Encontramos um curto vale entre penhascos irregulares que levava a um espaço relvado aberto salpicado com o branco erióforo. No meio dele erguiam-se duas grandes pedras, tão gastas e aguçadas na extremidade superior que se assemelhavam às presas imensas e corroídas de um animal monstruoso. O lugar correspondia em todos os aspectos à cena da antiga tragédia. Sir Henry, muito interessado, perguntou a Stapleton mais de uma vez se ele realmente acreditava na possibilidade da interferência do sobrenatural nos assuntos dos homens. Falava com indiferença, mas era evidente que não brincava. Stapleton foi reservado em suas respostas, mas era fácil ver que falava menos do que podia e que não queria expressar tudo que pensava em consideração aos sentimentos do baronete. Contou-nos casos similares, em que famílias haviam sofrido alguma influência maligna, e deixou-nos com a impressão de que partilhava a visão popular sobre o caso.

“Levou-nos até o lugar.”
[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]
No caminho de volta paramos para almoçar na Casa Merripit, e foi ali que Sir Henry ficou conhecendo Miss Stapleton. Desde o momento em que a viu, pareceu fortemente atraído por ela e, ou muito me engano, o sentimento foi mútuo. Ele se referiu a ela muitas vezes em nossa caminhada de volta, e desde então mal se passou um dia em que não tenhamos visto o irmão ou a irmã. Eles virão jantar aqui esta noite, e fala-se que iremos jantar com eles semana que vem. Seria de imaginar que um casamento como esse fosse visto com muito bons olhos por Stapleton, no entanto captei mais de uma vez um olhar da mais profunda reprovação em sua fisionomia quando Sir Henry dava alguma atenção à irmã. Ele lhe é muito apegado, sem dúvida, e viveria uma vida solitária sem ela, mas pareceria o cúmulo do egoísmo se viesse a impedi-la de fazer um casamento tão brilhante. Estou certo de que ele não deseja que a intimidade dos dois se desenvolva em amor e observei várias vezes que se esforça para impedi-los de ficar tête-à-tête. A propósito, suas instruções para que eu nunca permita que Sir Henry saia sozinho se tornarão muito incômodas se um caso de amor vier a se acrescentar às nossas outras dificuldades. A estima de que desfruto logo sofreria se eu levasse suas ordens ao pé da letra.
Outro dia — quinta-feira, para ser mais exato —, o dr. Mortimer almoçou conosco. Ele andou escavando um túmulo em Long Down e encontrou um crânio pré-histórico que o deixou imensamente feliz. Nunca houve um entusiasta tão obstinado como ele! Os Stapleton chegaram mais tarde, e o bondoso médico levou-nos a todos à Aleia de Teixos, a pedido de Sir Henry, para nos mostrar exatamente como tudo ocorreu naquela noite fatal. É uma alameda longa e desoladora, a Aleia de Teixos, entre dois altos muros de sebe, com uma estreita faixa de relva de cada lado. Na extremidade oposta há um velho chalé de verão em ruínas. A meio caminho fica o portão da charneca, onde o velho cavalheiro deixou a cinza de seu charuto. É um portão de madeira branca com um trinco. Do outro lado estende-se a ampla charneca. Lembrei-me da sua teoria sobre o caso e tentei imaginar tudo que acontecera. Quando estava parado ali, o velho viu alguma coisa se aproximando através da charneca, algo que o aterrorizou de tal maneira que ele perdeu o juízo e saiu correndo desabaladamente até morrer de puro horror e exaustão. Lá estava o longo e escuro corredor por onde ele fugiu. E de quê? De um cão pastor da charneca? Ou de um cão espectral, negro, silente e monstruoso? Teria havido interferência humana no caso? Saberia o pálido e atento Barrymore mais do que queria professar? Tudo era confuso e vago, mas a sombra escura do crime está sempre por trás.
Conheci um outro vizinho desde que lhe escrevi pela última vez. Trata-se de Mr. Frankland, do Solar Lafter, que mora cerca de seis quilômetros ao sul de nós. É um homem idoso, de rosto vermelho, cabelo branco, e colérico.
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