“Pediu-me que os levasse até lá assim que chegassem.”
“Tem alguma objeção a que eu dê uma olhada em seu registro?” perguntou Holmes.
“Nenhuma.”
O livro mostrava que dois nomes haviam sido acrescentados depois do de Baskerville. Um era Theophilus Johnson e família, de Newcastle; o outro, Mrs. Oldmore e criada, de High Lodge, Alton.
“Com certeza deve ser o mesmo Johnson que conheci”, disse Holmes ao porteiro. “Um advogado, não é, de cabeça grisalha e que anda coxeando?”
“Não, senhor, este é Mr. Johnson, o dono de minas de carvão, um cavalheiro muito ativo, não mais velho que o senhor.”
“Tem certeza de que não se engana quanto à sua ocupação?”
“Não, senhor. Ele frequenta este hotel há muitos anos e nós o conhecemos muito bem.”
“Ah, isso decide a questão. Mrs. Oldmore, também; tenho a impressão de me lembrar do nome. Desculpe minha curiosidade, mas muitas vezes ao visitar um amigo encontramos outro.”
“É uma senhora enferma, senhor. Seu marido é um ex-prefeito de Gloucester. Ela sempre fica conosco quando está na cidade.”
“Muito obrigado; acho que não posso dizer que a conheço. Estabelecemos um fato da maior importância com essas perguntas, Watson”, continuou ele, em voz baixa, quando subíamos juntos. “Sabemos que as pessoas que estão tão interessadas em nosso amigo não se instalaram em seu próprio hotel. Isso significa que, embora estejam, como vimos, muito ansiosas por vigiá-lo, estão igualmente ansiosas por não serem vistas por ele. Ora, este é um fato extremamente sugestivo.”
“Que sugere ele?”
“Sugere… ora, meu caro amigo, que diabos está acontecendo?”
Ao chegarmos ao topo da escada, topamos com o próprio Sir Henry Baskerville. Com as faces coradas de raiva, tinha na mão uma botina velha e empoeirada. Estava tão furioso que mal conseguia falar, mas quando conseguiu, foi num dialeto muito mais desabrido e típico do Oeste que qualquer coisa que tínhamos ouvido dele de manhã.
“Tenho a impressão de que estão me fazendo de idiota neste hotel”, exclamou. “Verão que começaram a zombar do homem errado, a menos que tenham muito cuidado. Com a breca, se aquele sujeito não conseguir achar minha botina perdida vai haver confusão. Posso aceitar uma brincadeira tão bem quanto qualquer um, Mr. Holmes, mas desta vez eles foram um pouco longe demais.”

“Tinha na mão uma botina velha e empoeirada.”
[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]
“Ainda procurando a sua botina?”
“Sim, senhor, e pretendo encontrá-la.”
“Mas não disse que era uma botina marrom nova?”
“E era, senhor. E agora é uma botina preta velha.”
“Quê! Não está querendo dizer…?”
“É exatamente isso que quero dizer. Eu tinha apenas três pares neste mundo — o marrom novo, o preto velho e o de verniz, que estou usando. Ontem à noite levaram um pé das botinas marrons, e hoje surrupiaram um das pretas. E então, encontrou-a? Fale homem, não fique aí com esses olhos arregalados!”
Um agitado camareiro alemão havia entrado em cena.
“Não, senhor; investiguei no hotel inteiro, mas não tive notícia dela.”
“Bem, ou essa botina reaparece antes do pôr do sol, ou irei procurar o gerente e lhe dizer que deixo este hotel incontinente.”
“Ela será encontrada, senhor… prometo-lhe que se tiver um pouco de paciência ela será encontrada.”
“Cuide disso, porque esta é a última coisa minha que perco neste covil de ladrões. Bem, bem, Mr. Holmes, vai me desculpar por incomodá-lo por tamanha bagatela…”
“Penso que isso merece o incômodo.”
“Parece levar o caso muito a sério.”
“Como o senhor o explica?”
“Simplesmente não tento explicá-lo. Parece a coisa mais louca, mais esquisita que já me aconteceu.”
“A mais esquisita, talvez”, disse Holmes, pensativo.
“O que deduz do incidente?”
“Bem, ainda não declaro compreendê-lo. Esse seu caso é muito complexo, Sir Henry. Quando tomado em conjunção com a morte do seu tio, não tenho certeza de que em todos os quinhentos casos de importância capital de que tratei haja um tão enigmático.
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