O morro dos ventos uivantes: edição comentada (Clássicos Zahar)
Emily Brontë
O MORRO DOS
VENTOS UIVANTES
EDIÇÃO COMENTADA
Apresentação:
Rodrigo Lacerda
Tradução do romance:
Adriana Lisboa
Tradução dos anexos:
Maria Luiza X. de A. Borges
Notas:
Bruno Gambarotto

SUMÁRIO
Apresentação:
Emily e sua obra-prima, por Rodrigo Lacerda
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES
Anexos, por Charlotte Brontë
Nota biográfica sobre Ellis e Acton Bell
Prefácio do organizador à nova edição de O morro dos ventos uivantes
Cronologia: vida e obra de Emily Brontë
Apresentação
EMILY E SUA OBRA-PRIMA
NÃO É COMUM HAVER, na mesma família, grande concentração de talentos literários. Ainda mais raro, sobretudo na Inglaterra do século XIX, achar três irmãs escritoras. A raridade vira quase milagre quando as três são ótimas no que fazem. Mas esse é o caso das irmãs Brontë.
Seus pais, Patrick Brontë e Maria Branwell, vinham de meios muito diferentes. Ele, de origem humilde, era filho de camponeses pobres da Irlanda, cujo sobrenome gaélico Proinntigh foi inicialmente anglicisado para Prunty, ou Brunty. Educou-se com dificuldade, logrando porém frequentar o St. John’s College, em Cambridge, onde finalmente adotou o mais elegante e afrancesado Brontë. Tornou-se um homem culto, autor de poemas filosóficos e religiosos. Foi ordenado padre em 1807, serviu como cura em Essex e depois em Wellington, no condado de Shropshire, publicou um livro de poemas em 1811 e, no mesmo ano, tornou-se vigário em Hartshead, no condado de Yorkshire.
Maria Branwell, inteligente e muito lida, era neta de um bem-sucedido proprietário rural e mercador de chás. Vivia na pequena cidade de Penzance, no condado da Cornualha, onde fazia parte da elite local. A morte dos pais, com apenas um ano de intervalo entre um e outro, presumivelmente atrapalhou suas finanças, pois empregou-se como auxiliar de uma tia no gerenciamento dos serviços domésticos de uma escola – cozinha, arrumação, faxina etc.
Ambos muito religiosos, de confissão metodista, Patrick e Maria conheceram-se em Hartshead, em 1812, e casaram-se três meses depois. O casal Brontë teve ao todo seis filhos. Às duas mais velhas, Maria e Elizabeth, que morreriam ainda crianças, seguiram-se: Charlotte (1816-55), Patrick Branwell (1817-48), Emily Jane (1818-48) e Anne (1820-49) – todas elas poetas e romancistas, ele pintor e escritor.
Em 1818, quando Emily nasceu, a família já morava na vila de Thornton, também em Yorkshire. Dois anos depois, ao nascer a caçula Anne, o pai conquistou a posição de cura perpétuo, uma espécie de funcionário eclesiástico superior, da igreja de St. Michael and All Angels, na vila de Haworth, a aproximadamente doze quilômetros de distância. Para lá, então, mudaram-se os Brontë. A felicidade não durou muito. Em 1821, quando Emily tinha apenas três anos, a família foi abalada pela morte da mãe, de câncer.
As três irmãs mais velhas foram prontamente matriculadas num colégio interno, onde durante três anos sofreram abusos e passaram por privações. Aos seis anos, em 1824, Emily juntou-se a elas. Seu curto período na escola foi interrompido por um surto de febre tifoide – ou de tuberculose, as fontes divergem –, que mandaria todas elas para casa. Maria e Elizabeth não resistiram e morreram em pouco tempo. Emily, por sorte, não contraiu a doença.
A partir daí, as irmãs Brontë e o menino Branwell foram educados em casa, pelo pai e por uma tia, Elizabeth Branwell, irmã da falecida mãe. Reza a lenda que Emily, durante três anos, falou apenas com os familiares e os empregados, mais ninguém de fora. Talvez tenha puxado do pai e da tia uma certa inclinação antissocial. Patrick Brontë era um homem severo, de hábitos austeros e recolhido, que passava dias fechado no escritório, onde as crianças jamais podiam incomodá-lo, e jantava sozinho em seu quarto. Também a tia costumava fazer as refeições isolada, sem a companhia dos sobrinhos. Num cômodo à parte, entre uma lição e outra, inclusive de piano e prendas domésticas, as meninas e o irmão faziam companhia uns aos outros, arrumando maneiras alternativas de passar o tempo, entre as quais a leitura dos expoentes do romantismo inglês, como Walter Scott, Lord Byron e Percy B. Shelley, a elaboração de jogos, a composição de poemas e as representações teatrais.
Dessa fase de suas vidas surgiram dois “ciclos” de histórias, escritas e encenadas pelas quatro crianças.
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