Sacudiu com o lenço o pó esbranquiçado dos sapatos, puxou os punhos, e entrou muito vermelho numa larga sala com estofos de damasco amarelo; uma grande luz entrava das varandas abertas, e viam- se arvoredos de jardim. No meio da sala três homens de pé conversavam. Amaro adiantou-se, balbuciou:
- Não sei se incomodo...
Um homem alto, de bigode grisalho e óculos de ouro, voltou-se surpreendido, com o charuto ao canto da boca e as mãos nos bolsos. Era o senhor conde.
- Sou o Amaro...
- Ah, disse o conde, o Sr. padre Amaro! Conheço muito bem! Tem a bondade... Minha mulher falou-me. Tem a bondade.
E dirigindo-se a um homem baixo e repleto, quase calvo, de calças brancas muito curtas:
- É a pessoa de quem lhe falei. - Voltou-se para Amaro: - É o senhor ministro.
Amaro curvou-se, servilmente.
- O Sr. padre Amaro, disse o conde de Ribamar, foi criado de pequeno em casa de minha sogra.
Nasceu lá, creio eu...
- Saiba o senhor conde que sim, disse Amaro, que se conservava afastado, com o guarda-sol na mão.
- Minha sogra, que era toda devota e uma completa senhora - já não há disso! - fê-lo padre.
Houve até um legado, creio eu... Enfim, aqui o temos pároco... Onde, Sr. padre Amaro?
- Feirão, excelentíssimo senhor.
- Feirão?... disse o ministro estranhando o nome.
- Na serra da Gralheira, informou logo o outro sujeito, ao lado.
Era um homem magro, entalado numa sobrecasaca azul, muito branco de pele, com soberbas suíças dum negro de tinta, e um admirável cabelo lustroso de pomada, apartado até ao cachaço numa risca perfeita.
- Enfim, resumiu o conde, um horror! Na serra, uma freguesia pobre, sem distrações, com um clima horrível...
- Eu meti já requerimento, excelentíssimo senhor, arriscou Amaro timidamente.
- Bem, bem, afirmou o ministro. Há-de arranjar-se, - e mascava o seu charuto.
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