Assim o sior vai saí na estrada bem perto do terreno do Seth — é só caminhá mais um poco pro otro lado.”

Armitage, na companhia de Rice e de Morgan, pôs-se a caminhar na direção indicada; e a maioria dos nativos acompanharam-nos a passos lentos. O céu começou a clarear, e havia sinais de que a tempestade estava chegando ao fim. Quando Armitage inadvertidamente tomou o caminho errado, Joe Osborn alertou-o e tomou a dianteira para mostrar a rota correta. A coragem e a confiança aumentaram, embora a escuridão na colina arborizada quase perpendicular que ficava próxima ao fim do atalho e em meio às fantásticas árvores ancestrais a que tiveram de se agarrar como se fossem corrimãos pusessem essas qualidades à prova.

Passado algum tempo o grupo chegou a uma estrada lamacenta e deparou-se com o nascer do sol. Estavam um pouco além da propriedade de Seth Bishop, porém as árvores entortadas e as pavorosas e inconfundíveis marcas não deixavam nenhuma dúvida quanto ao que havia passado por lá. Apenas breves momentos foram empregados no exame das ruínas logo depois da curva. Era uma repetição do incidente na casa dos Frye, e nada vivo ou morto foi encontrado nas estruturas em ruínas da casa e do galpão dos Bishop. Ninguém quis ficar por lá em meio ao fedor e ao muco pegajoso; em vez disso, todos se dirigiram como que por instinto rumo às horrendas pegadas que levavam em direção à propriedade destruída de Whateley e às encostas coroadas pelo altar da Sentinel Hill.

Enquanto passavam em frente à antiga morada de Wilbur Whateley, os homens estremeceram e pareceram mais uma vez misturar hesitação ao fervor que demonstravam. Não seria nada fácil seguir uma criatura do tamanho de uma casa que ninguém era capaz de ver e ao mesmo tempo era imbuída de toda a malevolência de um demônio. Em frente à base da Sentinel Hill a trilha afastava-se da estrada, e havia novas árvores entortadas e arbustos amassados ao longo do trecho que demarcava a rota tomada pelo monstro ao subir e descer a colina.

Armitage pegou um telescópio portátil de potência considerável e examinou a encosta íngreme e verdejante da colina. A seguir entregou o instrumento para Morgan, que enxergava melhor. Depois de olhar por um instante Morgan soltou um grito estridente e entregou o telescópio a Earl Sawyer enquanto apontava para um certo ponto da encosta. Sawyer, com a falta de jeito típica das pessoas desacostumadas a usar instrumentos ópticos, atrapalhou-se um pouco; mas por fim ajustou as lentes com o auxílio de Armitage. E seguida soltou um grito ainda menos contido que o de Morgan.

“Deus Todo-Poderoso, a grama e os arbusto ’stão se mexeno! Aquilo ’stá subino — devagar — se arrastano até o topo nesse exato instante, e só Deus sabe pra quê!”

Foi então que a semente do pânico espalhou-se entre os exploradores. Procurar a entidade inominável era uma coisa, porém encontrá-la era um tanto diferente. Os encantamentos podiam funcionar — mas e se falhassem? As vozes começaram a questionar Armitage sobre o quanto sabia a respeito daquela coisa, e nenhuma resposta parecia satisfatória. Todos pareciam sentir-se próximos a fases proibidas da Natureza e do ser e completamente fora da esfera de experiências humanas salubres.

* * *

No fim, os três homens de Arkham — o velho e barbado dr. Armitage, o atarracado e grisalho professor Rice e o magro e jovial dr. Morgan — subiram a montanha sozinhos. Depois de muitas instruções pacientes sobre a utilização e o ajuste do foco, deixaram o telescópio com o assustado grupo que permaneceu na estrada; e enquanto subiam eram vigiados de perto pelos homens encarregados do instrumento. A subida era difícil, e mais de uma vez Armitage precisou de ajuda. Muito acima do grupo uma grande área estremeceu quando a criatura infernal tornou a mover-se com a deliberação de uma lesma. Ficou evidente que os perseguidores estavam mais perto.

Curtis Whateley — da linhagem íntegra — estava de posse do telescópio quando o grupo de Arkham desviou radicalmente da trilha. Disse que sem dúvida os homens estavam tentando chegar a uma elevação secundária que sobranceava a trilha em um ponto à frente do local onde naquele instante os arbustos se dobravam. O palpite estava correto; e o grupo foi avistado na elevação secundária pouco tempo após a passagem da blasfêmia invisível.

Então Wesley Corey, que havia pegado o telescópio, gritou que Armitage estava preparando o aerosol que Rice tinha na mão, e que algo estava prestes a acontecer. A multidão agitou-se ao lembrar que o aerosol daria ao horror invisível uma forma visível por um breve momento. Dois ou três homens fecharam os olhos, mas Curtis Whateley voltou a atenção ao telescópio e forçou a vista ao máximo. Notou que Rice, daquele local favorável acima e atrás da entidade, teria uma excelente chance de espalhar o poderoso pó com o efeito desejado.

Os que não tinham acesso ao telescópio viram apenas o lampejo momentâneo de uma nuvem cinzenta — uma nuvem do tamanho de uma construção razoavelmente grande — próximo ao cume da montanha. Curtis, que estava segurando o instrumento, deixou-o cair com um grito cortante no barro que cobria a estrada até a altura dos tornozelos. Cambaleou e teria caído no chão se dois ou três homens não houvessem aparado a queda. Tudo que pôde fazer foi murmurar a meia-voz: “Ah, meu Deus… aquela cousa…

Houve um pandemônio de perguntas, e apenas Henry Wheeler lembrou-se de resgatar o telescópio caído e limpar o barro que o cobria. Curtis estava além de toda a coerência, e mesmo respostas isoladas pareciam ser demais para ele.

“Maior do que um galpão… todo feito dumas corda se retorceno… com o formato dum ovo de galinha maior do que qualqué otra cousa, com várias dúzia de perna, como barris que se fecho a cada passo… nada de sólido — todo gelatinoso, feito dumas corda que se agito bem junto umas das otra… co’uns olhos enorme e esbugalhado por toda parte… dez ou vinte boca ou tromba saino de toda parte nos lado, co’o tamanho duma chaminé cada, e todas se mexeno e se abrino e fechano… todo cinza, com uns anel roxo ou azul… e meu Deus do céu — aquele rosto pela metade em cima…!

Essa memória final, o que quer que fosse, foi demais para o pobre Curtis, que caiu desmaiado antes que pudesse dizer mais uma palavra.