Ele entrou em seu próprio quarto e encontrou a garrafa no local indicado pela esposa.

Ao descer, percebeu que os ferrolhos internos da porta da frente estavam destrancados, e a porta estava fechada apenas com o trinco. Com um relâmpago de inspiração, ele fez uma ligação entre esse fato, o aspecto do quarto do estranho no andar de cima e as teorias do sr. Teddy Henfrey. Porque ele recordava distintamente ter ficado segurando a vela enquanto a sra. Hall corria os ferrolhos, naquela mesma noite. Vendo como estava a porta naquele instante ele se deteve, surpreso, e depois, ainda com a garrafa na mão, subiu ao andar superior. Bateu à porta do estranho. Nada de resposta. Bateu de novo; e então abriu de vez a porta e entrou.

Como ele esperava, a cama e o quarto estavam vazios. E o que era mais esquisito, mesmo para sua mente um tanto opaca, é que sobre a cadeira e sobre a grade aos pés da cama estavam dobradas as roupas do hóspede, as únicas roupas que ele aparentava possuir, além das ataduras que o cobriam. Até mesmo seu chapéu de abas largas estava descuidadamente pendurado num dos postes da cabeceira.

Parado no meio do quarto, Hall ouviu a voz de sua esposa, lá do fundo do porão, produzindo aquela rápida escamoteação de sílabas, e a entonação interrogativa elevando as últimas palavras numa nota aguda, típicas dos habitantes do Sussex quando impacientes.

— George! Pegou o que eu pedi?

Ouvindo isso ele correu ao encontro dela.

— Janny — disse ele, dos degraus do porão —, é verdade o que Henfrey disse! Ele não está no quarto, e a porta da frente está destrancada!

A princípio a sra. Hall não o entendeu, mas assim que ele se explicou melhor ela resolveu ver o quarto com seus próprios olhos. Hall, ainda de garrafa em punho, foi na frente.

— Ele não está lá, mas a roupa está! — disse ele. — Para onde foi sem roupas?! É uma coisa esquisita.

Ao subirem os degraus do porão, ambos (como depois se verificou) julgaram ouvir a porta da frente se abrir e se fechar, mas, quando a viram fechada e sem ninguém nas proximidades, nenhum dos dois comentou o fato com o outro naquele momento. A sra. Hall ultrapassou seu marido no corredor e subiu as escadas primeiro. Nisso, ouviu-se um espirro em algum ponto nas proximidades. Hall, que subia logo atrás da esposa, pensou que tinha sido ela a espirrar. Ela, indo à frente, julgou que fosse o marido. Escancarando a porta, examinou o quarto.

— Muito curioso! — exclamou.

Ouviu alguém fungar às suas costas e, virando-se, admirou-se em ver o marido alguns metros atrás, ainda no degrau superior; mas logo ele juntou-se a ela. Entrando no quarto, a sra. Hall inclinou-se e pôs a mão sobre o travesseiro e embaixo das cobertas.

— Está frio — disse. — Ele saiu há uma hora ou mais.

Quando disse isso, um fato extraordinário aconteceu. As cobertas da cama mexeram-se, sua parte central ergueu-se no ar formando uma espécie de pico, e depois tudo aquilo voou por cima da grade, exatamente como se alguém as tivesse agarrado e jogado para longe. No mesmo instante o chapéu pousado no poste da cama também se ergueu, descreveu um voo no ar e chocou-se com o rosto da sra. Hall. O mesmo ocorreu com a esponja sobre a pia de rosto; e em seguida a cadeira jogou para longe as calças e o casaco nela pousados e, ao som de uma risada escarninha semelhante à do estranho, levantou-se no ar, pareceu fazer mira na direção da sra. Hall com suas quatro pernas e arremeteu. Ela soltou um grito e virou-se para correr, mas as pernas da cadeira a atingiram pelas costas, empurrando-a para fora do quarto juntamente com o marido, aos trambolhões. A porta bateu com violência e foi trancada por dentro.