Sherlock Holmes?”

Meu amigo curvou-se, num cumprimento.

“O senhor é rápido na identificação”, disse.

“Estamos à sua espera por aqui desde que o dr. Watson chegou. Veio a tempo de ver uma tragédia.”

“Sim, de fato. Não tenho dúvida de que a explicação de meu amigo dá conta dos fatos. Levarei comigo uma lembrança desagradável para Londres amanhã.”

“Oh, voltará amanhã?”

“É a minha intenção.”

“Espero que sua visita lance alguma luz sobre essas ocorrências que nos deixaram perplexos.”

Holmes deu de ombros. “Nem sempre podemos ter o sucesso que desejamos. Um investigador precisa de fatos, não de lendas e rumores. Não foi um caso satisfatório.”

Meu amigo falava da sua maneira mais franca e indiferente. Stapleton ainda olhava intensamente para ele. Depois se virou para mim.

“Eu sugeriria que carregássemos este pobre homem para a minha casa, mas isso causaria tamanho horror à minha irmã que não me sinto no direito de fazê-lo. Acho que se cobrirmos seu rosto com alguma coisa ele ficará em segurança até de manhã.”

Assim foi feito. Resistindo à oferta de hospitalidade de Stapleton, Holmes e eu partimos para o Solar Baskerville, deixando o naturalista voltar sozinho. Olhando para trás, vimos seu vulto afastar-se lentamente pela vasta charneca, e atrás dele aquela única mancha preta na encosta prateada que mostrava onde jazia o homem que chegara tão horrivelmente a seu fim.

“Finalmente estamos perto de agarrá-lo”, disse Holmes, enquanto caminhávamos juntos pela charneca. “Que nervos tem esse sujeito! Como recobrou o autocontrole diante do que deve ter sido um choque paralisante, ao descobrir que o homem errado fora vitimado por sua trama. Eu lhe disse em Londres, Watson, e volto a dizer agora: nunca tivemos um adversário mais digno de nossa espada.”

“Lamento que ele o tenha visto.”

“Também lamentei a princípio. Mas não havia escapatória.”

“Que efeito pensa que terá sobre os planos dele o conhecimento de que você está aqui?”

“Isso poderá levá-lo a ser mais cauteloso, ou impeli-lo a tomar medidas desesperadas de imediato. Como a maioria dos criminosos inteligentes, ele pode confiar demais na própria astúcia e imaginar que nos enganou por completo.”

“Por que não o prendemos imediatamente?”

“Meu caro Watson, você nasceu para ser um homem de ação. Seu instinto é sempre tomar uma atitude enérgica. Mas supondo, para efeito de raciocínio, que o prendêssemos esta noite, de que nos valeria isso? Não poderíamos provar nada contra ele. Essa é a esperteza diabólica da coisa! Se ele estivesse agindo através de um agente humano, poderíamos obter algumas evidências, mas se arrastássemos esse enorme cão para a luz do dia, isso não nos ajudaria a enfiar uma corda no pescoço de seu dono.”

“Sem dúvida temos base para um processo.”

“Nem por sombra — apenas suposição e conjectura. Seríamos expulsos do tribunal às risadas se chegássemos com semelhante história e semelhantes evidências.”

“Há a morte de Sir Charles.”

“Encontrado morto sem uma só marca sobre si. Você e eu sabemos que ele morreu de puro pavor, e sabemos também o que o apavorou; mas como convencer disso doze impassíveis jurados? Que sinais há de um cão? Onde estão as marcas de seus caninos? Sabemos, é claro, que um cão não morde um cadáver, e que Sir Charles estava morto antes que o animal o alcançasse. Mas temos de provar tudo isso, e não temos condições de fazê-lo.”

“Mas e esta noite?”

“Não estamos em situação muito melhor hoje à noite. Novamente, não há nenhuma conexão direta entre o cão e a morte do homem. Nunca vimos o cão. Nós o ouvimos; mas não poderíamos provar que ele estava correndo no encalço desse homem. Há uma completa ausência de motivo. Não, meu caro amigo; temos de nos conformar com o fato de que não temos nenhuma causa no momento, e de que vale a pena corrermos qualquer risco para estabelecer uma.”

“E como pretende fazer isso?”

“Tenho grandes esperanças no que Mrs. Laura Lyons poderá fazer por nós quando a situação ficar clara para ela. E tenho meus próprios planos também.