Logo, ele desapareceu através da porta vermelha que levava da igreja ao claustro. Passada a surpresa inicial, uma das mulheres exclamou:

— Eu havia mesmo dito, irmãs, que este jovem sacerdote, Cláudio Frollo, é um feiticeiro!

Cláudio Frollo não era um personagem vulgar. Pertencente à pequena nobreza, desde a infância, ele havia sido destinado pelos pais à carreira eclesiástica. Era uma criança triste, solene e séria, que estudava com ardor e aprendia rapidamente. Assim, dedicou-se à teologia, à

medicina e às ciências.

Aos dezoito anos, a vida parecia ter um único objetivo para o jovem rapaz: os estudos. Foi por volta desta época que o verão excessivo de 1466 fez estourar a grande peste que matou mais de quarenta mil criaturas na cidade de

Paris. Correu um rumor na universidade de que a rua Tirechappe fora especialmente devastada pela doença. O jovem aluno deslocou-se, extremamente alarmado, à casa paterna. Quando entrou, o pai e a mãe já estavam mortos, enquanto o único irmão gritava, abandonado no berço. Era tudo o que havia restado de sua família. Cláudio pegou a criança nos braços e saiu, pensativo.

Tal catástrofe causou uma crise na vida do rapaz: órfão, herdeiro e chefe de família com dezenove anos. Piedoso, encheu-se de paixão e devoção para com o irmão. O pequeno que caía abruptamente do céu em seus braços fez dele um novo homem. A criatura frágil o comoveu até o fundo das entranhas e, pensador agudo que era, Cláudio pôs-se a refletir sobre Jean com uma misericórdia infinita. Dedicou-lhe preocupação e cuidado, como se faz a algo muito delicado. Foi mais do que um irmão para a criança, foi uma mãe. Cláudio contratou uma ama de leite para o menino e encarou a vida com muita seriedade. A lembrança do pequeno irmão tornou-se a finalidade de seus estudos, unindo-o mais do que nunca à vocação religiosa.

No momento em que retornava da missa, sua atenção foi chamada pelo grupo de velhas que murmuravam em torno do estrado onde eram depositadas as crianças enjeitadas. Foi então que se aproximou da pequena criatura infeliz. A aflição, a deformidade, o abandono, a recordação de seu jovem irmão, tudo aquilo falava a seu coração. Uma grande piedade o comoveu e ele carregou a criança.

Ao tirá-la do saco, achou-a bem disforme, de fato. O pobrezinho tinha uma verruga sobre o olho, a cabeça enterrada nos ombros, a coluna vertebral arqueada e as pernas torcidas, mas parecia ativo e, embora fosse impossível saber em que língua ele balbuciava, seu choro prenunciava alguma força e saúde. A compaixão de Cláudio cresceu com a feiúra do menino. Ele fez votos de criar a criança pelo amor de seu irmão. Ao batizá-la, deu-lhe o nome de Quasímodo tanto em homenagem ao primeiro dia depois da Páscoa, quanto por se tratar de uma criatura incompleta, um quase ser.

Em 1482, Quasímodo, já crescido, tornara-se o sineiro da catedral de Notre-Dame graças a seu pai adotivo, Cláudio Frollo, agora arcebispo.