Tem um braço mecânico, pensei, e está sem ele agora. Mas logo vi que havia algo de estranho. Como é que a manga do casaco ficava erguida no ar e aberta, se não havia nada dentro dela? Nada, nada, isso eu garanto. Nada até a junta do cotovelo. Eu pude ver o interior da manga até ali, havia um rasgão no tecido e a luz entrava... Exclamei “Meu Deus!” e ele parou o gesto, olhou-me com aqueles óculos pretos que usa, e então olhou para a manga.
— E então?
— Isso foi tudo. Ele não disse uma palavra, ficou apenas me encarando e enfiou depressa a mão no bolso. “Bem, como eu estava dizendo”, disse ele, “eu estava trabalhando com essa receita e ela acabou se queimando”. Tossiu, como que me convidando a falar. “Como diabo”, disse eu, “como diabo você pode mexer uma manga vazia desse jeito?” “Manga vazia?” “Sim, uma manga vazia.”
“‘Então a manga está vazia?’, perguntou ele. ‘Você viu a manga vazia?’ E ficou de pé. Fiquei de pé também. Ele deu três passos, bem devagar, e parou perto de mim. Fungou com raiva. Eu não me mexi, mas quero ser enforcado se aquela cabeça coberta de faixas e aqueles óculos dele não deixam um sujeito nervoso, encarando-o ali, bem de frente.
“‘Você disse que viu uma manga vazia?’, ele insistiu. ‘Certamente’, eu disse. Um homem de rosto descoberto, sem óculos, encarando outro daquela forma, fica logo desconcertado. Então ele puxou bem devagar a manga do bolso e ergueu o braço como se quisesse me mostrar de novo. Fez isso muito lentamente. Pareceu levar séculos. ‘Bem?...’, eu disse, pigarreando, ‘está vendo? Nada dentro dela’. Afinal eu precisava dizer alguma coisa! Já estava amedrontado, de vez que podia enxergar a manga toda pelo lado de dentro. Ele a estendeu para mim, bem devagar... assim... até que o punho estava a alguns centímetros do meu rosto. É muito estranho ver uma manga vazia à nossa frente, daquele jeito! E então...
— Sim?...
— Uma coisa... uma coisa que parecia um polegar e um indicador... uma coisa apertou meu nariz!!!
Bunting explodiu numa gargalhada.
— Juro, não havia nada ali! — exclamou Cuss, com a voz se esganiçando no final da frase. — Para o senhor é muito engraçado, mas só posso dizer que me deu um susto medonho. Dei um tapa no braço dele e fugi daquela sala...
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