São Paulo: Hedra, 2011.


LOVECRAFT, H.P. Lord of a Visible World: An Autobiography in Letters. Organização de S.T. Joshi e David E. Schultz. Athens: Ohio University Press, 2000.


LOVECRAFT, H.P. Nas montanhas da loucura. Organização, apresentação, apêndice e tradução de Guilherme da Silva Braga. São Paulo: Hedra, 2011.


LOVECRAFT, H.P. O chamado de Cthulhu e outros contos. Organização, apresentação e tradução de Guilherme da Silva Braga. São Paulo: Hedra, 2009.


LOVECRAFT, H.P. The Annotated H.P. Lovecraft. Anotado por S.T. Joshi. Nova York: Dell, 1997.


LOVECRAFT, H.P. Um sussurro nas trevas. Organização, apresentação, apêndice e tradução de Guilherme da Silva Braga. São Paulo: Hedra, 2010.

1

A introdução deste volume detém-se em uma análise da novela O horror de Dunwich e nas relações que mantém com outros escritos ficcionais, não ficcionais e pessoais de Lovecraft. Para informações mais genéricas sobre o autor, sugerimos a leitura do texto introdutório no volume O chamado de Cthulhu e outros contos (Hedra, 2009).

2

Citado em lovecraft (1997), p. 101.

3

Citado em lovecraft (2000), p. 240.

4

Citado em lovecraft (1997), p. 110.

5

Citado em lovecraft (1997), p. 112.

6

Citado em lovecraft (1997), p. 108.

7

Citado por clore, p. 270.

8

Citado por harms e gonce, p. 28.

O horror de Dunwich

Górgonas e Hidras e Quimeras — histórias terríveis sobre Celeno e as Harpias — talvez se reproduzam no imaginário da superstição — mas já existiam antes. Essas criaturas são transcrições, tipos — os arquétipos estão em nós e são eternos. De que outra forma a narrativa daquilo que em vigília sabemos ser falso seria capaz de nos causar temor? Será que concebemos um terror natural a partir destes objetos devido à capacidade que têm de nos causar danos físicos? De maneira alguma! Esses terrores são mais antigos. Encontram-se além do corpo — ou, na ausência do corpo, seriam os mesmos… Que o tipo de medo tratado aqui seja puramente espiritual — que ganhe força na medida em que se apresenta desprovido de um objeto na Terra, que predomine no período da nossa infância livre de pecado — eis as dificuldades cuja solução pode nos facultar um possível entendimento da nossa condição antemundana e enfim um vislumbre nas sombras da preexistência.

Charles Lamb, “Bruxas e outros temores noturnos”

* * *

Se ao passar a norte da região central de Massachusetts um viajante toma o acesso errado na bifurcação da estrada de Aylesbury, logo depois de Dean’s Corners, ele encontra um lugar solitário e curioso. A vegetação do solo fica mais alta, e os muros de pedra ladeados por espinheiros amontoam-se cada vez mais perto dos sulcos na estrada poeirenta e sinuosa. As árvores das várias faixas de floresta parecem grandes demais, e as ervas selvagens, arbustos e gramas atingem uma exuberância raramente vista em regiões habitadas. Ao mesmo tempo, os campos plantados parecem singularmente escassos e estéreis, enquanto as casas ostentam um aspecto surpreendentemente uniforme de antiguidade, sordidez e dilapidação. Sem saber por quê, o viajante hesita em pedir informações às figuras retorcidas e solitárias vislumbradas de vez em quando em soleiras decrépitas nas pradarias inclinadas e salpicadas de rochas. Essas figuras são a tal ponto silenciosas e furtivas que o viajante sente-se diante de coisas proibidas, com as quais seria melhor não ter nenhum contato. Quando uma elevação na estrada descortina as montanhas acima dos profundos bosques, a inquietação do forasteiro aumenta. Os cumes são demasiado curvos e simétricos para transmitir uma sensação de conforto e naturalidade, e às vezes o céu delineia com particular vividez os círculos dos altos pilares de pedra que coroam a maioria deles.

Vales e desfiladeiros de profundezas enigmáticas cruzam-se naquela direção, e as rústicas pontes de madeira parecem oferecer uma segurança duvidosa. Quando a estrada torna a descer surgem trechos pantanosos que causam uma aversão instintiva, e por vezes temores ao cair da noite, quando bacuraus invisíveis tagarelam e os vaga-lumes saem em uma profusão anormal para dançar ao ritmo estridente e obstinado dos sapos-boi coaxantes. A linha estreita e cintilante dos pontos mais altos do Miskatonic sugere os movimentos de uma serpente à medida que se aproxima dos sopés das colinas abobadadas em meio às quais se ergue.

À medida que as colinas se aproximam, o viajante percebe mais as encostas verdejantes do que os cumes coroados pelas rochas. Essas encostas são tão escuras e tão íngremes que o forasteiro deseja que se mantivessem ao longe, mas não há outra estrada por onde escapar. Do outro lado de uma ponte coberta, encontra um pequeno vilarejo aninhado entre o rio e a encosta vertical da Round Mountain e percebe um amontoado de mansardas apodrecidas que indicam um período arquitetônico anterior ao de toda a região circunjacente. Não é nada reconfortante ver, ao chegar mais perto, que a maioria das casas encontra-se abandonada e em ruínas, e que a igreja de coruchéu desabado abriga o único estabelecimento comercial decrépito do vilarejo. O túnel da ponte inspira o terror da incerteza, mas não há como evitá-lo.