Quando ela era uma menina, todas as jovens de boa família se divertiam incrivelmente.

– Bem – disse Marjorie –, nenhuma garota pode apoiar permanentemente uma visitante sem esperança, porque hoje em dia é cada garota por si. Eu até tentei dar-lhe dicas sobre roupas e outras coisas, e ela ficou furiosa... lançando-me os olhares mais estranhos. Ela é suficientemente sensível para saber que não está conseguindo muita coisa, mas aposto que consola a si mesma pensando que é muito virtuosa e que eu sou muito alegre e volúvel e acabarei me dando mal. Todas as meninas impopulares pensam assim. Uvas azedas! Sarah Hopkins se refere a Genevieve, a Roberta e a mim como garotas fáceis! Aposto que ela daria dez anos de vida e de sua educação europeia para ser uma garota fácil e ter três ou quatro homens apaixonados por ela e ser tirada para dançar a cada poucos metros nos bailes.

– A mim me parece – interrompeu a sra. Harvey, bastante farta – que você deve ser capaz de fazer algo por Bernice. Eu sei que ela não é muito animada.

Marjorie bufou.

– Animada? Por Deus! Nunca a ouvi falar nada com um rapaz além de dizer que está quente ou que o salão está lotado ou que ela irá estudar em Nova York no ano que vem. Às vezes lhes pergunta que carro eles têm e conta que carro ela tem. É empolgante!

Fez-se um curto silêncio, e então a sra. Harvey retomou seu refrão:

– Tudo o que sei é que outras garotas muito menos meigas e atraentes conseguem parceiros de dança. Martha Carey, por exemplo, é robusta e escandalosa, e sua mãe, absolutamente medíocre. Roberta Dillon está tão magra este ano que parece que o Arizona é o lugar adequado para ela. Vai acabar dançando até morrer.

– Mas, mamãe – Marjorie protestou com impaciência –, Martha é alegre, extremamente inteligente e uma garota absolutamente brilhante, e Roberta é uma exímia dançarina. Ela é popular há eras!

A sra. Harvey bocejou.

– Acho que é aquele maluco sangue indígena de Bernice – prosseguiu Marjorie. – Talvez seja um retrocesso às origens. As mulheres indígenas apenas ficavam sentadas e nunca diziam nada.

– Vá para a cama, sua menina tola – riu a sra. Harvey. – Eu não teria lhe contado se achasse que você se lembraria disso. E acho que a maior parte das suas ideias são totalmente idiotas – concluiu, sonolenta.

Fez-se outro silêncio, enquanto Marjorie pensava se valia a pena tentar convencer a mãe. As pessoas com mais de quarenta raramente podem ser permanentemente convencidas sobre qualquer coisa. Aos dezoito anos, as nossas convicções são colinas das quais olhamos; aos 45, são cavernas dentro das quais nos escondemos.

Tendo decidido isso, Marjorie disse boa noite. Quando saiu do quarto, o corredor estava absolutamente vazio.

III

Enquanto Marjorie tomava um café da manhã tardio no dia seguinte, Bernice entrou dizendo um bom-dia bastante formal, sentou-se diante dela, ficou encarando-a atentamente e umedeceu levemente os lábios.

– O que você tem em mente? – inquiriu Marjorie, bastante intrigada.

Bernice fez uma pausa antes de atirar a granada de mão.

– Eu ouvi o que você disse sobre mim à sua mãe na noite passada.

Marjorie ficou surpresa, mas apenas ruborizou um pouco, e sua voz pareceu bastante inalterada quando ela falou.

– Onde você estava?

– No corredor. Não tive a intenção de escutar... inicialmente.

Depois de um involuntário olhar de desprezo, Marjorie baixou os olhos e ficou muito entretida em equilibrar um floco de milho no dedo.

– Acho que é melhor eu voltar para Eau Claire... se sou uma chateação tão grande. – O lábio inferior de Bernice tremia violentamente, e ela continuou, com a voz embargada. – Eu tentei ser gentil, e... e primeiro fui desprezada e depois insultada.