— Venham aqui! — gritou Pilatos.
E quando o secretário e o corpo de tropas retornaram para seus lugares, Pilatos declarou que confirmava a sentença de morte, pronunciada na reunião do Pequeno Sinédrio, ao criminoso Yeshua Ha-Notzri, e o secretário anotou o que foi dito por Pilatos.
Um minuto depois, Marcos Mata-ratos estava diante do procurador. Pilatos ordenou-lhe que entregasse o criminoso ao chefe do serviço secreto, transmitindo-lhe a ordem do procurador para que Yeshua Ha-Notzri fosse separado dos outros condenados e também que o comando do serviço secreto, sob a ameaça de pena severa, estava proibido de conversar sobre qualquer coisa com Yeshua ou de responder a qualquer uma de suas perguntas.
Ao sinal de Marcos, o corpo de tropas cercou Yeshua e o levou para fora da varanda.
Depois, diante do procurador, apresentou-se um belo rapaz de barba loura com penas de águia no penacho do capacete, cabeças de leões douradas brilhando no peito, chapinhas douradas no cinturão da espada, os calçados de três solas amarrados até os joelhos e a capa púrpura jogada no ombro esquerdo. Era o legado que comandava a Legião.
O procurador lhe perguntou onde se encontrava a coorte de Sebastião naquele momento. O legado comunicou que os seguidores de Sebastião mantinham o cerco à praça em frente ao hipódromo, onde seria anunciada ao povo a sentença dos criminosos.
Então, o procurador ordenou que o legado separasse duas centúrias da coorte romana. Uma delas, sob o comando de Mata-ratos, deveria fazer a guarda dos criminosos e dos carros com os mecanismos para a execução e com os carrascos a caminho do monte Gólgota e, ao chegar lá, cercar a área por cima. A outra centúria deveria ser enviada imediatamente para o Gólgota e começar a fazer o cerco no mesmo instante. Para isso, ou seja, para a guarda do monte, o procurador pediu ao legado que enviasse um regimento auxiliar da cavalaria — a ala síria.
Quando o legado deixou a varanda, o procurador mandou o secretário chamar ao palácio o presidente do Sinédrio, dois de seus membros e o chefe da guarda do templo de Yerushalaim, acrescentando, porém, que tudo se desse de tal maneira que, antes da reunião com todas essas pessoas, pudesse falar com o presidente mais cedo e a sós.
A ordem do procurador foi cumprida rápida e precisamente, e o sol, que queimava Yerushalaim com uma severidade incomum nesses dias, ainda não conseguira se aproximar de seu ponto mais alto quando, no terraço superior do jardim, ao lado dos dois leões brancos de mármore que guardavam a escada, encontravam-se o procurador e o presidente interino do Sinédrio, o sumo sacerdote da Judeia, José Caifás.
Fazia silêncio no jardim. Mas, ao sair da colunata para a área superior do jardim, banhada pelo sol, com palmeiras sobre monstruosas patas de elefantes, Yerushalaim, que o procurador tanto odiava, se descortinava diante dele, com suas pontes suspensas, fortalezas e, principalmente, o indescritível bloco de mármore com escamas douradas de dragão como telhado. Era o templo de Yerushalaim, ao longe, abaixo, lá onde o muro de pedra separava os terraços inferiores do jardim do palácio da praça da cidade e de onde o procurador captou com o ouvido apurado resmungos baixos, sob os quais soavam, às vezes, ora gemidos, ora gritos, fracos e agudos.
O procurador compreendeu que uma multidão inumerável de habitantes de Yerushalaim, preocupada com as últimas desordens, já estava reunida na praça, e que essa multidão aguardava impacientemente o anúncio da sentença, e vendedores de água gritavam aflitos.
O procurador convidou o sumo sacerdote para a varanda para se proteger do calor impiedoso, mas Caifás desculpou-se educadamente e explicou que não poderia fazer isso na véspera da festa. Pilatos pôs o capuz em sua cabeça um pouco calva e começou a conversa. A conversa era em grego.
Pilatos disse que tinha examinado o caso de Yeshua Ha-Notzri e confirmara a sentença de morte.
Assim, três bandidos estavam condenados à pena de morte, que deveria ser executada naquele dia: Dismas, Gestas, Bar-Raban, e, além destes, esse Yeshua Ha-Notzri. Os dois primeiros, pela intenção de incitar o povo a se rebelar contra César, foram presos pelo poder romano em batalha e estavam na conta do procurador; consequentemente, não iriam falar deles. Os dois últimos, Bar-Raban e Ha-Notzri, foram capturados pelo poder local e julgados pelo Sinédrio. De acordo com a lei, de acordo com a tradição, um desses dois criminosos deveria ser posto em liberdade em homenagem à grande festa da Páscoa que se aproximava.
Então, o procurador queria saber qual dos dois criminosos o Sinédrio pretendia soltar: Bar-Raban ou Ha-Notzri?
Caifás inclinou a cabeça em sinal de que para ele a questão estava clara e respondeu:
— O Sinédrio pede que soltem Bar-Raban.
O procurador sabia muito bem que o sumo sacerdote lhe responderia exatamente assim, mas sua tarefa era demonstrar que tal resposta lhe causava espanto.
E foi isso que Pilatos fez com grande habilidade. As sobrancelhas em seu rosto soberbo se suspenderam, o procurador olhou com admiração diretamente nos olhos do sumo sacerdote.
— Reconheço que essa resposta me surpreendeu — disse o procurador suavemente. — Temo se não há algum mal-entendido.
Pilatos explicou-se. O poder romano não respeitava em nada os direitos do poder espiritual local, e o sumo sacerdote sabia muito bem disso. No entanto, nesse caso havia um erro evidente. E o poder romano, é claro, estava interessado na correção desse erro.
De fato, os crimes de Bar-Raban e Ha-Notzri eram de gravidade incomparável. Se o segundo era evidentemente um doente mental, acusado de pronunciar discursos absurdos que intimidavam o povo de Yerushalaim e de algumas outras localidades, o primeiro tinha mais agravantes. Além de realizar incitações diretas a rebeliões, também matou um soldado durante as tentativas de capturá-lo. Bar-Raban era incomparavelmente mais perigoso do que Ha-Notzri.
Pelo exposto, o procurador pedia ao sumo sacerdote que revisse a decisão e pusesse em liberdade o menos nocivo dos dois condenados, ou seja, sem dúvida, Ha-Notzri. Então?...
Caifás disse com voz baixa, mas firme, que o Sinédrio analisara atentamente o processo e que comunicava, pela segunda vez, que estava disposto a libertar Bar-Raban.
— Como? Mesmo depois da minha intercessão? Intercessão daquele que representa o poder romano? Repita pela terceira vez, sacerdote.
— Pela terceira vez comunico que libertaremos Bar-Raban — disse Caifás baixinho.
Tudo estava terminado e não havia mais sobre o que falar. Ha-Notzri partia para sempre, e as dores terríveis e malditas do procurador ninguém mais curaria; não há remédio para elas além da morte. Mas não foi esse pensamento que impressionou Pilatos. Toda aquela mesma tristeza incompreensível, que sentira na varanda, tomava conta de todo o seu ser. Imediatamente, esforçou-se para explicá-la, e a explicação era estranha: parecia-lhe vagamente que não terminara sua conversa com o condenado, ou, quem sabe, que não ouvira bem alguma coisa.
Pilatos afastou esse pensamento, que se foi tão rapidamente quanto veio. O pensamento voou, mas a tristeza permaneceu inexplicável, pois não podia ser explicada por outro breve pensamento que brilhou feito um raio e logo se apagou: “Imortalidade... chegou a imortalidade...” A imortalidade de quem chegou? Isso o procurador não entendeu, mas o pensamento sobre essa imortalidade enigmática o fez gelar sob o sol quente.
— Tudo bem — disse Pilatos. — Que assim seja.
Aqui ele olhou ao redor e lançou seu olhar para o mundo que lhe era visível e admirou-se com a mudança ocorrida.
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