Ao me deitar, dizia a mim mesmo que, se Marthe costumava sonhar com o casamento antes de dormir, nessa noite o veria de modo diferente das anteriores. Quanto a mim, qualquer que fosse o resultado desse idílio, já me vingara antecipadamente de seu Jacques: imaginava a noite de núpcias naquele quarto austero, "meu" quarto!
Na manhã seguinte, espreitei na rua o carteiro que deveria trazer a comunicação de minha ausência. Tomei-a e a escondi no bolso, colocando as outras cartas na caixa do portão. Estratagema simples demais para não ser usado regularmente.
Faltar à aula queria dizer, para mim, amar Marthe. Mas me enganava. Marthe era apenas o pretexto. E a prova é que, depois de saborear a liberdade com Marthe, quis saboreá-la só, e em seguida fazer seguidores. A liberdade tornou-se rapidamente uma droga.
O ano letivo chegava ao fim, e eu via com terror que minha indolência ficaria impune, quando eu desejava a expulsão — um drama, enfim, para encerrar aquele período.
À força de viver com as mesmas ideias, de ver apenas uma coisa, se a desejamos com ardor não percebemos mais o crime que são nossos desejos. Sem dúvida, eu não procurava dar desgostos a meu pai; no entanto, desejava o que mais os daria. As aulas sempre foram um suplício para mim; Marthe e a liberdade acabaram por torná-las intoleráveis. Eu bem percebia que, se gostava menos de René, era porque ele me lembrava algo da escola. Eu sofria, e esse temor me fazia até mesmo fisicamente doente à ideia de retornar, no ano seguinte, à companhia estúpida de meus colegas.
Para desgraça de René, tive êxito em fazê-lo partilhar meu vício. Assim, quando ele, menos hábil do que eu, anunciou que fora expulso do Henri IV, acreditei tê-lo sido também. Era preciso informar a meu pai, pois ele apreciaria o fato de eu mesmo lhe dizer, antes da carta do censor, muito séria para ser interceptada.
Estávamos numa quarta-feira. No dia seguinte, em que não havia aula, esperei que meu pai fosse a Paris para avisar minha mãe. A perspectiva de quatro dias de comoções em casa preocupou-a mais do que a notícia. Depois fui para a beira do Marne, onde Marthe me dissera que talvez me encontrasse. Ela não estava. Sorte minha. Meu amor teria extraído desse encontro uma energia maléfica, e eu poderia depois brigar com meu pai. Ao passo que, se a tempestade rompesse após um dia triste e vazio, eu entraria em casa cabisbaixo, como convinha. Voltei pouco depois da hora em que meu pai chegava. Ele "já sabia", portanto. Passeei no jardim, aguardando sua chamada. Minhas irmãs brincavam em silêncio. Pressentiam alguma coisa. Um de meus irmãos, excitado já pela tempestade, disse-me para chegar ao quarto onde meu pai estava deitado.
Gritos, ameaças permitiriam que eu me revoltasse. Mas foi pior. Meu pai permaneceu em silêncio; em seguida, sem nenhum rancor, com uma voz mais suave do que de costume, falou: — Muito bem, o que é que você pretende fazer agora?
As lágrimas que não podiam sair por meus olhos zumbiam em minha cabeça, como um enxame de abelhas. A uma vontade eu poderia opor a minha, embora impotente.
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