↩
6. Entre outras funções, durante o inquérito cabe a um juiz de instrução: realizar o primeiro interrogatório judicial do detido; autorizar perícias e exames, buscas domiciliares, apreensões de correspondência; interceptação, gravação ou registro de conversas ou comunicações. ↩
7. Bairro chique de Paris, hoje parte do 7º arrondissement. ↩
8. Em 24 de dezembro de 1907, três anos antes da publicação de O Fantasma da Ópera, 24 discos 78 rotações, doados por Alfred Clark (diretor da filial francesa da Gramophone), foram selados em duas urnas lacradas e enterrados no subsolo da Ópera Garnier. Esse acervo, incrementado em 1912, era composto essencialmente de gravações líricas dos maiores cantores do início do séc.XX, como Enrico Caruso, Emma Calvé, Nellie Melba e outros. Testemunho para as gerações futuras, “a fim de mostrar aos homens dessa época qual era a voz dos principais cantores do nosso tempo”, não deveria ser aberto antes de cem anos, por vontade expressa de Alfred Clark. Redescoberto por ocasião de obras em 1988, foi confiado à Biblioteca Nacional Francesa. Transcorridos os cem anos, as urnas foram oficialmente exumadas em 19 de dezembro de 2007: abertas em 2008, as gravações dessas “vozes sepultadas” saíram em CD nesse mesmo ano pela EMI, herdeira da Gramophone. ↩
9. Período de insurreição na história de Paris que durou pouco mais de dois meses, de 18 de março de 1871 até a “Semana Sangrenta” (21-28 de maio). Essa revolta contra o governo (oriundo da Assembleia Nacional que acabava de ser eleita pelo sufrágio universal masculino) procurou implantar na cidade uma organização próxima da autogestão ou de um sistema comunista. A Comuna é em parte uma reação à derrota francesa na guerra franco-prussiana de 1870 e ao cerco de Paris, bem como uma manifestação da oposição entre a Paris republicana, considerada “vermelha”, e uma Assembleia Nacional de maioria monarquista. ↩
10. Eu seria um ingrato se, nos umbrais dessa história terrível e baseada em fatos verídicos, não agradecesse também à atual direção da Ópera, que se prestou amavelmente a todas as minhas questões, em especial o sr. Messager; também ao simpático administrador sr. Gabion e ao amabilíssimo arquiteto responsável pela boa conservação do monumento, que não hesitou em me emprestar os livros de Charles Garnier, mesmo tendo quase certeza de que eu não os devolveria. Resta-me, por fim, reconhecer publicamente a generosidade do meu amigo e ex-colaborador sr. J.L. Croze, que me permitiu ilustrar-me em sua admirável biblioteca teatral e ali consultar edições únicas, que ele prezava muito. (Nota do autor) ↩
1
SERÁ UM FANTASMA?
AQUELA NOITE, a noite em que os srs. Debienne e Poligny, diretores demissionários da Ópera,11 davam sua última festa de gala, por ocasião de sua partida, o camarim da Sorelli, um dos primeiros nomes da dança, foi subitamente invadido por meia dúzia de demoiselles do corpo de baile, que deixavam o palco após terem “dançado” Polyeucte.12 Precipitaram-se ali tumultuosamente, algumas emitindo risadas exageradas e pouco naturais, outras, gritos de terror.
A Sorelli, querendo um momento de sossego para “repassar” o elogio que deveria pronunciar dentro de instantes no foyer perante os srs. Debienne e Poligny, não gostara nada nada de ver aquela turba alvoroçada acorrer às suas saias. Preocupada com aquele frenesi, voltou-se às colegas. Foi a pequena Jammes – nariz apreciado por Grévin,13 olhos de miosótis, faces de rosa, garganta de lírio – que, com uma voz trêmula que sufocava a angústia, explicou tudo aquilo em três palavras:
– É o Fantasma!
E passou a chave na porta. O camarim da Sorelli era de uma elegância oficial e banal. Uma penteadeira, um divã, uma toalete e armários compunham a mobília necessária. Algumas gravuras nas paredes, recordações da mãe, que conhecera os belos dias da antiga Ópera da rua Le Peletier.14 Retratos de Vestris, Gardel, Dupont, Bigottini.15 Aquele camarim era um palácio para as meninas do corpo de baile, que se acomodavam em espaços comuns, onde passavam o tempo cantando, batendo boca, desancando cabeleireiros e figurinistas e pagando uma a outra copos de cassis ou cerveja ou mesmo rum, até o toque do sino de chamada.
A Sorelli era muito supersticiosa.
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