Bunting a uma ação decidida. Segurando o atiçador com firmeza, ele invadiu o escritório, seguido de perto pela esposa, e gritando com ferocidade: “Renda-se!” Então ele se deteve. Aparentemente não havia ninguém no aposento.
E no entanto a sua convicção de que um instante antes havia alguém se movendo ali equivalia a uma certeza. Por meio minuto, talvez, os dois ficaram ali parados, boquiabertos, e então a sra. Bunting atravessou o escritório para olhar atrás do biombo, enquanto o Reverendo, movido pelo mesmo impulso, agachou-se para espiar embaixo da escrivaninha. Então a sra. Bunting olhou atrás das cortinas da janela, enquanto ele olhava pela chaminé, cavucando-a com o atiçador. Depois a sra. Bunting esquadrinhou a cesta de papéis enquanto seu marido abria a tampa do depósito de carvão. Por fim os dois se imobilizaram e olharam-se com ar interrogativo.
— Eu seria capaz de jurar... — disse o sr. Bunting.
— E a vela? — retrucou ela. — Quem acendeu essa vela?
— E a gaveta? — tornou ele. — E o dinheiro, que não está mais lá?
Ela foi apressadamente para o saguão.
— De todas as coisas estranhas que já vi...
Nisso ouviu-se um tremendo espirro no corredor. Os dois correram precipitadamente para lá e ouviram a porta da cozinha bater com força.
— Traga a vela — ordenou o sr. Bunting, e seguiu na frente. Ouviu-se então o som de ferrolhos sendo abertos do outro lado da porta.
Quando abriu a porta da cozinha, ele viu que a porta dos fundos estava sendo aberta, e o clarão cinzento da alvorada mostrava as formas escuras do jardim lá fora. Ele teve certeza de que nada passou pela porta. Ela se abriu, ficou aberta por alguns instantes, e em seguida foi batida com força. Quando isso aconteceu, a vela que a sra. Bunting trouxera do escritório bruxuleou e apagou-se. Passou-se um minuto ou mais até que eles por fim entraram na cozinha.
E a cozinha estava deserta. Voltaram a trancar por dentro o ferrolho da porta dos fundos, examinaram toda a cozinha, a copa, o quartinho da pia, e finalmente desceram ao porão. Não havia vivalma no interior da casa, por mais que os dois procurassem.
A luz do dia veio encontrar o vigário e sua esposa, com roupas postas às pressas, ainda a percorrerem perplexos os aposentos da casa, portando uma vela acesa da qual não precisavam mais.
Capítulo VI
A mobília que enlouqueceu
Bem, acontece que no começo da noite da segunda-feira de Pentecostes, antes que Millie encerrasse o seu trabalho daquele dia, o sr. e a sra. Hall ergueram-se ao mesmo tempo e desceram juntos ao porão. O que iam fazer ali era um assunto privado, e tinha algo a ver com a densidade específica da cerveja servida aos fregueses. Mal tinham chegado lá embaixo quando a sra. Hall percebeu que se esquecera de trazer consigo a garrafa de salsaparrilha guardada no quarto conjugado que dividiam. Como era ela a especialista e principal executora daquele procedimento, coube a Hall a tarefa de subir novamente para trazer a garrafa.
Ao chegar ao patamar, ficou surpreso ao ver que a porta do estranho estava aberta.
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