verdadeiro, ele correu gritando por socorro para onde o socorro tinha menos probabilidade de estar. Além disso, quem ele esperava aquela noite, e por que esperava essa pessoa na Aleia de Teixos, e não em sua casa?”

“Acha que ele estava esperando alguém?”

“O homem era idoso e enfermo. Podemos compreender que fizesse um passeio noturno. Mas o terreno estava úmido e a noite, inclemente; é natural que tenha passado de cinco a dez minutos parado, como o dr. Mortimer, com mais senso prático do que eu lhe teria atribuído, deduziu das cinzas do charuto?”

“Mas ele saía todas as noites.”

“Julgo improvável que esperasse no portão da charneca todas as noites. Ao contrário, os indícios são de que evitava a charneca. Naquela noite esperou ali. Era a véspera de sua partida para Londres. A coisa toma forma, Watson. Torna-se coerente. Eu lhe pediria que me passasse o meu violino, e vamos adiar toda a reflexão adicional sobre esta questão até o nosso encontro com o dr. Mortimer e Sir Henry Baskerville de manhã.”

IV. SIR HENRY BASKERVILLE

A MESA DO NOSSO DESJEJUM foi tirada cedo, e Holmes esperou de roupão pela entrevista prometida. Nossos clientes chegaram na hora marcada: o relógio acabara de soar dez horas quando o dr. Mortimer foi introduzido, acompanhado pelo jovem baronete. Este último era um homem baixo, alerta, de olhos escuros, com cerca de trinta anos, de constituição muito vigorosa, grossas sobrancelhas pretas e um rosto forte, pugnaz. Usava um terno de tweed de cor avermelhada e tinha a aparência castigada pelo tempo de quem passou a maior parte de sua vida ao ar livre, embora alguma coisa em seu olhar firme e na segurança serena de seu porte indicasse o cavalheiro.

“Este é Sir Henry Baskerville”, disse o dr. Mortimer.

“Sim”, disse ele, “e o estranho, Mr. Sherlock Holmes, é que se meu amigo aqui não tivesse proposto virmos vê-lo esta manhã, eu teria vindo por minha própria conta. Pelo que sei o senhor desvenda pequenos enigmas, e deparei com um esta manhã que requer mais reflexão do que sou capaz de lhe dedicar.”

“Por favor, sente-se, Sir Henry. Está me dizendo que o senhor mesmo teve uma experiência extraordinária depois que chegou a Londres?”

“Nada de grande importância, Mr. Holmes. Só uma brincadeira, muito provavelmente. Foi esta carta, se podemos chamá-la assim, que me chegou esta manhã.”

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Sir Henry Baskerville

[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]

Pôs o envelope sobre a mesa, e todos nos debruçamos sobre ele. Era de qualidade comum, pardo. O endereço, “Sir Henry Baskerville, Northumberland Hotel”, estava escrito em toscas letras de forma; o carimbo era “Charing Cross”, e a data da postagem, a noite anterior.

“Quem sabia que o senhor ia para o Northumberland Hotel?” perguntou Holmes, lançando um olhar incisivo para nosso visitante.

“Ninguém podia saber. Só decidi depois de me encontrar com o dr. Mortimer.”

“Mas o dr. Mortimer sem dúvida já estava hospedado lá, não?”

“Não, eu estivera hospedado com um amigo”, disse o médico.