Linton insistiu peremptoriamente que Isabella fosse para a cama e, dando-lhe uma bronca, ameaçou mandar chamar o médico.
Ante a menção do dr. Kenneth, ela exclamou no mesmo instante que sua saúde estava perfeita e que era somente a aspereza de Catherine que a tornava infeliz.
– Como pode dizer que sou áspera, sua malcriada? – exclamou a patroa, espantada com a afirmação nada razoável. – Deve estar perdendo o juízo. Quando é que fui áspera, diga-me?
– Ontem – soluçou Isabella. – E agora!
– Ontem! – disse a cunhada. – Em que ocasião?
– Quando fomos caminhar na charneca. Você me disse para ir aonde quisesse, enquanto passeava com o sr. Heathcliff!
– E é a isso que chama ser áspera? – indagou Catherine, rindo. – Não foi uma sugestão de que sua companhia era dispensável. Não nos importava que viesse conosco ou não; apenas achei que a conversa de Heathcliff não teria interesse algum para você.
– Ah, não – chorou a jovem –, você quis me afastar, porque sabia que eu queria ir também!
– Ela perdeu o juízo? – perguntou a sra. Linton, dirigindo-se a mim. – Vou repetir nossa conversa, palavra por palavra, Isabella, e você me diga que interesse poderia ter para você.
– Não me interessa a conversa – respondeu ela. – Eu queria estar com...
– Sim? – incitou Catherine, percebendo que a outra hesitava em completar a frase.
– Com ele; e não vou mais tolerar ser mandada embora! – prosseguiu ela, mais exaltada. – Você é uma egoísta, Cathy, e não quer que ninguém mais seja amado além de você mesma!
– Que garota impertinente! – exclamou a sra. Linton, surpresa. – Mas não vou acreditar nesse disparate! É impossível que deseje a admiração de Heathcliff... que o considere uma pessoa agradável. Acho que não entendi bem, Isabella.
– Entendeu sim, muito bem – disse a jovem enamorada. – Eu o amo mais do que você jamais amou Edgar, e ele poderia vir a me amar, se você deixasse!
– Pois por nada deste mundo eu gostaria de estar na sua pele! – declarou Catherine, enfaticamente, e com aparente sinceridade. – Nelly, ajude-me a convencê-la de sua insensatez. Diga-lhe quem é Heathcliff, uma criatura bruta, sem refinamento, sem cultura; um árido matagal de tojo e pedra dura. Há tanta chance de eu colocar aquele canarinho no parque num dia de inverno quanto de recomendar que entregue seu coração a ele! Foi uma ignorância deplorável da personalidade dele, mocinha, e nada mais, o que meteu esse sonho na sua cabeça. Eu lhe peço, não imagine que ele esconde um interior de benevolência e afeição sob uma aparência severa! Ele não é um diamante bruto ou uma ostra que contém uma pérola. É um homem feroz e implacável. Nunca digo a ele, “Deixe este ou aquele inimigo em paz, porque seria mesquinho ou cruel fazer-lhe mal”; digo, “Deixe-o em paz porque eu detestaria vê-lo ser prejudicado”. E ele haveria de esmagá-la como ao ovo de um pardal, Isabella, se achasse incômoda sua presença. Sei que ele não tem condições de amar um Linton; ainda assim, seria capaz de desposar sua fortuna e suas expectativas... a avareza está se tornando um pecado constante na atitude dele. Isto é o que penso, e sou amiga dele... tanto que, se ele tivesse tentado seriamente conquistá-la, eu teria talvez ficado calada e permitido que você caísse em sua armadilha.
A srta.
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