Foi uma vigília extremamente melancólica, e terminamos os dois por adormecer em nossas cadeiras. Felizmente não desanimamos, e decidimos tentar novamente. Na noite seguinte reduzimos a luz da lâmpada e ficamos fumando cigarros, sem fazer o menor ruído. Foi incrível a lentidão com que as horas se arrastaram, e no entanto éramos estimulados a persistir pelo mesmo tipo de interesse paciente que o caçador deve sentir quando vigia a armadilha em que espera que a caça possa cair. Uma badalada, duas, e tínhamos quase desistido pela segunda vez, desesperançados, quando num instante ambos nos retesamos em nossas cadeiras, todos os nossos sentidos fatigados vivamente alertas novamente. Tínhamos ouvido um rangido de passos no corredor.
Nós o ouvimos passar muito furtivamente até desaparecer a distância. Então o baronete abriu suavemente a sua porta, e partimos em perseguição. Nosso homem já contornara a galeria, e o corredor estava mergulhado na escuridão. Avançamos de mansinho até passar à outra ala. Chegamos exatamente a tempo de ver de relance a figura alta, de barba preta e ombros caídos que percorria o corredor na ponta dos pés. Em seguida ele entrou pela mesma porta que antes, e a luz da vela a emoldurou na escuridão e lançou um único raio amarelo através do corredor sombrio. Arrastamos os pés cautelosamente em direção a ela, experimentando cada tábua antes de ousar pôr todo o nosso peso sobre ela. Havíamos tomado a precaução de deixar nossas botinas para trás, mas, mesmo assim, as velhas tábuas estalavam e rangiam sob nossos passos. Por vezes parecia impossível que ele não percebesse nossa aproximação. No entanto, felizmente o homem é bastante surdo e estava todo concentrado no que fazia. Quando por fim chegamos à porta e espiamos, vimos que ele estava agachado junto à janela, vela na mão, o rosto atento comprimido contra a vidraça, exatamente como eu o vira duas noites antes.
Não havíamos traçado nenhum plano de campanha, mas o baronete é um homem para quem o caminho mais direto é sempre o mais natural. Entrou pelo quarto, diante do que Barrymore saltou da janela com um suspiro agudo e parou, lívido e trêmulo, diante de nós. Seus olhos escuros, brilhando na máscara branca de seu rosto, estavam cheios de horror e espanto enquanto olhava de Sir Henry para mim.
“O que faz aqui, Barrymore?”
“Nada, senhor.” Seu nervosismo era tão grande que mal conseguia falar, e as sombras saltavam para cima e para baixo com o tremor de sua vela. “Foi a janela, senhor. Passo à noite para ver se estão trancadas.”
“No segundo andar?”
“Sim, senhor, todas as janelas.”
“Ouça, Barrymore”, disse Sir Henry severamente, “estamos decididos a lhe arrancar a verdade, de modo que evitará problemas confessando o quanto antes. Vamos! Nada de mentiras. O que fazia nessa janela?”
O sujeito nos lançou um olhar impotente, torcendo as mãos como alguém que se encontra no mais alto grau de dúvida e aflição.

“O que faz aqui, Barrymore?”
[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]
“Não fazia nada de mal, senhor. Apenas segurava a vela junto da janela.”
“E por que segurava uma vela junto da janela?”
“Não me pergunte, Sir Henry… não me pergunte! Dou-lhe minha palavra, senhor, de que esse segredo não me pertence, e que não posso revelá-lo. Se dissesse respeito apenas a mim, eu não tentaria ocultá-lo do senhor.”
Tendo uma ideia súbita, peguei a vela no peitoril da janela onde o mordomo a pousara.
“Certamente ele a segurava como um sinal”, disse eu. “Vejamos se há alguma resposta.”
Segurei-a como ele o fazia, e espreitei a escuridão da noite. Pude discernir vagamente a barreira escura das árvores e a vastidão mais clara da charneca, pois a lua estava atrás das nuvens. Soltei então um grito exultante, pois um minúsculo ponto de luz amarela havia subitamente trespassado o véu escuro, brilhando firmemente no centro do quadrado negro emoldurado pela janela.
“Lá está!” exclamei.
“Não, não, senhor, isso não é nada… absolutamente nada”, interrompeu-me o mordomo; “eu lhe asseguro, senhor…”
“Mova sua luz através da janela, Watson!” exclamou o baronete. “Veja, a outra se move também! E agora, seu velhaco, nega que isso seja um sinal? Vamos, fale! Quem é seu aliado lá adiante, e que conspiração é essa?”
O semblante do homem tornou-se claramente desafiador. “É um assunto meu, não seu. Não vou falar.”
“Então deixe este emprego imediatamente.”
“Muito bem, senhor.
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